PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA 53 ANOS CONSAGRADO 46 ANOS SACERDOTE |
Como você pode saber o sabor de uma fruta se você não a experimentou ainda? É algo totalmente particular. Assim também, quando falamos de Deus, podemos dizer muitas coisas, mas a experiência é totalmente pessoal. Cada um tem um “sabor” de Deus. O mesmo podemos dizer do relacionamento com Deus. Dizer que Deus nos fala é muito fácil, mas saber exprimir essa experiência com palavras humanas se torna difícil. Estamos muito acostumados a dizer que Deus falou no Antigo Testamento aos patriarcas e profetas de modo maravilhoso. “Moisés falava com Deus como um amigo fala com seu amigo” (Ex 33,11). Deus falou com Abraão de tantos modos. Vemos que Deus falava através de mensageiros especiais que são chamados de anjos, falava através de sonhos, visões, falava diretamente. Quando chega o Novo Testamento já não temos tantas manifestações. A carta aos Hebreus se inicia justamente por essas palavras “Muitas vezes e de muitos modos, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de Seu Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas” (Hb 1,1-2). E depois, na História da Igreja, como acontecem as manifestações de Deus? Temos muitas “revelações e aparições” particulares que ajudam a piedade, mas não acrescentam novidades à fé. A Igreja não toma posição oficial a respeito. Deus, contudo continua falando a seus filhos de tantos modos. Deus se manifestou no passado. Deus não fala mais?
Interpretando a conversa de Deus.
Falamos com facilidade que Deus disse, falou, comunicou, revelou e se fez ver. Como interpretar o passado e como entramos em relacionamento com Deus agora? Temos que nos voltar ao que chamamos de gênero literário na Bíblia. Os textos descrevem de maneira muito clara que, por exemplo, o Senhor falou a Moisés, Jeremias etc... Na realidade, o que significou, o que aconteceu de fato? Podemos entender que houve algo muito concreto com a pessoa. Como é uma experiência divina, não temos meios para expressar o que é divino. Usamos nossa linguagem. O que nos interessa é o conteúdo e não a expressão usada. Essa é humana, pois não somos Deus. Assim acontece conosco agora. Deus se comunica de tantas maneiras. Ou é em uma oração, ou um sentimento, ou um acontecimento, ou um ensinamento, ou uma percepção. Deus continua se comunicando.
Saber ouvir.
Qual é nossa resposta às muitas intervenções de Deus? Saber ouvir. Aqueles que descreveram na Bíblia suas experiências com Deus, eram como nós. Então temos que entendê-los a partir de nós para saber o caminho a tomar. O que eles tiveram foi a capacidade de ouvir e a capacidade e expressar o que ouviram da linguagem divina. Todos nós ouvimos. Falta-nos perceber que Deus está se manifestando e estar atento, entender. Por exemplo: você sente uma profunda alegria interior. Você se deu conta de que pode ser uma manifestação do amor de Deus? Poderá até comentar: “Deus hoje me abraçou e disse que me amava”. O abraço e o carinho que você tem para com os outros pode ser sua resposta e a explicação dessa comunicação. Podemos até dizer o que disse, interpretando o encontro de amor. Para mim, o que falta é a vontade de se relacionar com Deus a nível de pessoa a pessoa. Abra-se que Ele se manifesta. Morda a fruta que saberá o seu sabor.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JUNHO DE 2005
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