terça-feira, 23 de janeiro de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “Eram um só coração”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Como Jesus queria
O tempo pascal convida-nos a um aprofundamento de nossa inserção no Mistério Pascal de Cristo que aconteceu para nós no batismo. A comunidade dos que creem em Cristo é um fenômeno social, pois se trata de pessoas. Mas, antes de tudo, é Corpo de Cristo. Regida pela fé e pela caridade, esta comunidade tem um modo próprio de ser que a faz retrato vivo do ensinamento de Jesus. S. Lucas recorda com carinho a vida dos primeiros cristãos. Esta memória torna-se, para os seguidores de Jesus, um modelo para a comunidade. Os cristãos testemunhavam a comunhão de bens: “Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era comum entre eles... Entre eles ninguém passava necessidade, (At 4.32.34). Há, na sociedade, uma preocupação crescente com a solução dos problemas dos necessitados. Infelizmente os cuidados maiores são para salvar os ricos, seus bancos, suas grandes empresas. A fonte da comunhão é a fé e o amor: “Todo o que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus e todo o que ama ao que gerou ama também o que dele nasceu” (1Jo 5,1). A fé em Jesus está unida ao amor ao próximo que é amor de comunhão. Dizer como Tomé “meu Senhor e meu Deus” dá a força dizer: “Sou teu irmão” e fazer comunhão com o outro, como se faz com Deus: “Quem ama Deus, ame também seu irmão” (1Jo 4,21). Crer em Jesus é criar comunhão de vida e de bens. Não basta jogar algumas migalhas da mesa farta do primeiro mundo para os lázaros das populações pobres. A comunidade era do jeito que Jesus era e queria. É uma bela lembrança e um projeto seguro para a transformação do mundo. Tivemos e temos teorias sociais boas. Por que não experimentar a de Jesus. Dá certo se moldada na fé e no amor de serviço. 
Nossa vitória, nossa fé 
Em nossa sociedade, a individualidade assumiu um tipo de individualismo feroz que destrói qualquer base de comunidade. Este individualismo entrou inclusive na prática religiosa e espiritual. Este texto de Lucas é uma crítica a esta mentalidade. João escreve: “Quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” Podemos rezar no salmo a necessidade de colocar Jesus como fundamento: “A pedra que os pedreiros rejeitaram, tornou-se agora a pedra angular” (Sl 117). Jesus é fundamento em seu mistério de Morte e Ressurreição. A fé católica tem que ser professada e realizada com a mentalidade de Jesus que é a misericórdia. O anúncio que Jesus vive, deve partir da vida da comunidade que crê e ama. 
Crendo tereis a vida 
No dia da Ressurreição Jesus apareceu aos discípulos “...soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo! A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20,22-23). A reconciliação não é só um perdão dado em voz baixa num confessionário, mas a proclamação no topo do mundo da reconciliação trazida pela Ressurreição de Jesus. Essa reconciliação é a condição primeira para a comunhão de vida e bens. É bem mais cômodo administrar esse santo sacramento da penitência rapidinho, do que criar um mundo reconciliado. A redenção que Jesus oferece foi no alto da cruz e, por isso, orientada para os 4 cantos do universo. À medida que o mundo promove a comunhão dos bens para a vida de todos, está se abrindo ao Espírito do Deus reconciliador e misericordioso. 
Leituras: Atos 4,32-35; Salmo 117; 
1Jo5,1-6; João 20,19-31 
1. Para aprofundar o mistério Pascal de Cristo em nossas vidas, temos que passar pela comunidade que põe em ato o que Jesus ensinou e viveu. Este é o maior testemunho. A comunidade vivia a comunhão de bens. A fonte da comunhão é a fé e o amor. O projeto de Jesus para a transformação do mundo é seguro e dá resultados. 
2. O individualismo invadiu na sociedade e entrou também na Igreja. Vamos vencer o mundo pela fé. Se quisermos construir com segurança temos que ter Jesus como pedra angular. Jesus é o fundamento em sua Morte e Ressurreição. Se Ele venceu a morte, por que não pode dar a vida? 
3. O Espírito Santo dado para o perdão dos pecados não se reduz ao sacramento da penitência, mas ao projeto de reconciliação do mundo. À medida que o mundo promove a comunhão de bens para a vida de todos, está se abrindo ao Espírito do Deus reconciliador e misericordioso. 
Crer para ver 
Tomé, muito sabido, só acreditaria que Jesus estava vivo se tocasse nas marcas dos cravos e no buraco que a lança lhe fizera em seu peito. Tinha razão porque a fé na ressurreição exige que se creia que o que está vivo é o que estivera morto. Tomé diz: Meu Senhor e meu Deus! Ele, em nome de todos nós faz a primeira profissão de fé no Ressuscitado como Deus. A fé em Jesus não é somente um pensamento, algo interior, mas vai ao concreto da vida da comunidade que o Ressuscitado reuniu. Todos tinham um só coração e uma só alma. A fé na Ressurreição se manifesta na vida da comunidade, pois ela é sinal da presença do Ressuscitado. Nela podemos tocar o Cristo vivo, pois como escreve João amamos Aquele que foi gerado de Deus. Amar seus mandamentos é constituir a comunidade de amor.
Homilia do 2º Domingo da Páscoa (15.04.2012)

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