Em sua última viagem a Jerusalém para realizar
seu Batismo de sangue, como lemos no evangelho (Mc 10,39), Jesus passa por Jericó, a mais antiga cidade
do mundo, fazendo o caminho a Jerusalém. São 37 km. À beira do caminho estava
um cego chamado Bar-Timeo (Filho de Timeo) que pedia esmolas. Ao saber que era Jesus de Nazaré que passava, começou
a gritar: Jesus, Filho de Davi, tende compaixão de mim. Esta prece entrou na
liturgia e na vida espiritual dos contemplativos do Oriente. E se canta: Kyrie, eleison – Senhor, tem piedade.
Ele diz Filho de Davi, que é o Messias e vai fazer maravilhas para os
necessitados. Amigavelmente Jesus o acolheu e perguntou: “Que queres que eu te
faça?” (Mc 10,51).
Sua palavra reflete o anseio de quem quer ver mais longe: “Senhor, que eu
veja”! Ele usa o termo: Rabbuni – Mestre. É a mesma palavra
usada por Madalena na manhã da Ressurreição (Jo 20,16). Abrir os olhos é ver o Ressuscitado. A
resposta de Jesus esclarece o sentido do milagre: “Vai, a tua fé te curou”! Não
se trata de uma fé que o leva a curar, mas de uma fé que leva a ver em Jesus o
Messias prometido. As palavras que seguem são a indicação da finalidade do
milagre: “No mesmo instante ele recuperou a vista e seguiu Jesus” (51-52). Pela
fé poderemos continuar o processo de cura das pessoas usando os dons que Deus nos
deu. Precisamos ser curados da cegueira do egoísmo espiritual
Fé que transforma
A fé é um dom Divino transformante. Bar-Timeo,
depois de curado seguiu Jesus. Vê a luz e a segue. A primeira leitura,
referindo-se à volta de onde estiveram dispersos. Transforma a vida dos
sofredores, pois Deus se tornara um pai para seu povo (Jr
317-9). O salmo 135, referindo-se
ao retorno do exílio na Babilônia narra as maravilhas do retorno. Existe uma
grande transformação como sair da escuridão da cegueira e ir para a luz
maravilhosa de Deus. A transformação acontece porque Jesus, em sua encarnação,
participou integralmente da natureza humana, e mesmo de sua fragilidade: “Sabe ter
compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque Ele mesmo está cercado
de fraquezas” (Hb 5,2).
Ter compaixão dos fracos é fruto da transformação que existe naquele que se sente
fraco e tem a misericórdia de Deus. Por isso sabe compadecer-se. Este é o
sentido fundamental do sacerdócio de Cristo. Seu sofrimento foi sacerdotal: dar
a vida para que todos tivessem vida. Esta é o sacerdócio que Cristo quis para
sua Igreja: Ser misericordioso porque Deus foi misericordioso com Ele. Há muita
gente à beira do caminho da fé. Compete a nós conduzi-los a Jesus. O que mais
vemos é mandar que se cale, ou nos fazemos surdos a seus gritos que se
expressam de maneiras tão misteriosas.
Ver com os olhos da fé
Não
nos preocupamos muito em saber o que vêem os olhos da fé. Enxergar com os olhos
naturais nos abre a imensidão das belezas criadas. Ver com a fé é enxergar as
riquezas espirituais; é ver a dimensão espiritual que possuem as coisas naturais
e através delas, como diz Paulo aos Romanos, dar glória ao Criador (Rm 1,21); é ver o fio maravilhoso que une nossa vida
terrena à vida eterna; é poder ver a ação de Deus nas realidades que nos
cercam; é conduzir a vida, mesmo nas dificuldades na direção daquele que nos
ama com amor incondicional; é deixar o amor tornar-se uma fonte que jorra para
eternidade; é sair da preciosa pequenez humana para a grandeza da Vida Divina
da qual participamos; é reconhecer e acolher em cada sacramento a ação de Deus
que nos redime e nos sustenta.
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