Jesus, com sua palavra nesse 29º domingo, abre-nos à reflexão sobre mais um aspecto importante da vida do cristão no mundo: ‘o poder e a autoridade’. Como refletimos nos domingos anteriores, estamos como que revivendo em nossa vida de cristãos as mesmas tentações de Jesus, que aliás são as fundamentais. Hoje ouvimos ao longe a palavra do tentador: “Se és o Filho de Deus, atira-te para baixo, pois está escrito que Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos...” (Mt 4,4). É a tentação do poder. Os dois discípulos, João e Tiago, pedem a Jesus para estar um a sua esquerda e outro a sua direita quando estiver em sua glória (Mc 10,35). Os outros apóstolos se irritam contra eles. Ele explica que os que têm poder, os grandes, oprimem as pessoas. Em seu Reino vai diferente e diz: Entre vós não deve ser assim! Belo ensinamento: “quem quiser ser grande, seja vosso servo, quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” (43-44). No Paraíso, o tentador diz a Eva: “sereis iguais a Deus. Tereis o poder de conhecer o bem e o mal” (Gn 3,5), isto é, sereis dono de tudo. É entranhado na pessoa humana o desejo de mandar. A criança, com uma birra, põe todo mundo sob seu poder. Jesus há pouco havia anunciado sua Paixão. E os discípulos pensavam em poder. Jesus explica que “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate para muitos” (Mc 10,45). Sua paixão e morte é seu modo de servir à humanidade. Aí se torna o primeiro de todos “Ele é o primogênito entre os irmãos” (Rm 8,29). Ele é quem manda, porque serve. Pena que ainda não tenhamos descoberto em nosso ministério que, para mandar, é preciso servir. Os discípulos aprenderão isso, pois também “eles beberão o cálice”, isto é, passarão pelo mesmo sofrimento. O Reino está preparado para os que são pequenos e que fazem a caridade aos pequeninos. A ordem fundamental para o sacerdócio é o diaconato, o serviço.
A ciência do sofrimento
Jesus coloca seu sofrimento e sua morte como um serviço de redenção. A morte de Jesus não foi um acaso para Ele, mas percebida como uma consequência de uma opção e a realização da vontade de Deus. Ele realiza em si a profecia do servo sofredor que nos é anunciado por Isaías: “Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas” (53,10-11). Jesus teve a ciência do sofrimento que, por mais que fosse uma realidade humana, Ele o sofreu dentro da vontade de Deus. Por isso trouxe a todos a redenção. A essa maneira de viver Ele associa seus discípulos, que com Ele bebem o cálice da dor e das amarguras pela redenção da humanidade.
Um sacerdote compassivo
Jesus está a serviço da humanidade. Deus O fez sumo sacerdote, o mediador entre Deus e a humanidade. Jesus é capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois “as experimentou, e foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,14-15). Isso nos dá confiança de nos aproximarmos dele para obtermos graça e auxílio (16). Maior é aquele que serve, afirma Jesus. Seguir Jesus em sua Paixão, dá-nos a mesma capacidade de serviço e ciência que nos levará a compreender as pessoas, pois passamos pela mesma provação. Mesmo marcados pela dor da entrega, somos seus colaboradores na redenção.
Leituras: Isaías 53,10-11; Salmo 32;
Hebreus 4,14-16; Marcos 10,35-45.
1. Jesus instrui sobre o uso do poder na comunidade. Corresponde a uma das tentações de Jesus. O pedido de João e Tiago de estarem um à direita e outra à esquerda no poder com Jesus, motivou sua instrução sobre o poder na Igreja: serviço. Assim foi sua vida. Assim é o significado de sua Paixão e morte.
2. Jesus coloca seu sofrimento e sua morte como um serviço de redenção. Sua morte não foi um acaso, mas entendida como consequência de sua opção e a realização da vontade de Deus. Realiza a profecia do Servo Sofredor que, por sua vida e sofrimento, alcança a ciência perfeita. Carregando sobre si nossas culpas, traz a todos a redenção.
3. Jesus está a serviço da humanidade. É o sumo sacerdote mediador. É capaz de se compadecer de nossas dores, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. Por isso podemos nos aproximar dele. Segui-lo em sua Paixão, dá-nos a capacidade de serviço e ciência que nos leva a compreender e nos compadecermos dos outros.
Uma política do avesso
Já estamos fartos de ouvir falar de políticos que se aproveitam do cargo para enriquecer. Os discípulos de Jesus queriam poder. Jesus lhes dá serviço. Para entender o sentido da autoridade que Jesus oferece aos seus, tem-se que passar por sua capacidade de serviço, como o fez na cruz.
Servir é a política de Jesus. Quanto mais servimos os outros, mais servimos para viver, mais nossa vida tem sentido. Imaginemos se nossos políticos, autoridades, mesmo padres e bispos, fossem assim, quanta coisa seria diferente. Temos direito de sonhar.
Homilia do 29º Domingo Comum
EM OUTUBRO DE 2006
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