Evangelho segundo S. João 8,21-30.
Naquele
tempo, disse Jesus aos fariseus: «Eu vou partir. Haveis de procurar-Me e
morrereis no vosso pecado. Vós não podeis ir para onde Eu vou». Diziam então
os judeus: «Irá Ele matar-Se? Será por isso que Ele afirma: ‘Vós não podeis ir
para onde Eu vou’?» Mas Jesus continuou, dizendo: «Vós sois cá de baixo, Eu
sou lá de cima; vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo. Ora Eu
disse-vos que morrereis nos vossos pecados, porque, se não acreditardes que ‘Eu
sou’, morrereis nos vossos pecados». Então perguntaram-Lhe: «Quem és Tu?»
Respondeu-lhes Jesus: «Absolutamente aquilo que vos digo. Tenho muito que
dizer e julgar a respeito de vós. Mas Aquele que Me enviou é verdadeiro e Eu
comunico ao mundo o que Lhe ouvi». Eles não compreenderam que lhes falava do
Pai. Disse-lhes então Jesus: «Quando levantardes o Filho do homem, então
sabereis que ‘Eu sou’ e que por Mim nada faço, mas falo como o Pai Me ensinou. Aquele que Me enviou está comigo: não Me deixou só, porque Eu faço sempre o
que é do seu agrado». Enquanto Jesus dizia estas palavras, muitos
acreditaram n’Ele.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos
Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Santo Atanásio (295-373), bispo de Alexandria, doutor da Igreja
Sobre a Encarnação do Verbo, 21-22
«Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a
saber que Eu sou»
Alguém poderia perguntar: se Cristo vinha
entregar o seu corpo à morte por todos, porque não o fez simplesmente como um
homem, porque foi a ponto de o fazer crucificar? Poder-se-ia dizer que era mais
conveniente para Ele abandonar o seu corpo com dignidade, do que sofrer o
ultraje de tal morte. Mas trata-se de uma objecção demasiado humana; ora, o que
aconteceu ao Salvador é verdadeiramente divino e digno da sua divindade por
várias razões.
Primeiro, porque a morte que acontece aos homens
chega-lhes por causa da fraqueza da sua natureza; não podendo durar muito tempo,
eles vão-se desintegrando: contraem doenças e, tendo perdido as suas forças,
morrem. Mas o Senhor não é fraco; ele é o Poder de Deus, ele é a Palavra de Deus
e a própria Vida. Se tivesse abandonado o seu corpo em privado, numa cama, à
maneira dos homens, pensaríamos […] que não tinha nada a mais que os outros
homens. […] Não convinha que o Senhor estivesse doente, Ele que curava as
doenças dos outros. […]
Mas então, porque não descartou Ele a morte
como descartou a doença? Porque tinha um corpo precisamente para isso, e para
não estorvar a ressurreição. […] Mas, poderá alguém dizer, Ele devia ter evitado
as intrigas dos seus inimigos, para manter o seu corpo completamente imortal.
Mas também isso não era adequado ao Senhor. Tal como não era digno da Palavra de
Deus, que era a Vida, dar a morte ao seu corpo por sua própria iniciativa,
também não Lhe convinha fugir da morte dada por outros. […] Tal atitude não era
uma fraqueza do Verbo; antes, dava-O a conhecer como Salvador e como Vida. […] O
Salvador não veio extinguir a sua própria, morte mas a dos homens.
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