quarta-feira, 28 de abril de 2021

Santa Margarida de Città di Castello

 
No dia 24 de abril p.p., o Papa Francisco autorizou o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal Marcello Semeraro, a promulgar os decretos relativos à até então Beata Margarida, que fez parte da Ordem Terceira dos Frades Pregadores (dominicanos). Por meio do procedimento conhecido como “canonização equipolente”, Margarida foi inserida no Catálogo dos Santos e, desta forma, o seu culto está agora formalmente estendido a toda a Igreja. A “canonização equipolente” foi instituída no século XVIII pelo Papa Bento XIV. Mediante este processo, o pontífice “vincula a Igreja como um todo para que observe a veneração de um Servo de Deus ainda não canonizado pela inserção de sua festividade no calendário litúrgico da Igreja universal, com Missa e Ofício Divino”. "Meu pai e minha mãe me abandonarem, mas o Senhor me recebeu"     A história da vida desta Beata foi escrita cerca de 30 anos após sua morte, por um religioso anônimo, que para seu relato se baseou nos testemunhos de muitas pessoas contemporâneos de Margarida.

     O Castelo de Metola, onde Margarida nasceu em 1287, era uma fortaleza situada no cume de uma montanha. Localizado na parte sul de Massa Trabaria, foi construído com um sistema de defesa quase inexpugnável. Hoje, somente uma torre permanece no local.
     Seus pais tinham esperado com alegria o nascimento de um herdeiro. Cheio de sonhos para o futuro dessa criança, ordenaram uma grande festa para o evento feliz, mas a decepção do casal não poderia ser mais amarga quando perceberam que a criança nascera cega, corcunda e com uma perna mais curta que a outra.
     Eles decidiram esconder todas as suas desgraças e confiar a criança a uma criada fiel, obrigada a mantê-la escondida. No maior segredo, a boa criada levou a criança a catedral de Mercatello para ser batizada.
     Crescendo, Margarida demonstrou uma inteligência extraordinária. O capelão do castelo educou-a o melhor que pode. Margarida facilmente memorizou os Salmos e outros versículos das Escrituras que ele lhe ensinou. Ele mesmo talhou na madeira uma bengala para tornar fácil sua locomoção, e ela logo aprendeu a orientar-se pelo castelo, nunca se aproximando do quarto dos pais, que não queriam encontrá-la.   
     Quando Margarida tinha seis anos de idade, passaram por Metola alguns visitantes, e quando a menina foi até a capela para rezar, foi vista por uma das convidadas que, obviamente, ficou intrigada com a presença da criança cega e aleijada.
     Para evitar futuros riscos de sua filha ser descoberta, o pai construiu uma cela perto da Igreja de Santa Maria della Fortezza, que ficava cerca de quatrocentos metros do castelo, no meio da mata, e ali trancou a filha, que passava o tempo rezando, nutrida pela comida que lhe era entregue pela janela.
     Nos nove anos que ela ali permaneceu, recebia visitas frequentes do capelão. Este não concordava com a atitude dos pais da criança, mas nada podia fazer. Para compensar sua solidão, ele continuava a dar-lhe instrução religiosa e os Sacramentos. Ela também recebia raras visitas de sua mãe.
     Ela só foi retirada daquele lugar quando Massa Trabaria foi invadida por inimigos. Margarida terminou em um lugar pior, no porão do palácio de seu pai em Mercatello.
     Quando o perigo da guerra passou, seus pais decidiram levá-la ao túmulo de Frei Tiago, na Igreja de São Francisco, em Città di Castello, um franciscano que havia morrido em odor de santidade no ano de 1292, na esperança de que um milagre pudesse curar sua filha.
     A viagem de um dia através das montanhas dos Apeninos foi longa e desconfortável. Margarida estava feliz e mais tarde contou que foi a única vez que seus pais lhe demonstraram amor.
     Mas, os pais ficaram decepcionados, pois o milagre não aconteceu... Sem dizer uma palavra, secretamente eles fizeram o caminho de volta, abandonando-a, livrando-se dela para sempre. Quando a jovem, que tinha cerca de quinze anos, se deu conta, seus pais a haviam abandonado naquela cidade completamente desconhecida.
     "Meu pai e minha mãe me abandonarem, mas o Senhor me recebeu", diz o salmista. E foi o que aconteceu com ela.
     Inicialmente alguns mendigos se apiedaram dela e ela tornou-se mendiga com eles. Após um curto período como mendiga, Margarida encontrou uma recepção calorosa nas famílias da cidade, que a hospedavam alternadamente, admirando sua bondade, sua serenidade, sua paciência inalterável. Com a oração contínua, ela recompensava seus benfeitores com a obtenção de apoio material e moral às suas famílias.
     Com cerca de 20 anos foi recebida em um mosteiro, onde com alegria começou uma nova jornada espiritual empenhando-se na observância da Regra de uma Ordem que o seu antigo biógrafo não revela o nome. Infelizmente nesse convento as religiosas viviam em um ambiente relaxado e, depois de um tempo, o comportamento da noviça cega que aderiu ao silêncio, a pobreza e a meditação, tornou-se um fator de desconforto no convento. Como Margarida recusasse qualquer abrandamento, foi dispensada do mosteiro e encontrou-se novamente sozinha e abandonada na rua.
     Foi então que ela conheceu, na Igreja da Caridade, dirigida por frades dominicanos, as Mantellate, membros leigos da Ordem da Penitência de São Domingos. Margarida foi recebida e assim, fazendo parte de uma família religiosa, encontrou irmãos e irmãs e um grande ideal para os quais se dedicar: contemplar a Deus e transmiti-lo com a oração e a penitência. A pobre cega também foi Mantellata.
     Apesar de seus infortúnios físicos, praticava um intenso apostolado de misericórdia junto aos doentes e moribundos, e aliviava os corações aflitos com uma boa conversa que a todos reconduzia ao amor de Deus.
      Claros sinais sobrenaturais revelavam que Margarida estava muito próxima do coração de Deus, e que O amava com um amor sempre mais puro e profundo. Duas vezes ela previu o futuro e suas profecias se cumpriram, obteve a cura milagrosa de uma jovem e apagou um incêndio jogando seu manto contra as chamas. Também com o toque da sua mão curou o olho doente de uma Irmã. Depois destes fatos, a “mantellata” se tornou cada vez mais célebre em toda a região por sua santidade. Durante suas orações intensas tinha êxtases profundos, especialmente se estava na presença de grandes misérias e sofrimentos.
     No início de 1320, Margarida percebeu que seu exílio longe de Deus estava prestes a terminar: o sofrimento físico aumentou, a sua alma ansiava apenas por se libertar do corpo mortal.
     Ela faleceu no dia 13 de abril, no segundo domingo de Páscoa, com a idade de 33 anos. Os habitantes de Città di Castello correram em massa para a despedida final. Muitos milagres ocorreram em seu túmulo, que sempre foi cercado de grande reverência.
     A Ordem Dominicana deu os primeiros passos para a causa da beatificação de Margarida, mas por várias razões ela não prosperou.
     Em 9 de junho de 1558, o bispo autorizou a transferência dos seus despojos para um novo caixão. A exumação foi realizada na presença de numerosas testemunhas oficiais. Quando o ataúde foi aberto, todos ficaram repletos de reverência. A vestimenta estava coberta de poeira, mas o corpo de Margarida foi encontrado preservado, flácido e flexível. Ela tinha os braços cruzados sobre o corpo.
    Ao abrirem uma das laterais do ataúde, o braço direito, ficando sem apoio, deslizou espontaneamente para fora e com facilidade foi recolocado sobre o corpo. Ao examinarem o corpo, os médicos se certificaram que não se havia usado nenhuma técnica artificial, nem havia nenhuma causa natural de conservação.
   O corpo foi colocado em exposição pública e muitos milagres aconteceram, os quais, após conscienciosa análise, foram reconhecidos pela Igreja e aprovados para a beatificação.
     A causa da beatificação foi retomada e em 19 de outubro de 1609, o Papa Paulo V concedeu aos dominicanos daquela cidade a Missa e o Ofício próprios da Beata. Em 6 de abril de 1675 o Papa Clemente X estendeu este privilégio à Ordem toda.  Em 1988, o bispo de Urbino proclamou a Beata Margarida de Città di Castello padroeira diocesana dos cegos.
     O corpo de Margarida, deformado em vida, permanece perfeitamente intacto após sua morte, e agora se encontra sob o altar-mor da Igreja de São Domingos, em Città di Castello, Itália.
Vista da Città di Castelo, Itália
     No coração da pequena cega foi encontrado um fenômeno de estigmatização: três pequenas bolas que carregam as imagens da Sagrada Família. Esta descoberta lembrou o grande amor de Margarida pelo Verbo Encarnado, por Nossa Senhora e por São José, dos quais ela sempre falava com enlevo, e as palavras que muitas vezes tinha pronunciado: "Ah, se vocês soubessem o tesouro que eu tenho em meu coração, vocês se maravilhariam!"
     Sua celebração ocorre no dia de seu falecimento, 13 de abril.
     A Santa Margarida é patrona dos cegos e dos deficientes. Mas, ela também poderia ser declarada padroeira dos não nascidos, pois se ela tivesse sido concebida nos dias de hoje, provavelmente seria abortada, ou abandonada à morte, como tantas crianças encontradas em cestos de lixo e em locais os mais inóspitos.
     Santa Margarida de Città di Castelo, rezai pedindo que a cegueira espiritual dos nossos dias cesse o quanto antes! 
Fonte principal: domenicanecaterina.org

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