O
país das lágrimas tem muitos habitantes. O Papa Francisco, continuando sua
reflexão sobre as bem-aventuranças como caminho de santidade, retoma mais um
tema da santidade: “Felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt
5,4).
O mundo procura esconder os sofrimentos e as lágrimas. Querem o riso e a
alegria do ter, do poder e do prazer. Não percebem que ter, prazer e poder provoca
muito sofrimento e muita lágrima. São os pecados dos três poderes: o ter, o
prazer e o poder. A busca do gozo, da alegria e do prazer usa o poder e as
riquezas. As pessoas têm medo da dor e da desgraça. O caminho da cruz não é
reconhecido. O sofrimento não faz parte da vida espiritual das pessoas,
principalmente de certos movimentos religiosos. Confundem ter problemas com
falta de vida espiritual. Pensam que ser cristão é não ter problemas. Não
percebem que vida cristã é felicidade com problema e dores. Jesus dizia: “Devo
receber um batismo (sua morte) e, como me angustio até que seja consumado!” (Lc
12,50).
Diz o Papa Francisco: “Quem é do mundo ignora quando há problemas de doença ou aflição na
família ou ao seu redor. O mundo não quer chorar: prefere ignorar as situações
dolorosas, cobri-las, escondê-las. Gastam-se muitas energias para escapar das
situações onde está presente o sofrimento, julgando que é possível dissimular a
realidade, onde nunca, nunca, pode faltar a cruz” (GE 75). O sofrimento não é entendido pelos cristãos que o veem como castigo.
Até dizem: “Por que acontece isso comigo que fiz tanta coisa boa”? “Que
adiantou rezar se não consegui o milagre”. Outros se colocam como juízes e dizem:
“Você não rezou bem”.
2119. A dor que não fere o coração
A dor, assumida
como Jesus o fez em sua paixão, não fere o coração. A alma que vive a fé
conhece os males do mundo e chora por eles. Tem capacidade de chorar com as
pessoas (GE 75). “Esta pessoa sente que o outro é carne
da sua carne, não teme aproximar-se até tocar a sua ferida, compadece-se até
sentir que as distâncias são superadas. Assim é possível acolher aquela
exortação de São Paulo: ‘Chorai com os que choram’ (Rm 12,15). A pessoa
consolada com a consolação de Jesus é capaz de descobrir que a vida tem sentido socorrendo o
outro na sua aflição, compreendendo a angústia alheia, aliviando os outros” (GE 75). Chorar é deixar que não somente nossa razão conheça as realidades
dolorosas, mas deixar que o coração possa sentir junto, participando da mesma
dor. Não sentindo a mesma dor, mas ter o coração capaz de captar a dor do
semelhante e assumi-la como sua, não para tê-la, mas para libertá-lo de não
sofrer sem que o Consolador esteja junto. Jesus se encarnou porque agiu assim.
“Ele assumiu nossas dores” (Mt 8,17 – Is 53,4). Cristo sofreu e, como consolador,
assumiu o que somos para nos indicar o caminho da superação: “Meu Pai, se é
possível, que passe de mim este cálice, contudo não seja como eu quero, mas
como tu queres” (Mt 26, 39). A consolação de Jesus é a certeza que
o Pai assim o quer. Esse é o sentido do Anjo que O consola (Lc 22,43). Chora com os que choram.
2120. Consolação espiritual
“Quem, vendo os sofrimentos e, se deixa
trespassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as
profundezas da vida e ser autenticamente feliz. Esse é consolado, mas com
a consolação de Jesus e não com a do mundo. Assim pode ter a coragem de
compartilhar o sofrimento alheio, e deixar de fugir das situações dolorosas”.
Assim conclui o Papa Francisco. Saber chorar com os outros: isto é santidade. (GE 76). Diversamente é a consolação espiritual de um gozo místico, no prazer
de estar com Deus. É preciso ser como Jesus que também vivia essa dimensão, mas
para Ele, era fundamental unir sua vida ao sofrimento de cada filho de Deus.
Sem isso, pode ser uma ilusão.
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