Uma católica suíça que se distingue na fé: Margarida Bays era uma leiga humilde, de vida oculta com Cristo em Deus (Col 3, 3). Era uma mulher muito simples, de vida normal, na qual cada um de nós podia se reconhecer. Ela não fez coisas extraordinárias, e ainda assim sua existência foi um processo longo e silencioso no caminho da santidade.
Na Eucaristia, "a culminação do seu dia", Cristo foi alimento e força para ela. Através da meditação sobre os mistérios do Salvador, especialmente o mistério da Paixão, ela chegou a uma união transformadora com Deus. Alguns de seus contemporâneos acreditavam que seus longos momentos de oração eram um desperdício de tempo, mas quanto mais sua oração tornou-se intensa, quanto mais próxima se aproximava de Deus e se dedicava ao serviço de seus irmãos. Porque somente aquele que ora realmente conhece a Deus, ouve o coração de Deus e também está próximo do coração do mundo. Assim, descobrimos a importância da oração na vida do leigo. A oração não nos afasta do mundo. Longe disso! Libera nosso interior nos dispondo ao perdão e à vida fraterna.
A missão vivida por Margarida Bays é a missão que compete a todo cristão. Durante o catecismo, ela se esforçava para apresentar a mensagem do Evangelho às crianças de sua aldeia em palavras inteligíveis. Ela estava abertamente preocupada com os pobres e os doentes. Sem deixar seu país, seu coração estava aberto às dimensões da Igreja universal e do mundo. Com o sentido missionário que a caracterizou, introduziu em sua paróquia as Obras de Propagação da fé e da Santa Infância. Em Margarida Bays, descobrimos o quanto o Senhor trabalhava para fazê-la chegar à santidade: ela caminhava com Deus em humildade, fazendo cada gesto de sua vida diária por amor.
Margarida Bays exorta-nos a fazer da nossa existência um caminho de amor e recorda-nos a nossa missão no mundo: proclamar o Evangelho em todas as ocasiões, oportuno e não oportuno e, em particular, aos jovens. Ela nos convida a fazê-los descobrir a grandeza dos sacramentos da Igreja. De fato, como os jovens de hoje podem reconhecer o Salvador em sua jornada, se não forem apresentados aos mistérios cristãos? Como eles podem se aproximar da mesa eucarística e do sacramento da penitência, se ninguém os faz descobrir sua riqueza, como Margarida Bays conseguiu fazer?
Papa João Paulo II–Homilia de Beatificação
– 29 de outubro de 1995
Margarida Bays nasceu em La Pierraz, Suíça, em 8 de setembro de 1815, segunda dos sete filhos de José Bays e de Maria Josefina Morel, agricultores e bons cristãos. Dotada de vivacidade e de inteligência excepcional, frequentou por 3 a 4 anos a escola, aprendendo a ler e a escrever. Desde pequena demonstrou particular inclinação para a contemplação, deixando de brincar com suas companheiras para se retirar no silêncio da oração.
Aos 11 anos foi admitida à Primeira Comunhão e aos 15 anos fez um período de aprendizado como costureira, profissão que exerceu por toda sua vida seja em casa, seja nas famílias vizinhas.
Margarida descartou a possibilidade de tornar-se religiosa, preferindo permanecer solteira e santificando-se no seio da família e junto à paroquia, onde praticamente ficou toda a vida. Os três irmãos e as três irmãs tinham por ela profunda afeição e ela, costurando e fazendo os trabalhos domésticos, criou com eles uma atmosfera de bom humor e de paz.
Mas, depois do casamento do irmão mais velho com uma empregada sua, Margarida teve que suportar a hostilidade e a incompreensão da cunhada, que se tornara a dona da casa em seu lugar. Ela reprovava o tempo passado por Margarida em oração ou no tranquilo trabalho de costura, enquanto ela se esgotava nos trabalhos do campo. Por longos 15 anos Margarida opôs a isto o silêncio e a paciência, fruto de sua caridade, que suscitava a admiração de quantos a circundavam. Por fim a cunhada reconheceu seus próprios erros e Margarida com grande caridade cristã a assistiu no seu leito de morte.
Tanto na sua própria casa, como naquela onde ia trabalhar, Margarida convidava os presentes a recitar com ela uma ou duas dezenas do Rosário. Assistia todos os dias a Santa Missa e isto constituía “o cume de sua jornada”. No domingo, dia de festa e oração, após a Missa ficava na igreja em oração diante do Santíssimo Sacramento, fazia a Via Sacra por uma hora e recitava o Rosário.
Ela gostava de fazer a pé longas e cansativas peregrinações aos Santuários Marianos, sozinha ou com amigas; vivia constantemente na presença de Deus. Leiga cheia de zelo, dedicava seu tempo livre a um apostolado ativo junto às crianças, ensinando-lhes o catecismo e formando-as para uma vida moral e religiosa; também preparava com grande solicitude as jovens para sua futura condição de esposas e mães. Visitava infatigavelmente os enfermos e os moribundos. Os pobres encontravam nela uma amiga fiel, cheia de bondade.
Introduziu na paróquia as Obras Missionárias e contribuiu para difundir a imprensa católica. Era uma incansável apóstola da oração, pois tinha presente sua importância vital para todo cristão. Amava profundamente a Jesus Eucaristia e a Virgem Maria.
Em 1835, aos 35 anos, lhe sobreveio um câncer no intestino, que os médicos não conseguiram deter. Margarida pediu à Virgem Maria que lhe mudasse estas dores por outras que lhe permitissem participar mais diretamente na Paixão de Cristo.
Em 8 de dezembro de 1854, no momento em que o Papa Pio IX proclamava em Roma o dogma da Imaculada Conceição, uma enfermidade misteriosa inesperadamente se manifestou, a qual a imobilizava em êxtases todas as sextas-feiras, enquanto revivia no espírito e no corpo os sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, desde o Getsemani até o Calvário.
Recebeu ao mesmo tempo os estigmas da crucifixão, que ela dissimulava zelosamente aos olhos dos curiosos. O bispo de Friburgo, Mons. Marilly, mandou um médico verificar os êxtases e os estigmas de Margarida, o qual autenticou oficialmente a origem mística dos fenômenos.
Nos últimos anos de sua vida a dor se fez mais intensa, mas suportou-a sem um lamento, abandonando-se totalmente à vontade do Senhor. Foi então que ela compôs a belíssima oração: “Ó Santa Vítima, chama-me a Ti, é justo. Não leve em consideração minha repulsa; que eu complete no meu corpo aquilo que falta aos Teus sofrimentos. Abraço a cruz, desejo morrer contigo. É na chaga de Teu Coração que espero exalar o último suspiro”.
Morreu, segundo seu desejo, na festa do Sagrado Coração, na sexta-feira 27 de junho de 1879, às três da tarde. Os paroquianos, quando do anúncio de sua morte, diziam: “A nossa santa morreu!”. Os funerais ocorreram no dia 30, com a participação de numerosos sacerdotes e uma multidão de fiéis.
Foi canonizada pelo Papa Francisco em 13 de outubro de 2019.
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