domingo, 26 de junho de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Meu Redentor vive”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
O Senhor é minha luz e salvação
 
No dia de Finados vemos plantado o jardim da certeza da ressurreição dos mortos. É a celebração da vida que continua após a morte. Jesus garante que é da vontade do Pai que nenhum se perca e que todo aquele que nEle crê tenha a vida eterna; e o ressuscitará o último dia (Jo 6,37-40). O cristão sente confiança no Deus que é sua luz e salvação, por isso procura sua face e espera saborear a suavidade do Senhor e contemplá-lo em seu templo (Sl 26). Essa certeza nos foi dada por Jesus prometeu a ressurreição a todos os que crêem. Garante essa ressurreição pois ressuscitou dos mortos. Por isso rezamos na prece eucarística: “Lembrai-vos de nossos irmãos e irmãs que morreram na esperança da ressurreição e de todos que partiram desta vida: acolhei-os junto a Vós na luz de vossa face” (Prece Eucarística II). É nessa luz que Jó clama: “Eu sei que meu Redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó. E depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne eu verei a Deus” (Jo 19,25-26). A esperança da ressurreição se funda em nossa participação do Mistério Pascal de Cristo a partir do batismo. “Quando rezamos pelos mortos temos consciência da força vitoriosa do Mistério Pascal, porque a morte é comum herança de todos, mas por um dom mistério do amor de Deus, Cristo, com sua vitória nos redime da morte e nos chama a estar com Ele em uma vida nova” (Prefácio). “Por eles nós celebramos o Mistério Pascal” (Pós-comunhão). 
A caminho do Pai 
Jesus garante que na casa do Pai há muitas moradas e que iria nos preparar um lugar (Jo 14,2). Quando rezamos o salmo do Bom Pastor, nós nos sentimos conduzidos por Ele para lugares tranquilos, mesmo passando por lugares escuros (Sl 22). Por quem rezamos? Pelos que estão nos Céus, na glória do Pai. Não rezamos por eles, mas rezamos para que intercedam por nós. São todos os humanos que morreram e já foram para os Céus. Rezamos também por aqueles que ainda estão na purificação. Não nos interessa com é, mas sim, que eles já estão a caminho da casa do Pai. É o que chamamos de Purgatório, tempo da purificação. Por isso, quanto mais vivemos na terra uma vida coerente com o Evangelho, mais purificados nos entregaremos a Deus em nossa morte. Não se trata de um lugar ou de tempo cronológico, mas situação de purificação. Rezemos pelas almas. 
Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno 
A liturgia de hoje prevê três formulários de missa. Há uma história longa no que se refere à celebração dos mortos. Já nas catacumbas há sinais claros de oração pelos mortos. Mesmo os pagãos celebravam os mortos com o “refrigerium”, um tipo de banquete religioso junto ao túmulo do falecido. Encontramos já nos escritos de Serapião de Tmuis, oração pelos mortos. Mas demorou bastante que entrasse definitivamente nos livros. Eu mesmo vi, no Sacramentário Gelasiano, do século VIIº, anotado à margem, a oração pelos mortos. Por que rezamos? A Igreja crê que os que morrem na amizade de Deus, mas ainda necessitados de purificação, podem receber de nossa caridade a oração, as boas obras, indulgências e sobretudo o sacrifício da missa, como fazemos em todas as celebrações. Somos parte do mesmo corpo de Cristo. Rezar pelos mortos é obra de caridade. Lemos no II Macabeus que Judas fez uma coleta e “mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado” (2 Mc 12,46). Um dia rezarão por nós. E como necessitaremos! 
Leituras 1ª missa:Jó 191.23-27;Salmo26.
Romanos 5,5-11;João 6,37-40. 
1. Celebramos, em Finados, a vida que continua após a morte. Deus não quer que nenhum se perca e garante essa vida aos que creem em Jesus. A esperança da ressurreição se funda em nossa participação do Mistério Pascal de Cristo a partir de nosso batismo. 
2. Na casa do Pai há muitas moradas. Jesus foi nos preparar um lugar. A vida após a morte, se necessário for, passa por um processo de purificação, por isso chamamos de Purgatário que não é um lugar nem um tempo, mas uma situação. 
3. Rezamos pelos mortos porque a Igreja sempre rezou. Desde os tempos do Antigo Testamento lemos que Judas Macabeu fez uma coleta e mandou para Jerusalém para fazer sacrifício expiatório. E o livro comenta que “Judas realizou uma ação muito boa e nobre, pensando na ressurreição” (2Mc 12,43). Encontramos, nas catacumbas e em livros litúrgicos a oração pelos mortos. Nossa oração pelos mortos é caridade, participamos assim de sua purificação. Somos, com eles, membros do Corpo de Cristo. 
Não tenho medo de defunto. 
No dia de Finados nós vamos ao cemitério. Levamos flores e acendemos velas. Fica tão bonito! Por que tudo isso, se defunto não cheira, não sente e nem enxerga? É uma demonstração muito grande de que a vida continua após a morte. Desfeito esse corpo, recebemos um corpo imortal, diz São Paulo. Por que tanta certeza da vida? Jesus nos amou e se entregou por nós. Ele vive e nos deu o Espírito Santo, garantia de nossa vida eterna. Jesus faz questão que nenhum daqueles que o Pai lhe deu. Por isso podemos fazer a festa dos mortos. Todos vivemos nele. 
Homilia na Comemoração dos Fiéis Defuntos
EM NOVEMBRO DE 2006

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