quarta-feira, 29 de junho de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Deus quer tudo, não sobras”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Uma moedinha compra um reino
 
Jesus continua instruindo seus discípulos. Estão chegando ao fim as últimas instruções. A oferta da viúva é como a conclusão de seu ensinamento. Depois, no capítulo 13, temos o discurso escatológico e a seguir a Paixão. Jesus ensina que os verdadeiros valores estão no coração e não somente em atitudes exteriores. É do coração que nascem as boas intenções e as decisões. Jesus está diante do cofre das coletas para o tesouro. Observa os ricos generosos colocando grandes somas. Vê também a viúva que põe duas moedinhas, um quadrante. Corresponde 1/40 do pagamento de um dia de um assalariado. Quem sabe pudéssemos dizer, uma moeda de um centavo. A que serve isso? Note-se que tesouro está a a explicar que ela deu todo seu tesouro. Ou, ali ela comprou todo o tesouro. Jesus dissera: “Onde estiver o teu tesouro aí estará o teu coração” (Lc 12,34). O tesouro dela estava em Deus. O gesto significa que, através do único que possuía, faz uma entrega total de si a Deus. Por que bem uma viúva? Era a última da sociedade. Ela não recebia nada do que era de seu marido e era jogada na miséria. Por isso, diz Tiago que “a religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas necessidades” (Tg 1,27). Ela deu tudo o que tinha para viver. Ela deu a vida. Deus quer o discípulo não o que sobra dele, mas o que ele é, sua pessoa. Deus quer ser o tudo e que se confie a Ele totalmente. Jesus não recusa a caridade dos pobres. Eles se dão ao Senhor. Por isso não lhes falta. Pedimos muito dinheiro e achamos difícil dá-lo. Claro que a Igreja pode pedir, mas tem que abrir os cofres para eles, pois as riquezas da Igreja são dos pobres, o bispo e o padre são administradores dos bens dos pobres, dizia S. Afonso. Com a moedinha ela comprou o Reino. Os outros deram o que lhes sobrava. Deus quer a nós. 
A farinha não faltará 
O profeta Elias, numa região fora de Israel (Sidônia – Libano) pede comida a uma viúva. Essa se declara no limite da vida. Pobreza total. Ela ia preparar a última refeição e depois, com o filho, esperar a morte. O profeta promete que nem a farinha nem o óleo acabarão até que venham as chuvas. Foi uma seca de 3 anos e meio. A confiança do profeta é total. A certeza do bom resultado da entrega total da caridade do pobre é garantida. A confiança fortalece em nós a abertura para a confiança total em Deus. Recusamos a nos entregar, por isso não possuímos nem a Deus nem a nós mesmos. O pobre confiou em Deus e foi ouvido. A fé dá garantia. Jesus proclama: felizes os pobres, porque deles é o Reino. 
Uma vez por todas 
No Antigo Testamento, o sumo sacerdote entrava no santuário (lugar totalmente reservado a Deus), para fazer a oferta do sangue do sacrifício para o perdão dos pecados. Cada ano! A carta aos Hebreus explica que Cristo entrou uma vez por todas no Santo dos Santos através de seu sangue. Por que uma vez por todas? Porque se entregou totalmente, como a viúva com sua oferta. Deu-se totalmente a Deus para perdão dos pecados. Não temos mais o que esperar de Cristo por nós. Ele já fez tudo. Basta confiar e se entregar a Ele. Toda a vida cristã será consistente ou não, de acordo com nossa capacidade de nos entregar a Deus e assumir seu caminho. É nossa moeda. Mesmo se chegarmos ao fundo, Ele nos garante não bens materiais, mas a vida eterna. Damos o resto a Deus e nos queixamos quando não conseguimos nos manter em pé por não ter onde nos apoiar. 
Leituras: 1Reis 17,1-16; Salmo 145;
 Hebreus 9,24-29; Marcos 12,38-44.
1. Jesus dá as últimas instruções. Leva o ensinamento ao coração dos discípulos. A história da viúva é a conclusão do ensinamento. Deus não quer resto, quer a nós com tudo o que somos e temos. O tesouro onde ela joga as moedas é o tesouro de seu coração, o Deus ao qual se entrega toda, mesmo com o risco de não ter mais vida. A Igreja não pode explorar o pobre, mas deve ser a primeira a socorrer, pois os bens da Igreja pertencem aos pobres. Ela é só administradora. 
2. Elias pede socorro a uma pobre viúva que estava no limite da vida. Sua generosidade é garantia de que nada lhe faltará. A confiança fortalece nossa abertura a Deus. Jesus diz: Felizes os pobres porque deles é o Reino dos Céus. 
3. Cristo entrega-se totalmente, por isso seu sacrifício é uma vez por todas. Ele se entregou totalmente como a viúva. Deus Pai era sua total preocupação e entrega. Nossa vida cristã será consistente ou não dependendo da entrega de vida que fazemos. 
Munheca de samambaia. 
Jesus tinha um espírito de observação de primeira. Observava o povo fazendo as ofertas. Uns deram esmola pesada e uma velhinha deu uma moedinha. Ele mostrou que o valor da oferta não está na quantidade, mas na intensidade de vida que é colocada na oferta. Ela deu tudo o que tinha para viver. Deu a própria vida. Nós costumamos dar resto para Deus, o que não vai nos faltar. Ele quer a nós, como tudo o que somos e temos. Temos que ser mão aberta em nossa oferta a Deus. Mão de samambaia não serve. 
Homilia do 32º Domingo Comum
EM NOVEMBRO DE 2006

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