terça-feira, 28 de maio de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “Estar com Ele”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Chamados a estarem com Ele
 
A experiência que os discípulos tiveram com Jesus foi a convivência. Quando os dois discípulos de João O seguem, Jesus lhes pergunta: “O que procuram”? “Rabi, onde moras”?, perguntaram. Respondeu Jesus: “Venham e vejam”. Eles foram e ficaram com Ele aquele dia. Eram 4h da tarde. Quer dizer que passaram ali aquela noite (Jo 1,35-39). Os discípulos eram convocados a estarem com Ele. Nos três anos de seu ministério Jesus tem sempre junto de Si os doze apóstolos. É o nascimento do novo povo, como as 12 tribos dos filhos de Jacó. Esta convivência foi a primeiro tempo de catequese. Não é possível catequese sem convivência com o Senhor. Aprendemos do Senhor, depois sobre o Senhor. Jesus teve a paciência de introduzi-los lentamente no conhecimento da novidade do Reino. Por isso é claro que Jesus primeiro cria a comunidade em volta de Si, depois faz o ensinamento. Este tempo entre Ascensão e Pentecostes é um tempo favorável para o conhecimento de um método fundamental da Igreja: “Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, Mãe de Jesus” (At 1,14). Como a insistência da missa dominical é muito forte, perdeu-se a preocupação de estar com Jesus. Uns poucos dias de recolhimento pode gerar em nós força para um ano inteiro. Pena que não percebamos isso e deixemos de lado este bem. A preciosidade deste tempo se tornou para muitos necessidade de fazer dele o modo de vida, como no caso dos monges. É difícil se recolher, pois as atividades são tantas e as informações se multiplicam. Temos medo do silêncio, pois ele faz vir fora nosso interior. Temos um furacão dentro de nós. É o que Jesus dizia a Marta: Você é muito agitada. Vamos ficar juntos e viver este momento de paz. Foram nove dias de espera. Puderam curtir a ausência e sentir a presença através do Espírito que se tornou um fogo dentro deles. Este fogo jogaram sobre a multidão naquela manhã de Pentecostes. 
Espiritualidade da presença. 
Podemos dizer: tenho que viver essa vida agitada, pois é necessário para fazer o que tenho como trabalho. Vemos o exemplo do próprio Jesus que se retirava para dentro de Si para estar com o Pai. É o que diz a experiência: “Posso estar só no meio da multidão ou estar com a multidão dentro de mim quanto estou só”. O ponto de partida não é o isolamento, o silêncio, mas o sentido de uma presença que esta comigo. Cantamos: “Vamos caminhando lado a lado, somos teus amigos, ó Senhor. Tua amizade é nossa alegria; por isso te louvamos com amor”. O hábito de cultivar esta presença de Deus em nossa vida, em qualquer circunstância, criará em nós esta cela do coração na qual entramos sempre que quisermos. 
Estar com Ele para anunciar. 
Retirar-se não é um egoísmo espiritual, um diletantismo vazio. É o fermentar um modo de anunciar. Somente vamos anunciar verdadeiramente quando tivermos essa convivência com o Senhor. O tempo que passamos com Ele em nosso interior, fermenta em nós a capacidade de descobrir quem Ele é. Podemos anunciar a partir de uma experiência pessoal com o Senhor. É bom saber muita coisa sobre o Pastor, mas é preciso conhecer o Pastor para apresentá-Lo como bom. Nem sempre teremos possibilidade da formação que necessitamos. Ele nos ensinará. Na experiência com o povo simples a gente aprende muito como entender a Palavra de Deus. Ela é curtida, por isso bem conhecida.
ARTIGO PUBLICADO EM MAIO DE 2013

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