Evangelho segundo S. João 10,31-42.
Naquele
tempo, os judeus agarraram em pedras para apedrejarem Jesus.Então Jesus
disse-lhes: «Apresentei-vos muitas boas obras, da parte de meu Pai. Por qual
dessas obras Me quereis apedrejar?» Responderam os judeus: «Não é por
qualquer boa obra que Te queremos apedrejar: é por blasfémia, porque Tu, sendo
homem, Te fazes Deus». Disse-lhes Jesus: «Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu
disse: vós sois deuses’? Se a Lei chama ‘deuses’ a quem a palavra de Deus se
dirigia, e a Escritura não pode abolir-se de Mim, que o Pai consagrou e
enviou ao mundo, vós dizeis: ‘Estás a blasfemar’, por Eu ter dito: ‘Sou Filho de
Deus’!» Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis. Mas se as faço,
embora não acrediteis em Mim, acreditai nas minhas obras, para reconhecerdes e
saberdes que o Pai está em Mim e Eu estou no Pai». De novo procuraram
prendê-l’O, mas Ele escapou-Se das suas mãos. Jesus retirou-Se novamente
para além do Jordão, para o local onde anteriormente João tinha estado a batizar
e lá permaneceu. Muitos foram ter com Ele e diziam: «É certo que João não
fez nenhum milagre, mas tudo o que disse deste homem era verdade». E muitos
ali acreditaram em Jesus.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos
Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São João Paulo II (1920-2005), papa
Audiência Geral 6/12/79
«Está escrito na vossa Lei: "Eu disse: vós sois
deuses"»
«Deus disse: façamos o homem à nossa imagem,
à nossa semelhança» (Gn 1,26). Como se o Criador entrasse em Si mesmo; como se,
criando, não chamasse apenas do nada à existência dizendo: «Faça-se!», mas, de
uma maneira particular, tirasse o homem do mistério do seu próprio ser. E é
compreensível que assim fosse, porque não se tratava somente do ser, mas da
imagem. A imagem deve reflectir; deve reproduzir, em certo sentido, a substância
do seu protótipo. [...] É evidente que esta semelhança não deve ser entendida
como um «retrato», mas como o facto de este ser vivo ter uma vida semelhante à
de Deus. [...]
Definindo o homem como «imagem de Deus», o livro do
Génesis mostra aquilo pelo qual o homem é homem, aquilo pelo qual é um ser
distinto de todas as outras criaturas do mundo visível. A ciência, sabemo-lo,
fez e continua a fazer, nos diferentes domínios, numerosas tentativas para
mostrar as ligações do homem com o mundo natural, para mostrar a sua dependência
deste mundo, a fim de o inserir na história da evolução das diferentes espécies.
Respeitando totalmente essas investigações, não nos podemos limitar
a elas. Se analisarmos o homem no mais profundo do seu ser, veremos que ele é
mais diferente do que semelhante ao mundo da natureza. É igualmente neste
sentido que procedem a antropologia e a filosofia, quando procuram analisar e
compreender a inteligência, a liberdade, a consciência e a espiritualidade do
homem. O livro do Génesis parece ir à frente de todas estas experiências da
ciência e, ao dizer do homem que ele é «imagem de Deus», faz-nos compreender que
a resposta ao mistério da sua humanidade não deve ser procurada na sua
semelhança com o mundo da natureza. O homem assemelha-se mais a Deus que à
natureza. É neste sentido que o salmo diz: «Vós sois deuses!» (Sl 82,6),
palavras que Jesus retomará.
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