Evangelho segundo S. Marcos 10,17-27.
Naquele
tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo,
ajoelhou diante d’Ele e Lhe perguntou: «Bom Mestre, que hei-de fazer para
alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é
bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério;
não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e
mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a
juventude». Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma
coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no
Céu. Depois, vem e segue-Me». Ao ouvir estas palavras, o homem ficou abatido
e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua
volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar
no reino de Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas
Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de
Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico
entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos
outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus
respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é
possível».
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Basílio (c. 330-379), monge, bispo de Cesareia da Capadócia, doutor
da Igreja
Homilia 7, sobre a riqueza; PG 31, 278
«Ao ouvir estas palavras, [...] retirou-se
pesaroso.»
O caso do jovem rico e dos seus semelhantes
faz-me pensar no de um viajante que, pretendendo visitar uma cidade, ao
aproximar-se das suas muralhas, depara com uma estalagem, hospeda-se nela e,
desencorajado pelos últimos passos que ainda lhe falta dar, perde o benefício
das fadigas da viagem e acaba por não ir visitar as belezas da dita cidade.
Assim são os que cumprem os mandamentos mas se revoltam com a ideia de perderem
os seus bens. Conheço muitos que jejuam, rezam, fazem penitência e praticam todo
o tipo de obras de caridade, mas não dão uma esmola aos pobres. De que lhes
servem as outras virtudes?
Eles não entrarão no Reino dos Céus porque «é
mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no
reino de Deus». São palavras claras e o seu Autor não mente, mas raros são
aqueles que se deixam tocar por elas. «Como viveremos quando estivermos
despojados de tudo?» exclamam. «Que existência levaremos quando tudo for vendido
e já não tivermos propriedades?» Não me perguntem qual é o desígnio profundo que
está subjacente aos mandamentos de Deus. Aquele que estabeleceu as nossas leis
conhece igualmente a arte de conciliar o impossível com a lei.
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