Jesus, na sinagoga de Nazaré, dá seu programa: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos” (Lc 4,18-19). A redenção vem como cura de todos os tipos de males. Assim ele fez: Passou entre nós “fazendo o bem e curando todos aqueles que tinham caído no poder do diabo, porque Deus estava com Ele” (At 10,38). Mais que curar os males, Jesus transmitia a vida. O mundo, mesmo no meio de tantas loucuras, é muito bom. “Deus viu tudo o que fizera e eis que era tudo muito bom” (Gn 1,31). A situação de dramaticidade não lhe tira a bondade. Esses males provocam a anunciar e a implantar o Reino de Deus. O mundo padece: guerras, fome, sede, doenças endêmicas, falta educação, moradia, trabalho, segurança, devastação e tantas coisas mais. Esse sacramento do Cristo que cura, leva-nos a promover a vida. Todos os sacramentos são, na sua variedade, expressão do único Sacramento – Jesus Cristo. A Unção dos Enfermos quer promover a vida que continua na eternidade. Por isso reza: “concedei-lhe plena saúde de alma e de corpo a fim de que restabelecido pela vossa misericórdia, possa retomar as suas atividades”. A fórmula do sacramento proclama: “Por esta santa Unção e pela sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e na sua bondade alivie os teus sofrimentos” (Fórmula e oração da Unção dos Enfermos). Os males cobram de nós uma cura. Jesus dá-nos o poder de não só sacramentar um doente, mas as doenças.
Solidão que nos chama
Há sofrimentos do abandono e da solidão, silenciosos que ferem o coração e destroem a vida. Quem sabe são piores que a dor do corpo e os males que nos fazem passar necessidades. Esse mal da solidão não escolhe classe social. Quantos estão por aí, abandonados em leitos dourados ou em catres carcomidos. Quem sabe, sozinhos no meio da multidão, perdidos sem nome, sem condições, no fundo, sem nada, pois lhes foi tirado o maior direito: participar da vida. Um dos maiores males do mundo moderno é o individualismo que leva as pessoas a se isolarem, fecharem-se em si mesmas e viverem a solidão. Ela não é tratada pela comunidade. A espiritualidade vivida como dar vida a quem não a tem, nos endereçará a buscar os solitários. Passos são dados, mas é preciso a consciência comunitária de não deixar ninguém de fora e que todos sejam envolvidos na vida, participando, dando sua contribuição para que haja vida abundante para todos.
Carentes de amor
Jesus colocou todo o fundamento de seu Reino no amor mútuo que o constrói e mantém: “Dou-vos um mandamento novo: Que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei amai-vos também uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,34-35). Dentre os enfermos, estão os carentes de amor. A maior fome existente é a de ser amado. A falta do amor leva a sociedade a provocar tantos sofrimentos na vida das pessoas. Se pensarmos no amor que devemos aos outros, os carentes de amor saberão viver. Todos somos humanos e queremos ser queridos e amados. A normalidade é querer amar e ser amado. Quem não é amado terá dificuldades em desenvolver o amor. A espiritualidade desse sacramento é promover a vida em todas as dimensões e viver intensamente o amor à vida. Pensar nos sofredores é amar com os olhos de Jesus. Ele sabia encontrar os sofredores.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM NOVEMBRO DE 2006
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