quinta-feira, 23 de junho de 2022

23 de junho - Beata Maria Raffaella Cimatti

"Bendito seja Deus... Ele não me negou a sua misericórdia"(Sl 65, 20).
 
A Divina Misericórdia é a chave para a leitura da espiritualidade simples e profunda de Maria Raffaella Cimatti, uma religiosa das Irmãs Hospitaleiras da Misericórdia. Da infinita misericórdia de Deus, da qual fala o salmista, ela inspirou sua ação, especialmente a serviço dos pobres e sofredores. Esta mulher, hoje elevada às honras dos altares, consumiu-se na total consagração a Deus e no serviço silencioso e cotidiano aos enfermos. Ela vivia com um espírito de sacrifício e com disponibilidade sempre pronta tanto para as tarefas diárias humildes, quanto para a escuta e recepção daqueles que recorriam a ela por conselho ou conforto, e as tarefas de responsabilidade para as quais ela era repetidamente chamada. Em nosso tempo, marcado não apenas pela indiferença e pela tentação de fechar-se às necessidades dos outros, essa humilde religiosa constitui um brilhante exemplo de feminilidade plenamente realizada no dom de si. Ela proclama e testemunha a esperança evangélica, manifestando aos que sofrem no corpo e no espírito a face de "Deus, o Pai misericordioso e Deus de toda a consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações" (2 Cor 1, 4). Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 12 de maio de 1996 Santina Cimatti nasceu em Faenza, no dia 6 de junho de 1861. Seu pai era agricultor e a mãe tecelã. Tinha um rosto sorridente, sereno e de belas feições, iluminado por olhos profundos. Como a família logo precisou do seu trabalho, pode dedicar pouco tempo aos estudos. Para ajudar na economia familiar, ajudava a mãe como tecelã, ou se ocupava nos trabalhos da casa. Após a morte do pai em 1882, Santina assumiu a educação dos irmãos e também era catequista na sua paróquia. Tornou-se indispensável que Santina permanecesse junto à mãe até que esta encontrasse um trabalho digno na casa de um sacerdote. Quando seus dois irmãos, Luis e Vicente, entraram na Congregação Salesiana, recém fundada por Dom Bosco, Santina sentiu-se livre para realizar suas aspirações religiosas. Em novembro de 1889, ingressou no Instituto das Irmãs Hospitaleiras da Misericórdia, na casa mãe de São João de Latrão, em Roma. Tomou o nome de Maria Rafaella, e em 1883 foi enviada ao Hospital de São Bento em Alatri, onde iniciou sua formação de enfermeira. Em 1905, emitiu seus votos finais. Em 1921, foi enviada ao Hospital Humberto I de Frosinone, onde assumiu o cargo de priora da comunidade. Retornou a Alatri e, de 1928 a 1940, sempre como priora. O principal campo de apostolado de Irmã Rafaella foi a farmácia. Entretanto, quando era necessário, ela estava à disposição dos doentes e da comunidade para realizar qualquer trabalho. Os trabalhos entre pílulas, xaropes e o moer no almofariz, tudo era para Irmã Rafaella um dom de Deus. No empenho simples, mas contínuo do dia a dia, ela alcançava uma dedicação exemplar de verdadeiro amor ao próximo. Quando a doença bateu à sua porta, recorreu ainda mais à oração como meio de superação. Em 1944, durante uma das etapas mais duras da II Guerra Mundial, muitos foram os feridos que chegaram ao hospital e que precisavam de atenção. Embora a Beata já estivesse com 83 anos de idade, não deixou de cuidar e de consolar os feridos, que a chamavam de “mamãe”. Apresentou pessoalmente, com êxito, um protesto ao General Kesserling, do Quartel General Alemão em Alatri, ao ouvir rumores de que, para defender as forças aliadas, iam bombardear a cidade. O general mudou seus planos e Alatri se salvou. “Milagre!”, gritavam em coro, “um anjo salvou a cidade”. Uma sua paciente conta: Eu era jovem, mas sofria de vários distúrbios. Depois de algum tempo, fui levada de novo ao hospital para uma operação de apendicite. Estava preocupada e sentia falta de minha mãe distante... Chorava como nunca por causa dessa situação. A serva de Deus percebeu a minha profunda prostração moral e me pergunta: “Por que choras?” E eu: “Estou mal e não tenho a mamãe...” De um modo profundamente compreensivo me respondeu: “E eu não sou a mamãe? Por que estou aqui? Toda irmã hospitaleira deve ser a mãe de quem sofre!” Para as coirmãs ela sabia ser a superiora atenta e gentil. Não pretendia ser servida, mas que cada uma servisse a comunidade. Uma sua coirmã recorda: "Não se dava ares por causa do ofício de superiora que exercia, mas se considerava a serva das irmãs, ajudando-as nos trabalhos. Gostava também de remendar e confeccionas as meias das coirmãs". Em 1943, uma doença começou a se manifestar e se revelou incurável. Faleceu em 23 de junho de 1945, deixando na memória a santidade de sua vida e suas virtudes heroicas.

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