sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Ser discípulo é anunciar”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Jesus é um profeta incômodo
            A Palavra de Deus do 4º domingo reflete sobre Jesus como “O Profeta”. Não um profeta. Quanto se fala desta figura, deve-se retornar ao Antigo Testamento, no livro do Deuteronômio, na profecia de Moisés: “O Senhor fará surgir para ti (...) um profeta como eu; a ele deverás escutar”. Esta figura “do Profeta”, é a garantia do povo de Deus. Dizemos  O Profeta, com maiúsculo, porque não se trata de um profeta comum, um adivinho, um astrólogo etc... Seria um profeta como Moisés, que ouve as Palavra de Deus e fala só e tudo o que Deus quer. Jesus preenche esse requisito quando fala com poder, isto é, no Espírito Santo. Jesus, nesse sábado vai à comunidade “como é seu costume”. É muito bonito isso. Era um homem de comunidade. Sabia participar. Comunidade é o lugar de anunciar, da profecia, da Palavra de Deus e  também de enfrentar o “espírito mau”, não tanto um possesso (doente), mas o mal personificado em idéias e pessoas que configuram o falso profeta, o que Deus não mandou. O povo reconhece em Jesus o poder (Espírito Santo). O endemoniado, falando em nome do mal, reconhece nEle o Santo de Deus, Aquele que fala porque entrou em contato com Deus e tem poder de transformar o mundo, “destruir” o poder do mal. Jesus não é um incômodo pela falta de consistência, mas incomoda porque desmonta as estruturas de poder do mal. Por isso, o mal vai lhe fazer guerra, perseguindo-o, tentando-o até ao final.
Ser discípulo é exigente
            A decisão do discípulo por Jesus, como vimos na liturgia do domingo passado, é imediata, total e, por conseguinte, coloca-o em choque com um universo de recusas ao Reino de Deus, como Jesus viveu em sua tentação no deserto. São as “forças do mal”, energias que conduzem ao prazer pelo prazer, ao poder pelo poder e aos bens somente pelo egoísmo e individualismo. Resume toda pressão contrária ao Evangelho do Reino. Não se trata de forças em batalha, mas de tensões que exigem uma definição coerente e conseqüente. Ser discípulo não é fácil. Jesus diz: “não tenhais medo pequeno rebanho” (Lc 12,32). A cena do endemoniado é o palco do discípulo. Ele terá que ter o poder de Jesus  (o Espírito Santo) e a santidade (estar em relacionamento com Deus).
Testemunho da vida
            Como o discípulo viverá essa missão de Testemunho da palavra e da vida? Certamente que esse contínuo embate com o mal não é um espetáculo a divertir o povo, nem se resolve com milagres. Cada um deverá falar de Deus com sua vida e, se possível, falar em nome de Deus com suas palavras. Paulo entra em uma questão muito prática quanto às pessoas virgens (1Cor 7,25). Dá um conselho: ‘o caminho da virgindade é um testemunho claro da dedicação ao Senhor’. Ele sabe que há outros caminhos igualmente bons. A vida é a primeira página do evangelho que assumimos. Ela dever ser um espelho que reflete Jesus. A palavra é necessária para o discípulo. Nem todos podem ser pregadores, mas os  que não o são, são instados a dizer as Palavras do Senhor. Nós pregadores ousamos falar sem antes ter ouvido o que o Senhor quer falar, e ter tido essa relação de diálogo com o Senhor. Corremos o risco de ter uma pregação que não conduz a uma mudança. Ela tocará os corações quando tiverem o poder da presença do Espírito.

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