Evangelho segundo S. João 8,51-59.
Naquele
tempo, disse Jesus aos judeus: «Em verdade, em verdade vos digo: Se alguém
guardar a minha palavra, nunca verá a morte». Responderam-Lhe os judeus:
«Agora sabemos que tens o demónio. Abraão morreu, os profetas também, mas Tu
dizes: ‘Se alguém guardar a minha palavra, nunca sofrerá a morte’. Serás Tu
maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas também morreram. Quem
pretendes ser?» Disse-lhes Jesus: «Se Eu Me glorificar a Mim próprio, a
minha glória não vale nada. Quem Me glorifica é meu Pai, Aquele de quem dizeis:
‘É o nosso Deus’. Vós não O conheceis, mas Eu conheço-O; e se dissesse que
não O conhecia, seria mentiroso como vós. Mas Eu conheço-O e guardo a sua
palavra. Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia; ele viu-o e exultou
de alegria». Disseram-Lhe então os judeus: «Ainda não tens cinquenta anos e
viste Abraão?!» Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo:
Antes de Abraão existir, ‘Eu sou’». Então agarraram em pedras para
apedrejarem Jesus, mas Ele ocultou-Se e saiu do templo.
Da
Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208),
bispo, teólogo, mártir
Contra as heresias
«Abraão exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou
feliz»
«Abraão, vosso pai, exultou pensando em ver
o meu dia; viu-o e ficou feliz.» Que quer isto dizer? «Abraão acreditou em Deus
e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça» (Gn 15,6; Rom 4,3). Em primeiro
lugar acreditou que Ele era o criador do céu e da terra, o Deus único; depois,
que Ele tornaria a sua posteridade semelhante às estrelas do céu (Gn 15,5).
Paulo também o diz: «como astros no mundo» (Fil 2,15). Portanto, foi a justo
título que, deixando toda a sua parentela deste mundo, ele seguiu a Palavra de
Deus, tornando-se estrangeiro com o Verbo, a fim de se tornar cidadão com o
Verbo, o Filho de Deus (cf Ef 2,19). Foi também a título de justiça que os
apóstolos, descendentes de Abraão, deixaram o barco e o seu pai e seguiram o
Verbo (Mt 4,22). E é a justo título que nós, que temos a mesma fé de Abraão,
tomando a nossa cruz tal como Isaac levou a lenha, seguimos este mesmo Verbo (Gn
22,6; Mt 16,24).
Porque em Abraão, o homem já tinha aprendido e já
se tinha acostumado a seguir o Verbo de Deus. Na sua fé, com efeito, Abraão
observou o mandamento da Palavra de Deus e não hesitou em entregar «o seu único
e amado filho» em sacrifício a Deus (Gn 22,2), a fim de que Deus também
aceitasse, em favor da toda a sua posteridade, entregar o seu bem-amado Filho
único em sacrifício pela nossa redenção (Rom 8,32).
E como Abraão
foi profeta e viu no Espírito o dia da vinda do Senhor e o desígnio da sua
Paixão, quer dizer, a salvação para si mesmo e para todos aqueles que, como ele,
cressem em Deus, estremeceu com grande alegria. O Senhor Jesus Cristo não era,
portanto, desconhecido de Abraão, visto que este desejou ver o seu dia. E foi
assim que, instruído pelo Verbo, Abraão também conheceu o Pai do Senhor e
acreditou nele. […] Por isso disse: «Ergo a minha mão para o Senhor, o Deus
Altíssimo que criou os céus e a Terra» (Gn 14,22).
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