sexta-feira, 24 de junho de 2022

São Vicente Lebbe, Missionário (+ 1940), 24 de Junho

Frédéric-Vincent Lebbe (1877 - 1940) é um missionário belga da Ordem dos Lazaristas. Enviado à China, promoveu uma Igreja Católica verdadeiramente chinesa.  

Biografia
Frédéric Lebbe nasceu em Gand, na Bélgica, em 19 de agosto de 1877. Durante a sua infância, ele leu a história de Jean-Gabriel Perboyre, missionário lazarista martirizado na China em 1840. Decidiu, então, tornar-se missionário e partir para a China, adotando o nome (religioso) de Vicente. Em 1895, entrou para o seminário dos Lazaristas em Paris. Em 1901, foi transferido para o vicariato apostólico de Pequim. Nessa época, os missionários cristãos, tolerados desde 1844 e oficialmente autorizados a se instalar naquela região depois dos tratados de Tianjin, em 1860, exerciam seu apostolado livremente, sendo, porém, fortemente ligados aos interesses dos Estados Unidos e das potências européias, especialmente a França para os católicos. Imediatamente, Vicente foi persuadido de que, como missionário, deveria se tornar chinês no idioma, na vida quotidiana, nas vestimentas e mesmo no patriotismo para poder exercer eficazmente seu ministério.
Após um começo bem-sucedido no campo, ele foi transferido para a cidade de Tien-Tsin (Tianjin), porto próximo a Pequim e sede das concessões estrangeiras. Lá, ele organizou a ação católica para os leigos chineses e travou importantes contatos com intelectuais chineses. Criou, em 1902, com Ying Lianzhi ( 英斂之 / 敛之 ), o primeiro quotidiano católico em idioma chinês, Yi shi bao 益世 (O Bem do Mundo), que rapidamente se tornou o jornal mais lido no Norte da China, graças à qualidade e à independência de suas informações.
Vicente Lebbe e seu amigo Antônio Cotta (1872-1957), que ele havia encontrado no seminário lazarista de Paris, militavam para que a hierarquia católica, vinda do estrangeiro e dependente das potências estrangeiras, se tornassem verdadeiramente chinesas. Eles retomaram os princípios que seu confrade, José Gabet, havia publicado em 1848, e que haviam sido então condenados. Em 1916, eles se opuseram à anexação, pelo consulado da França, de um terreno às margens da concessão francesa, a pedido das autoridades da Igreja, para construir a catedral. A pedido de autoridades francesas, Vicente Lebbe foi transferido para fora de Tianjin e, posteriormente, reconduzido à Europa.
Antônio Cotta redigiu, com Vicente Lebbe, um memorando para o Cardeal Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos no Vaticano, em favor da instituição de bispos chineses e de uma verdadeira “aclimatação” da Igreja. É a principal fonte da Encíclica Maximum illud do Papa Bento XV em 1919. O Papa Pio XI instituiu os seis primeiros bispos chineses em 1926, consagrando-os pessoalmente na Basílica de São Pedro, em Roma; Vicente Lebbe estava presente à cerimônia. O processo conduziu também, em 1939, à anulação da proibição dos ritos chineses, que datava de 1742. A Igreja da China foi instituída pelo Papa em 1942 e a China deixou o status de terra de missão1.
De 1920 a 1927, Vicente Lebbe participou do acolhimento aos estudantes chineses que chegavam em grande número à Europa, organizando-os em associações2. Ele inspirou o início da Sociedade dos Auxiliares das Missões, fundada a pedido dos bispos chineses, que formava padres seculares para colocá-los a serviço das Igrejas da Ásia e da África. Em 1928, retornou à China, transferido para a diocese de Hebei, dirigida por um bispo chinês. Vicente obteve, junto ao Governo da República da China, a nacionalidade chinesa, adotando o nome de Lei Mingyuan ( 雷鳴遠 / 鸣远 )3. Iniciou, então, a formação do clero regular naquele país, fundando a Congregação dos Irmãozinhos de São João Batista e as Irmãzinhas de Santa Teresa do Menino Jesus. Vicente mobilizou-os durante a guerra sino-japonesa, formando unidades de serviço de saúde e de socorro aos civis.
Encontrando-se do lado da República da China e de Tchang Kaï-chek, Vicente é considerado um espião e feito prisioneiro pelas forças comunistas do Exército Revolucionário Chinês, em Shanxi, no dia 9 de março de 1940. Morreu devido ao esgotamento físico em Chongqing, em 24 de junho de 1940, depois de ser libertado4.
Memória
Os arquivos de Vicente Lebbe são conservados e estudados na Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Louvain, em Louvain-la-Neuve5.
A causa da beatificação foi aberta em 1988 pela diocese de Taichung, em Taiwan, da qual dependem os Irmãozinhos de São João Batista.
Inúmeras escolas e instituições têm o seu nome, dentre elas uma das vilas internacionais de Louvain-la-Neuve.
Notas
1.  Ver As incômodas intuições do Padre Lebbe (Les intuitions dérangeantes du Père Lebbe) e O Apoio de Antoine Cotta à promoção dos Chineses (L'appui d'Antoine Cotta à la promotion des Chinois) em Claude Soetens, A Igreja Católica na China no Século XX (L'Eglise catholique en Chine au XXe siècle), pg. 70 e s., Beauchesne, Paris, 1997. (En ligne [archive] sur Google Books.)
2.  Era nesta época que Zhou Enlai e Deng Xiaoping estudavam e trabalhavam na França.
3.  O prenome 鸣远 Mingyuan, transcrição distante foneticamente de Vincent significa barulho do trovão, ao longe.
4.  Uma biografia completa, em língua inglesa, está disponível no site dos Irmãos de São João Batista: Thunder in the Distance - Lei Ming Yuan [archive]
5.  Claude Soetens, Inventaire des archives Vincent Lebbe [archive], 1982, Cahiers de la revue théologique de Louvain, sur Persée.

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