Não assistimos a uma Semana Santa. Devemos dizer: Celebramos o Mistério Pascal de Cristo, isto é, sua Vida, Morte, Ressurreição, Ascensão e Glória junto ao Pai. Ao celebrarmos tão preciosa presença redentora de Jesus, Filho de Deus, aprendemos e participamos de seu Mistério. A participação nos dá a Vida. Pela fé realiza-se em nós o que aconteceu em Jesus. Cristo vive em nós e nós vivemos sua Vida. Isto acontece pela Memória que torna presente o que aconteceu em Cristo. O termo memória é próprio da celebração cristã, vinda do judaísmo. Moisés manda celebrar a Páscoa na saída do Egito. Isso será um memorial para vós (Ex 12,14). O judeu, ao celebrar a Páscoa, diante do pedido de explicação do porquê da celebração, responde: “Eu era prisioneiro do Egito e Deus com mão forte me salvou” (Ex 12,26-27). Paulo ensina: “Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória. Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor até que Ele venha” (1Cor 11,25). Paulo diz que recebeu esse ensinamento pela tradição. Jesus dissera na Ceia: “Fazei isto em minha memória (Lc 22,19). É o Espírito quem realiza a Memória. Pela Palavra de Deus conhecemos o Mistério. Por nossa adesão de fé estamos em Cristo. Vivemos Seu Mistério e o anunciamos por nossas atitudes e palavras. Participar não é ir à Igreja, mas deixar que o Espírito nos conduza. Não estamos fazendo de conta na Celebração. O ato litúrgico tem a presença do que aconteceu com Jesus. Não é uma repetição do fato acontecido, mas presença de sua ação redentora. Pois Ele mandou que fosse assim.
Um caminho de redenção
A oração do inicio da celebração da Sexta-Feira Santa nos leva a dizer: “Ó Deus, foi por nós que o Cristo, vosso Filho, derramando o seu sangue, instituiu o mistério da Páscoa. Lembrai-vos sempre de vossas misericórdias e santificai-nos pela vossa constante proteção”. Celebramos um único Mistério na Ceia, na Morte, Sepultura e Ressurreição. É a passagem (Páscoa) de Cristo ao Pai. Cristo realizou a redenção da humanidade de uma vez por todas ao entregar-se ao Pai pelo mundo. Cristo, em sua Páscoa, uniu a Si todos nós. Ninguém ficou ausente de seu sacrifício. Ele levou cativo o cativeiro (Ef 4,8), isto é, tomou para Si os que eram prisioneiros do mal. Jesus não é um personagem a mais da história. Ele é a presença de Deus que a restaura. Ao celebramos os sacramentos, de modo particular a Eucaristia, temos presente e participamos misticamente de todos os bens espirituais que nosso Redentor nos conquistou. Ele venceu o mal e a morte.
Até que Ele venha
A Semana Santa não se mede pela dore pelo sentimento, mas pela consciência de um mistério que nos toca pessoalmente. O que é para toda Igreja, é para cada um individualmente. Para Cristo aconteceu em fatos, para nós acontece através dos símbolos. Os símbolos não são só figuras. São ações visíveis que explicam o invisível. No Tríduo Pascal a celebração culmina na liturgia da Vigília Pascal, não qual celebramos a Ressurreição. Sem ela, a morte de Cristo, seria uma morte a mais. As leituras nos colocam na promessa e na realização do desígnio de Deus para Cristo em nossa salvação. A Ressurreição é a explosão da força redentora da qual participamos. Por ela recebemos a Vida. Rezamos no Domingo da Páscoa: “Por vosso Filho, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a Ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luza da Vida nova” (oração). O Mistério Pascal acontece em nós.
ARTIGO PUBLICADO EM ABRIL DE 2014
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