terça-feira, 31 de maio de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Semana das Dores”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Nossos pés na bacia santa
            Jesus sempre nos surpreende com suas atitudes. Parece que é do contra. Na hora de chegar ao ponto máximo de sua vida, no qual instituiria o sacramento de sua Morte e Ressurreição, fez o gesto de lavar o pé dos discípulos. Pegou uma bacia e começou a lavar os pés dos apóstolos. Serviço de escravo. Com este gesto estava resumindo e dando um símbolo a toda sua vida e o significado de sua morte e Ressurreição. Tudo nele foi serviço humilde de escravo, como diz a carta aos Filipenses (Fl 2,5-11). Lembramos o Servo Sofredor, em Isaias, é uma profecia sobre Jesus. Como Paulo nos escreve, “Ele tinha a condição divina... mas esvaziou-se a si mesmo”. Não perdeu a divindade, mas a glória que tinha por direito. Como seria Deus, se aparecesse para nós? Ele mostrou: Na humilde figura do homem desde sua infância. “E assumiu a condição de servo”. Não se mostrou como o Senhor. “Tendo-se comportado como homem, humilhou-se e foi obediente até à morte e morte de cruz”. Suas atitudes devem ser vistas a partir desta escolha que Deus fez. A cena do lava-pés perpassa todo seu mistério de Encarnação, Vida, Morte e Ressurreição. Tudo é serviço humilde. A Eucaristia não é um rito, é uma vida que se manifesta. Para não nos comprometer, fazemos um rito com perfeição. Temos bacias douradas que ficam no armário e não são levadas para o dia a dia como fez Jesus. Com esse gesto, Jesus mostra como devem ser os que o seguem. Se todo mundo servisse, todos seriam bem servidos. Eucaristia é serviço e ensina a servir e dar a vida. A devoção é mais fácil que a ação.
Aprendendo pelo dor do amor
          Estamos acostumados a ouvir a frase: “Se não aprende pelo amor, aprende pela dor”. Na Sexta-Feira Santa nós O contemplamos na extrema dor. Canta a Verônica: “Olhai e vede se existe dor maior que minha dor”. É a dor de quem ama e doa a vida. Jesus não reclama da dor. Ele até perdoa quem o mata. Por que Jesus tem que morrer na Cruz? Foi a conseqüência de assumir sua missão dentro de seu povo que não compreendeu a missão que lhes foi confiada. O Cordeiro Imolado assume seu sacrifício toda a humanidade em sua entrega a Deus.  “Quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9,22). Como o sangue é tido como a Vida, Jesus dá o sangue para que a Vida seja dada a todos. Todos passaram por seu sangue e são assim purificados. Olhar o Crucificado é ouvir: Assim é que se ama. Não tenha medo de pegar a cruz de Cristo. Ele é mais leve que a cruz que as pessoas nos colocam nas costas.
Banho de luz
            Jesus está no sepulcro. Silêncio! O rei está dormindo! Ele desperta vivo. O brilho da lua prateou suas vestes de ressuscitado. Ele vive glorioso. Assim apareceu aos seus. Eles contaram e nós acreditamos. Deve ter sido magnífico vê-lo vivo, glorificado. Jesus não voltou à vida. Ele passou à Vida. Nossa carne está ressuscitada nele. Como viveu nossa humanidade, passou com ela da morte para a Vida. Assim passamos com Ele para a vida Nova. O povo cristão é sensível aos sofrimentos de Cristo em sua Paixão e Morte. Mas não assumiu sua Ressurreição como fundamental da vida cristã. Se Jesus tivesse só morrido, não estaríamos salvos. Ele ressuscitou. Aí sim, temos a vida. Celebramos uma cerimônia na qual renovamos nosso batismo, isto é, nossa vida em Cristo. Isto ilumina nossa vida e nos faz ver abertas para nós as portas dos Céus. Celebrar o Mistério Pascal de Cristo é fazer-nos participantes de sua vida, morte e ressurreição. O melhor modo de celebrar e participar e penetrar o sentido das palavras que nos educam, fortalecem e fazem crescer em Cristo.

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