A
misericórdia de Deus nos abraça nesta Quaresma com as contínuas propostas de
aliança que fez com nossos antepassados na fé. Houve um crescimento na
comunicação de Deus com seu povo a partir de Noé, passando por Moisés e pelos profetas
até chegar a Jesus. Nele aconteceu a aliança nova e eterna. Em Cristo, estamos em
comunhão com Deus. As alianças sempre foram seladas com sacrifícios simbólicos de
animais. A eterna aliança é selada e garantida pelo sangue do Cordeiro que com
sua morte e ressurreição, lavou nossas almas e nos adquiriu para Deus. Esta
aliança não é feita somente com o povo escolhido, mas com todos os povos, como
lemos no evangelho. Marcos narra que um grupo de gregos chegou a Filipe e disse:
“Queremos” ver Jesus (Jo 12,21). A atitude dos
gregos mostra para Jesus que já é o momento de sua glorificação, isto é, de sua
morte na cruz e de sua ressurreição. O caminho da redenção acontece
primeiramente em Jesus e é apoiado em sua obediência. O acolhimento da vontade
do Pai é causa de salvação a todos que Lhe obedecem. A obediência é sinal da interiorização
da aliança feita no coração. A morte e ressurreição de Jesus não são somente
acontecimentos, mas entrega obediente ao Pai. Ser discípulo é ser como o
Mestre: “Se alguém me quer seguir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu
servo” (Jo 12,26). Esse lugar é a cruz que é a
obediência ao Pai. Por isso é preciso perder a vida para ganhá-la. Perder a
vida é colocar-se em condição de permanente escuta do Pai. O salmo nos oferece
o caminho para o acolhimento da vontade do Pai: “Criai em mim um coração puro,
dai-me de novo um espírito decidido” (Sl 50). A Quaresma é o
momento ritual para essa renovação do coração. A Páscoa penetra toda a vida.
Por isso caminhamos com alegria como Jesus.
Entre gritos e
lágrimas
A reflexão nos
conduz a compreender Jesus em sua condição de vítima que se oferece. Diante do
sofrimento, sofreu como sofre todo homem e mais ainda, assumiu em si toda a
humanidade sofredora. “Ele, como lemos na carta aos Hebreus, dirigiu preces e
súplicas com forte clamor e lágrima àquele que era capaz de salvá-lo da morte e
foi atendido por causa de sua entrega a Deus” (Hb 5,7). Sofreu como
todo homem e se tornou modelo de aceitação da vontade do Pai. Tem certeza que
Deus não O abandona, mas O acolhe na ressurreição. O evangelho usa o grão de trigo como exemplo:
Cristo se assemelha ao grão de trigo: vai morrer para viver e dar vida. Apegar-se
à vida é perdê-la. A vida tem sentido se é doada como multiplicação, como o
grão que morre para dar vida. “Quando eu for elevado da terra atrairei todos a
mim” (Jo 12,32). A fé não é sentimento. É um doloroso feliz unir-se ao
Cristo que Se oferece ao Pai pelo mundo.
Caminhar com a
mesma alegria
Participar dos sofrimentos não
significa viver triste e acabrunhado com a dor e as expectativas de
sofrimentos. É um alegre consumir-se. O quarto domingo nos revela que a Paixão
não foi um acaso. Jesus disse em outro lugar: “Devo receber um batismo, e como
me angustio até que esteja consumado” (Lc 12,50). Batismo
significa sua Paixão. Correspondemos a esse sentimento ao rezar na oração da
missa: “Dai-nos por vossa graça caminhar com alegria na mesma caridade que
levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo” (coleta). Esse amor de
doação lhe dá uma alegria que supera a dor. O que mede o sacrifício da cruz não
é a dor, mas o amor.
Leituras 34,31,31: Jeremias; Salmo 50;Hebreus 5-7-9;
João 12,20-33
1.
As alianças de Deus com o povo culminam em
Jesus. Elas se destinam a todos os povos, como sugere o pedido dos gregos:
Queremos ver Jesus. Nesse episódio Jesus vê chegado o momento de sua
glorificação (morte e ressurreição). O caminho de Jesus é apoiado em sua
obediência ao Pai. Obediência é sinal de interiorização da aliança. Ser
discípulo é ser como o Mestre: Perder para ganhar. É preciso um coração novo.
2.
Compreendemos
Jesus em sua condição de vítima. Sofreu como homem e assumiu a humanidade
sofredora. Tem certeza que o Pai não O abandona, pois O acolhe na ressurreição.
O evangelho usa a comparação do grão de trigo: “morrer para viver e dar vida”.
A fé não é sentimento. É oferecer-se ao Pai pelo mundo.
3.
Participar
dos sofrimentos não significa tristeza. Jesus deseja esse momento. Rezamos:
“Dai-nos por vossa graça caminhar com alegria na mesma caridade que levou vosso
Filho a entregar-se à morte por amor ao mundo. Esse amor lhe dá alegria.
Plantando
coração
Jesus faz uma
comparação de sua vida com o grão de trigo plantado que tem que morrer para
nascer. Assim Ele também vai morrer e ressuscitar. Não precisamos morrer, mas
temos que saber perder o que vale menos para ter o que vale mais.
Essa
plantação se faz no coração, como nos explica Jeremias. A aliança que era
concluída com ritos agora é escrita no coração. Jesus explica que é preciso
mudar o interior e saber perder para ter o melhor, como aconteceu com Ele.
Ao passar pelo sofrimento do desapego e do abandono de muitas coisas
para ter a maior, sofremos como Jesus que chorou e gritou para ser salvo da
morte. E foi ouvido no fruto da ressurreição. Por isso o salmista reza: “Criai
em mim um coração puro”. Rezamos na oração da missa: “Dai-nos caminhar com
alegria na mesma caridade que levou vosso Filho a entregar-se à morte pelo
mundo”.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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