A comunidade é Corpo de Cristo com o qual está em contínuo diálogo com o Pai. Através do Espírito Santo ouve e responde amorosamente ao Pai. Jesus, durante sua vida na terra, continuava em diálogo com o Pai, isto é, rezava. Quando voltou para o Pai, deixou-nos sua oração. Não uma oração qualquer, mas sim, a Sua. Rezamos com Ele ao Pai. Quando ensinou o Pai-nosso Ele não disse Pai meu, mas nosso. O mesmo Espírito que ora em Cristo, ora em nós com palavras que não conseguimos falar, pois não temos palavras suficientes para nos exprimir (Rm 8,26). Jesus insiste que oremos sem cessar, sem esmorecer (Lc 18,1) para estar em diálogo com o Pai. Esse diálogo vai além da misteriosa ação do Espírito e acontece no dia a dia. É um dom para os filhos de Deus. Eles podem falar com o Pai de tantos modos. O importante é que continuem orando. A comunidade apostólica era “perseverante no ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). Ser perseverante não é ficar o tempo todo dizendo coisas a Deus, mas ter no interior essa capacidade de entrar em diálogo com Deus, com palavras próprias ou dos outros. A necessidade de rezar não vem de uma obrigação, mas de uma exigência de nosso ser espiritual. É a respiração do corpo. O Corpo de Cristo, unindo todos os membros pela ação do Espírito, respira pela oração. Por isso tem de ser permanente. É o ar, pois o Espírito é a respiração. Por ela se mantém vivo todo o Corpo, a comunidade. Nossa oração é a que Jesus faz diante do Pai. Ela tem a característica de Filho amado e querido que tem seu “Abba” muito próximo. Abba quer dizer paizinho. Era íntimo. Imagino que nossas orações perderam essa dimensão. Por isso se tornam tão insípidas. Não têm o mel do amor filial. Repetimos fórmulas. Citamos textos. Deus já conhece a bíblia, aliás, andou escrevendo. Ele quer saber de nós, de nossa vida. Rezar é contar para Deus tudo o que somos, fazemos e temos.
Viver juntos a salvação
A salvação que nos foi conquistada por Jesus não é algo individual. Mesmo que cada um seja responsável por si e por suas ações, nós nos salvamos como povo de Deus, como comunidade, Corpo de Cristo. Na realidade, já estamos salvos, pois Cristo nos salvou. A nós compete acolhermos essa salvação e vivermos uma vida de salvos, buscando as coisas do alto (Cl 3,1). Essa salvação é viver a vida no amor, construindo a fraternidade e levando aos outros o conhecimento dessa vida que Cristo nos conquistou. A vida interior reflete-se na comunidade em que vivemos. Nós somos responsáveis uns pelos outros. A vida de Deus em nós torna-se vida para os que estão conosco. Vivemos juntos a salvação. O fato de nos interessarmos em oferecer-lhes a vida que temos é sinal que a vivemos. Se anunciarmos aos outros é para vivermos a mesma vida. Rezar é também falar de Deus aos outros. Isso é salvação. Quem reza se salva e salva os outros.
Construindo a história da Salvação
A história desse diálogo com Deus em oração regula nossa vida. À medida que nos unimos a Deus pela oração, fazemos a história da salvação. Continuar a história é levar adiante o modo como Deus nos salvou: dando-nos o Filho. Deus é amor e doação. Se entrarmos no círculo do diálogo amoroso de Deus com seu povo, nós o repetimos em nós. Fazemos nossa essa história do passado que então se torna presente. Como corpo nós salvamos porque oramos como corpo. Rezar sempre é salvar o mundo.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM AGOSTO DE 2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário