sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Beata Joana de Aza, mãe de São Domingos de Gusmão – 2 de agosto

      Não se tem muita informação sobre Joana de Aza - que alguns chamam de santa e outros de beata.  O que se sabe principalmente é que foi mãe do grande São Domingos de Gusmão e que era uma mulher virtuosa, muito compassiva.   Seu pai era D. Garcia Garcés, senhor do condado de Aza, marechal-mor de Castela e tutor do rei Afonso VIII, e sua mãe Da. Sancha Bermúdez de Trastamara. Joana nasceu, portanto, no seio de uma família nobre, várias vezes entrelaçada com a casa real de Castela. Seu ano de nascimento deve ter sido 1140.   Aos vinte anos Joana de Aza se casou com D. Félix Ruiz de Gusmão, senhor de Caleruega. Dante saudou este nobre consórcio no seu Paraíso. Os seus nomes estavam cheios de simbolismos: Félix, "feliz", Joana, "o senhor é a sua graça".   O casal vivia em Calaruega e ali nasceram seus filhos. O mais velho, Antônio (venerável), foi sacerdote e consagrou a vida aos peregrinos e aos enfermos que iam ao sepulcro de São Domingos de Silos, próximo de Caleruega. O segundo, Manes, ou Mamerto (beato). seguiu o irmão mais novo e se fez dominicano. São Domingos foi o terceiro dos irmãos e recebeu este nome (que significa homem do Senhor) por causa de um sonho que sua mãe teve nos meses que precederam o seu nascimento.

     É muito conhecido o fato: Joana sonhou que levava em seu seio um cachorrinho (alguns dizem que ele era branco e preto) portando uma tocha acesa em sua goela, e que ele saia incendiando o mundo. Joana se assustou e foi rezar a São Domingos de Silos, morto cem anos antes, na abadia beneditina que conserva o túmulo do fundador. Fez uma novena e parece que prometeu que o filho haveria de ter o mesmo nome do Santo.
     Esta santa mãe não podia prever que seu filho haveria de eclipsar o bom São Domingos de Silos, sob cuja proteção nasceria. Mas, no céu os Santos não se preocupam com as glórias terrenas. O certo é que a criança foi protegida por São Domingos de Silos: a mãe foi consolada, o menino nasceu e iluminou o mundo com sua santidade.
     O costume das mulheres que preveem partos difíceis se dirigirem aos monges de Silos pedindo fitas que tenham sido tocadas nas relíquias do Santo continua até os dias de hoje. Elas as conservam até o momento de darem à luz e muitas vezes sua confiança é recompensada.
     O nascimento de Domingos deu-se no dia 24 de junho, dia de São João Batista, o precursor. Domingos também haveria de ser uma voz que endireitava caminhos: fundaria a Ordem dos Irmãos Pregadores, ou Dominicanos.
     Várias circunstâncias milagrosas cercaram o batizado do Santo. No dia de seu batizado, ocorrido em Caleruega, o celebrante que rezava a Missa de ação de graças equivocou-se: por três vezes, ao dirigir-se ao povo, ao invés de dizer Dominus vobiscum, dizia Ecce reformator Ecclesiae. Isto é, em vez de anunciar aos fiéis que o Senhor estava com eles, dizia que ali estava o reformador da Igreja. A madrinha viu uma estrela sobre a cabeça do menino.
     Joana foi com o marido a Silos para agradecer ao Santo tal nascimento, e Deus abençoou ainda mais tarde essa união: dois sobrinhos de São Domingos também se tornariam dominicanos.
     Joana criou Domingos com o próprio leite, formou-o com o seu coração e a sua inteligência; levava com frequência o pequeno a Ucclés, ao túmulo do seu tio-avô, o Beato Pedro. A tradição popular conservou naquele local um eremitério da Beata Joana e uma fonte de São Domingos.
     Mas, o menino não viveria muitos anos com seus pais. Aos sete anos, Joana o confiou a um irmão seu, pároco de Gumiel de Izán. Este se encarregou da educação do pequeno Domingos. Não havia então escolas nos povoados e era preciso que ele se armasse da palavra para combater as heresias.
     De sua mãe deve ter aprendido, quando pequenino, a virtude da compaixão. Aos catorze anos, Domingos viu um dia que, devido à grande seca, o povo sofria de uma fome terrível. Vendeu todos os seus livros, todos os seus pergaminhos, pois dizia "Não quero peles mortas quando vejo perecer as vivas".
     Mais do que ter dado à luz São Domingos de Gusmão, Joana, com seu exemplo, foi a luz que iluminou sua infância. Ela era uma grande mestra da caridade alegre e compassiva. Com grande confiança se aproximavam de Joana os pobres, os débeis, os doentes. Sabiam por experiência própria que aquela mulher dominava a arte de dar. Com um sorriso nos lábios, com simplicidade ela dava o que possuía.
     Uma história na qual a Beata Joana assume o papel principal, é-nos narrada por Rodrigo de Cerrato, que esteve em Caleruega por volta de 1272 para obter informações sobre a infância de São Domingos.
     O esposo de Joana, D. Félix, senhor de Caleruega, possuía uma farta adega, pois o vinho era reconfortador após um dia de fadigas. E ele apreciava o bom vinho.
     D. Félix estava ausente e, quando os pobres procuraram por Joana, ela lhes deu o vinho do esposo, além de outras coisas costumeiras.  Os historiadores relatam que além das esmolas, repartiu o vinho; além dos socorros, a alegria do bom vinho. O vinho que consolava o coração de D. Félix consolaria também os corações dos que não tinham vinho.
     Aconteceu de chegar D. Félix com sua comitiva e, na presença de todos, pediu à esposa que lhe trouxesse um pouco daquele vinho que tinha na adega. Talvez ele soubesse da generosa distribuição que a esposa fizera... O fato é que a pobre Joana desceu até a adega - e em que estado pode-se imaginar - e pediu a ajuda de Deus Nosso Senhor. Ele seria menos generoso do que Joana? Ela encontrou vinho no barril e D. Félix pôde alegrar seu coração com o bom vinho! Dizem as crônicas que todos reconheceram a santidade de Joana de Aza e deram graças por tudo.
     À semelhança dos outros dados biográficos também se desconhece a data da morte da Beata Joana. Apenas se sabe que quando o filho Manés regressa a Caleruega em 1234, já depois da canonização do irmão São Domingos, encontra a sepultura da mãe junto da igreja paroquial. É possível que tenha sido por essa data, e face ao projeto de construir uma igreja em honra do novo santo, que os restos mortais da Beata Joana tenham sido trasladados para o Mosteiro de São Pedro de Gumiel de Izan, no qual repousavam os demais membros da família no panteão que ali tinham instituído.
     Será deste panteão familiar que em meados do século XIV, o Infante Dom João Manuel, os trasladará para a igreja do convento de São Paulo de Peñafiel, fundado por ele nessa vila para os frades dominicanos. Ali repousaram numa bela capela dentro da igreja durante seis séculos, regressando em 1970 a Caleruega e ao Mosteiro das Monjas Dominicanas, onde hoje se encontram.
     No dia 1 de outubro de 1828, o Papa Leão XII, a pedido da Ordem Dominicana e dos grandes de Espanha, incluído o rei Fernando VII, aprovou o culto da Beata Joana, um culto que era já bastante popular na zona de Caleruega e povoados vizinhos, em grande medida devido à proteção alcançada de Dona Joana, mãe de São Domingos, por ocasião de graves pestes e fomes ocorridas ao longo dos séculos.
     Mesmo depois de morta não cessaram de pedir-lhe coisas: os lavradores invocavam-na pedindo a fertilidade das terras; quando faltava a chuva, lembravam-se de recorrer a Joana; quando os gafanhotos apareciam, procuravam por ela... E a Beata Joana de Aza, como uma boa mãe de família, atendia aos pedidos de seus filhos, e continua até hoje a atendê-los!
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