segunda-feira, 2 de outubro de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “Lendo a Bíblia com sabedoria”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
1942. Ler a Palavra com os dois olhos
            A palavra bíblia significa livros. É uma biblioteca da sabedoria de Deus. Ele se serviu dos homens e, pela ação do Espírito Santo, colocou sua sabedoria a tal modo que as pessoas entendessem. Deus não iria fazer algo só para alguns, mas abriu seus tesouros também para os humildes. A Bíblia não é um privilégio só dos estudiosos. Primeiro é palavra de Deus. Mas escrita na linguagem dos homens. Temos que ter consciência que foi escrita na linguagem de um tempo. Há coisas que não são de nosso linguajar. Ela não foi escrita de uma vez. Foram quase mil anos para escrever, recolhendo tradições antiqüíssimas, como por exemplo, as narrativas do Genesis, Êxodo, Juízes etc... Cada texto tem que ser entendido como palavra de Deus, mas para ver o que diz é preciso também conhecer sua origem. Não podemos pegar frases soltas e dizer o que queremos. Cada palavra tem seu contexto. A Bíblia é o livro mais traduzido e podemos dizer, o mais estudado. É bom usar a sabedoria humana para acolher melhor a sabedoria de Deus. Temos que entender sempre melhor o que o escritor sagrado quis nos dizer. Do contrário, podemos anular o que nos é proposto pela Palavra. Esses estudos já são antigos e podem nos iluminar. É preciso estudar. É mais fácil jogar sobre a Palavra nossas palavras e assim seguir caminhos que não levam à sua compreensão. A primeira preocupação é saber que ela foi escrita por homens, inspirados por Deus. 
1943. Como estudar?
            Um primeiro elemento a se ter em conta é o gênero literário. A Palavra de Deus é igual para todos os textos. Mas o sentido do texto tem que partir do gênero literário, isto é, ver como foi escrito. É diferente um livro profético de um histórico. Um apocalíptico é diferente de um livro de salmos. Há frases que não trazem uma revelação. São todos inspirados, mas não ensinam algo espiritual. Por exemplo: “O cachorro de Tobias foi correndo como mensageiro e mostrava seu contentamento fazendo festas abanando a cauda” (Tb 11,9). O texto tem que ser interpretado e usado conforme seu gênero literário. Houve no Antigo Testamento um longo caminho de composição da Palavra de Deus. Houve um crescimento do povo. Desde a saída de Abraão até a ressurreição de Jesus há uma diferença. Temos que entender os tempos históricos. Há uma ordem de matar todos as pessoas e animais. Em Jesus vamos ver outra linguagem. Temos que ver o Antigo Testamento a partir da revelação de Jesus. Não destruímos o Antigo Testamento, mas o entendemos num processo pedagógico que Deus usa para preparar seu povo para a vinda de seu Filho, Palavra viva.
1944. Jesus é o modelo de entender a Palavra
            Dizendo que não veio abolir a lei e os profetas, mas levar à perfeição, Jesus modifica textos do Antigo Testamento. Estava escrito: “Olho por olho, dente por dente” Jesus modifica e diz: “Aquele que te fere a face direita, oferece-lhe também a esquerda” (Mt 5,38). Essa frase é da lei do Talião de Hamurabi, da Mesopotâmia, do sec. XVIII AC. Com isso podemos ver que a leitura tem que ser criteriosa e não pode ser tomar um texto isolado dos outros nem fora de seu tempo. Aperfeiçoamento não significa negar, mas levar adiante. Quantas leis que há no Antigo Testamento que foram deixadas de lado. Para isso é preciso ver como as comunidades primitivas acolheram a Palavra de Deus do Antigo Testamento e foram capazes de discernir as do Novo Testamento. Por isso é preciso estudar. O Espírito Santo ilumina, mas não substitui. Temos que fazer também nossa parte.

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