Evangelho segundo S. Marcos 7,24-30.
Naquele
tempo, Jesus dirigiu-Se para a região de Tiro e Sidónia. Entrou numa casa e não
queria que ninguém o soubesse. Mas não pôde passar despercebido, pois logo
uma mulher, cuja filha tinha um espírito impuro, ao ouvir falar d’Ele, veio
prostrar-se a seus pés. A mulher era pagã, siro-fenícia de nascimento, e
pediu-Lhe que expulsasse o demónio de sua filha. Mas Jesus respondeu-lhe:
«Deixa primeiro que os filhos estejam saciados, pois não está certo tirar o pão
dos filhos para o lançar aos cachorrinhos». Ela, porém, disse: «Senhor,
também é verdade que os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas das
crianças». Então Jesus respondeu-lhe: «Dizes muito bem. Podes voltar para
casa, porque o demónio já saiu da tua filha». Ela voltou para casa e
encontrou a criança deitada na cama. O demónio tinha saído.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Isaac da Estrela (?-c. 1171), monge
cisterciense
Sermão 33, 1º para o segundo domingo da Quaresma
«Jesus foi para a região de Tiro»
«Tendo saído, Jesus retirou-Se para a região
de Tiro e Sídon» (Mt 15,21). Quando o Verbo, a Palavra de Deus, «Se fez carne e
habitou entre nós» (Jo 1,14), saiu do Pai para vir ao mundo (Jo 16,28). «O qual,
tendo a natureza de Deus», saiu da sua pátria para «Se aniquilar a Si mesmo,
tomando a condição de servo» (Fil 2,6-7), «a nossa condição humana de pecadores»
(Rom 8,3), a fim de ser encontrado por aqueles que deixam o seu próprio
território para se encontrarem com Ele a região de Tiro e Sídon. […] Assim,
pois, esta mulher Cananeia parte do interior do seu território (Mt 15,22), e
encontra, na fronteira do seu próprio país, o médico que vem ter com ela
voluntariamente, saído do seu território pela misericórdia. Com bondade, Ele
apresenta-Se em território estrangeiro ao doente que não poderia abordá-Lo se
Ele tivesse permanecido no seu território. Porque enquanto Deus, bem-aventurado,
justo e forte, Ele estava no alto, aonde o homem miserável estava proibido de
aceder. […] Portanto, cheio de compaixão, Ele fez o que era apropriado à
piedade: veio Ele ter com o pecador. […]
Saiamos pois, irmãos,
saiamos do lugar da nossa própria injustiça. […] Odeia o pecado, e eis-te saído
do pecado. Quando odeias o pecado, encontras a Cristo. […] Mas dirás que mesmo
isso é muito para ti, e que, sem a graça de Deus, é impossível ao homem odiar o
pecado, desejar a justiça, não querer pecar e querer arrepender-se. «O Senhor
seja louvado pela sua misericórdia e pelas maravilhas que fez em favor dos
filhos dos homens!» (Sl 106,8) Com efeito, se foi pela sua graça que Ele Se
retirou visivelmente para a região de Tiro e Sídon, onde a mulher podia
encontrá-Lo, também foi pela graça que Ele puxou secretamente esta mulher do
mais íntimo de si. […]
Esta mulher simboliza a Igreja, predestinada
desde sempre, chamada e justificada no tempo, destinada à glória no fim dos
tempos (Rom 8,30): ela que pede incessantemente pela sua filha, quer dizer, por
cada um dos eleitos.
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