Evangelho
segundo S. Lucas 13,10-17.
Naquele tempo, estava Jesus a ensinar ao sábado numa
sinagoga. Apareceu lá uma mulher com um espírito que a tornava enferma havia dezoito
anos; andava curvada e não podia de modo algum endireitar-se. Ao vê-la, Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher, estás livre da tua enfermidade»; e impôs-lhe as mãos. Ela endireitou-se logo e começou a dar glória a Deus. Mas o chefe da sinagoga, indignado por Jesus ter feito uma cura ao sábado,
tomou a palavra e disse à multidão: «Há seis dias para trabalhar. Portanto,
vinde curar-vos nesses dias e não no dia de sábado». O Senhor respondeu: «Hipócritas! Não solta cada um de vós do estábulo o seu boi
ou o seu jumento ao sábado, para o levar a beber? E esta mulher, filha de Abraão, que Satanás prendeu há dezoito anos, não devia
libertar-se desse jugo no dia de sábado?». Enquanto Jesus assim falava, todos os seus adversários ficaram envergonhados e
a multidão alegrava-se com todas as maravilhas que Ele realizava.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
São Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja
Homílias sobre o Evangelho, n.° 31
«Mulher, estás livre da tua
enfermidade»
«Naquele tempo, estava Jesus a ensinar ao
sábado numa sinagoga. Apareceu lá uma mulher com um espírito que a tornava
enferma havia dezoito anos; andava curvada e não podia de modo algum
endireitar-se.» [...] O pecador, preocupado com as coisas da terra e não
procurando as do Céu, torna-se incapaz de olhar para o alto: ao seguir os
desejos que o conduzem para baixo, a sua alma, perdendo a retidão, curva-se, e
apenas vê aquilo em que pensa incessantemente. Voltai-vos para dentro do vosso
coração, irmãos muito estimados, e examinai continuamente os pensamentos que
não cessam de agitar o vosso espírito. Um pensa nas honras, outro no dinheiro,
outro ainda em aumentar as suas propriedades. Todas essas coisas são inferiores
e, quando o espírito investe nisso, altera-se, perdendo a sua retidão. E,
porque não se engrandece para desejar os bens do alto, está como esta mulher
curvada, que não consegue de modo nenhum olhar para cima. [...] Efetivamente, o salmista descreveu bem a nossa curvatura quando disse de si
próprio, como símbolo de todo o género humano: «Ando cabisbaixo e profundamente
abatido» (Sl 37,7). Considerava que o homem, tendo sido criado para contemplar
a luz do alto, fora expulso do paraíso devido aos seus pecados, e que,
consequentemente, as trevas reinavam na sua alma, fazendo-o perder o apetite
das coisas do alto e arrastando toda a sua atenção para as inferiores. [...] Se
o homem que perdeu de vista as coisas do Céu pensasse apenas nas necessidades
deste mundo, andaria sem dúvida curvado e humilhado, mas não «em excesso». Ora,
como não é só a necessidade que faz descer os seus pensamentos [...], mas
também o prazer proibido que o esmaga, não anda somente curvado, mas curvado em
excesso.
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