Evangelho segundo São João 8,1-11.
Naquele tempo, Jesus foi para o monte das Oliveiras.
Mas, de manhã cedo, apareceu outra vez no Templo, e todo o povo se aproximou dele. Então sentou-Se e começou a ensinar.
Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus:
«Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.
Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu, que dizes?».
Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão.
Como persistiam em interrogá-lo, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra».
Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão.
Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio.
Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?».
Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».
Tradução litúrgica da Bíblia
Mulieris dignitatem, cap. 5
(trad. © Libreria Editrice Vaticana)
«Quem de entre vós estiver sem pecado,
atire a primeira pedra»
Cristo sabe o que há no homem (cf Jo 2,25), no homem e na mulher. Conhece a dignidade do homem, o seu valor aos olhos de Deus. Ele mesmo, Cristo, é a confirmação definitiva deste valor. Tudo o que diz e faz tem o seu cumprimento definitivo no mistério pascal da redenção. O comportamento de Jesus a respeito das mulheres que encontra ao longo do caminho do seu serviço messiânico é um reflexo do desígnio eterno de Deus, o qual, tendo criado cada uma delas, a escolhe e a ama em Cristo (cf Ef 1,1-5). Jesus de Nazaré confirma esta dignidade, recorda-a, renova-a e faz dela um conteúdo do Evangelho e da redenção, para a qual foi enviado ao mundo.
Jesus entra na situação concreta e histórica da mulher, situação sobre a qual pesa a herança do pecado. Esta herança exprime-se, entre outras coisas, no costume que discrimina a mulher em favor do homem, e está enraizada também dentro dela. Deste ponto de vista, o episódio da mulher «surpreendida em adultério» (Jo 8,3) é particularmente eloquente. No final, Jesus diz-lhe: «Não tornes a pecar»; mas primeiro desperta a consciência do pecado nos homens. Jesus parece dizer aos acusadores: esta mulher, com todo o seu pecado, não é talvez também, e antes de tudo, uma confirmação das vossas transgressões, da vossa injustiça «masculina», dos vossos abusos?
Esta verdade é válida para todo o género humano. A mulher é deixada só, é exposta diante da opinião pública com «o seu pecado», enquanto por trás deste «seu» pecado se esconde um homem pecador, culpado pelo pecado de outrem, antes, corresponsável pelo mesmo. E, no entanto, o seu pecado escapa à atenção, passa sob silêncio. Quantas vezes a mulher paga pelo próprio pecado, mas só ela paga e paga sozinha! Quantas vezes é abandonada na sua maternidade, quando o homem, pai da criança, não quer aceitar as suas responsabilidades! E ao lado das numerosas «mães solteiras» das nossas sociedades, é preciso tomar em consideração também todas aquelas que, muitas vezes, sofrendo diversas pressões, inclusive da parte do homem culpado, «se livram» da criança antes do seu nascimento. «Livram-se» dela, mas a que preço?
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