sexta-feira, 3 de maio de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “Escutai o que Ele diz”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Transfiguração e Páscoa
 
Em nossa caminhada rumo à Páscoa acompanhamos Jesus em seu deserto e em sua tentação, mas O seguimos também em sua glorificação. No primeiro domingo da Quaresma contemplamos Jesus que sofre a tentação e a vence. A Transfiguração mostra-nos a vitória que teremos. Ela faz ver aos discípulos que o sofrimento da Paixão e Morte é passagem para a glorificação da Ressurreição (prefácio). O escândalo da fragilidade é vencido pela certeza da divindade do Filho junto ao Pai. Esse momento no caminho de Jesus é uma orientação para a comunidade dos discípulos sobre a função da Lei e da Profecia, simbolizadas nas duas maiores personagens do Antigo Testamento: Moisés e Elias. Pedro reflete a mentalidade de muitos cristãos de continuarem no Antigo Testamento ao dizer, quando Elias e Moisés já estão se indo: “É bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias. Pedro não sabia o que estava dizendo” (Lc 9,33). Está como a dizer: vamos continuar no Antigo Testamento e Jesus compõe com os dois maiores. Era uma tentação grande, sobretudo dos cristãos vindos do judaísmo. A resposta do Pai se faz ouvir: “Da nuvem saiu uma voz que dizia: ‘Este é meu Filho, o Escolhido’” (35). De agora em diante é Ele quem fala. Lucas nos trará esse pensamento mais claro quando diz: “A Lei e os Profetas vieram até João! Daí em diante, é anunciada a boa Nova do Reino de Deus e todos se esforçam por nele entrar, com violência” (Lc 16,16). Ao lado da gloriosa manifestação temos as palavras de Jesus anunciando o sofrimento que passaria na Paixão e Morte. Os discípulos não entenderam, mas ficaram calados. Pedro e os companheiros viveram um momento na glória de Cristo e gostaram, tanto assim que queriam permanecer naquele estado. Contudo, havia um caminho de Calvário a perfazer. 
Deus fez aliança 
Deus fez aliança com Abraão, numa maravilhosa teofania (manifestação de Deus). Abrindo os animais ao meio e passando entre eles se põe na mesma situação se não cumprir o pacto com Deus. E Deus faz o mesmo comprometendo e celebrando o sacrifício. Na Quaresma deste ano refletimos, na primeira leitura as alianças de Deus com a humanidade. Em Abraão Deus continua seu desígnio, não correspondido por Adão. Essa aliança culminará em Cristo. Não mais uma terra, mas a vida eterna nos é dada em Cristo Ressuscitado. No seio de Abraão já palpita o Ressuscitado. 
Seremos semelhantes a Ele 
A nossa transfiguração acontecerá a partir do momento em que ouvirmos a Palavra do Filho e a colocarmos em prática. Pedro e os outros discípulos percebem a presença da divindade. Nós caminhamos na presença de Deus. Por isso Paulo diz que “Somos cidadãos do céu... Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante a seu corpo glorioso” (Fl 3,20-21). Como a Quaresma tem também o caráter de preparação para o batismo ou renovação das disposições batismais, a transfiguração nos mostra o que realiza em nós esse sacramento. A espiritualidade cristã não é fazer muitos atos espirituais, mas acolher a Palavra de Jesus e assim nos transformarmos para viver mais intensamente a dimensão Divina que recebemos dos sacramentos, principalmente Batismo e Eucaristia. Por isso: “Continuai firmes no Senhor!” (Fl 4,1). 
Leituras:Gênesis 15,5-12.17-18; Salmo 26;
Filipenses 3,17-4,1; Lucas 9,28b-36b 
1. Vimos Jesus na tentação e O contemplamos na vitória. A Transfiguração mostra a vitória da Ressurreição. O escândalo da Cruz é superado pela Ressurreição, mostrada já na Transfiguração. É a superação da Lei e da Profecia. Cristo é a Palavra e a Lei. 2. A aliança de Deus com Abraão. Deus e o homem se comprometem. Abraão continua o desígnio de Deus não correspondido por Adão. Essa aliança culmina em Cristo que é partido ao meio para o sacrifício que salva. Não mais uma terra, mas a vida eterna. No seio de Abraão já palpita o Ressuscitado. 3. Nossa transformação acontecerá quando ouvirmos a Palavra do Filho e a colocarmos em prática. Nós caminhamos na presença de Deus que nos transforma, pois somos cidadãos do céu. A Quaresma mostra o que os sacramentos do Batismo e da Eucaristia realizam e nós. A vida espiritual é transfigurar-se. 
Concurso de Beleza 
Jesus ganha esse concurso, não com uma beleza física, mas pela beleza de sua divindade manifestada aos discípulos. Jesus não é um belo vazio, como vemos tantas vezes em nossas belezas. Ele resplandece a beleza do Pai, como lemos no evangelho da Transfiguração. Moisés e Elias falavam com Ele. Representam a Lei e os Profetas. Agora Jesus é a Lei e é Ele quem fala em nome do Pai. Para chegar à glória da Ressurreição deverá passar pela Paixão e Morte. Para o discípulo chegar à beleza de Deus, deve passar pelo caminho que Jesus fez. Como Abraão que tem a profunda experiência de Deus, o discípulo também deve ouvir Jesus. Disse o Pai: Este é meu Filho Amado, escutai o que Ele diz. 
Homilia do 2º Domingo da Quaresma (24.02.2013)

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