A comunidade primitiva, depois da Ascensão de Jesus, começou a sentir dificuldades para viver a fé no meio de tantas perseguições que aumentavam, trazendo a insegurança. Diminuíam as seguranças e a força dos prodígios. Surge, então, no coração dos discípulos a súplica: “Senhor, aumenta nossa fé”. Jesus explica o que é ter fé, e afirma o quanto é potente. Faz uma bela comparação na qual afirma que, mesmo que a fé seja pequena como um grão de mostarda, que é um pozinho, poderá arrancar uma árvore e lançar no mar. Fé não é uma questão de tamanho, ter mais ou menos. Não é uma questão de quantidade, mas qualidade. A qualidade da fé está em seu conteúdo, que é uma atitude de vida diante de Deus. É uma atitude tão potente que pode arrancar montanhas. Nós também temos a impressão de termos uma fé diminuta e frágil, pois não conseguimos os milagres que queremos. Fé, contudo, não é farmácia para remédio, nem especialista para resolver problemas. É uma vida do coração. Por isso é mais fácil arrancar montanhas do que modificar um coração. Nossa luta é o empenho de assumir o Reino de Deus como nossa vida e nosso modo de viver. A carta aos Hebreus descreve a fé dos antepassados. Não precisamos ir longe. Podemos ver nossos próximos que tão bem vivem a vida de Deus em seu dia a dia. Esses cristãos respondem e aderem com amor a Deus que os chama a Si e a se dedicarem aos irmãos. Uma fé de má qualidade (se houver) é aquela que, ao primeiro vento, já entra em crise, muda de religião, abandona tudo, desiste. E pior ainda, leva uma vida distante do evangelho. É preciso corresponder. Assim ela faz prodígios.
Reaviva as brasas da fé
Paulo, orientando o jovem Timóteo, seu filho, na fé, diz: “reaviva a chama do dom que recebeu pela imposição de suas mãos” (1Tm 1,6). Esse termo reavivar faz memória de uma cena comum nos tempos antigos, na casa de nossos avós, no interior. Ao se deitarem, cobriam as brasas com a cinza do fogão. No dia seguinte, afastavam as cinzas, sopravam as brasas e o fogo acendia de novo. Paulo usa essa imagem para dizer a Timóteo que ele deve sempre estar reacendendo o fogo do dom do Espírito. O mesmo dizemos nós para com nossa fé: é preciso sempre reavivar. Paulo diz a nós agora: “sopra as brasas de tua fé!” Uma fé de boa qualidade é o melhor anúncio que fazemos do Evangelho. Mesmo frágeis, ouvimos Jesus dizer a Pedro: “Quando te converteres, fortalece teus irmãos” (Lc 22,32).
Violência, falta de fé
Em todos os tempos as pessoas são vítimas da violência, como nos narra o profeta Habacuc. Clamam e a situação permanece sempre a mesma, de morte. Aquele que crê viverá por sua fé. A fé é a resistência pacífica contra todo o tipo de violência e maldade. Ela vencerá, mesmo que tarde. A fé é um dom divino que dá a vida que dura para sempre. A violência não tem futuro. Ela abre para si uma corrente de males que não tem cura, pois destrói o coração dos violentos. Os humildes são as vítimas preferidas, mas eles têm a força da fé que os sustenta nas dores e dissabores. Violência não se destrói com violência, como temos visto. Somente aumenta a cadeia dos males. A fé que possuímos torna-se amor gratuito e serviçal no dia a dia. O grande serviço que podemos prestar à sociedade violenta é aninhar em nosso coração um grande amor de reconciliação. Odiar o violento no coração é criar um verme incontrolável. Somos chamados a criar a civilização do amor. A potência da fé traduzida em amor é nossa vitória.
Leituras: Habacuc 1,2-3; 2.2-4; Salmo 94;
2 Timóteo 1,6-8.13-14; Lucas 17,5-10
1. A comunidade primitiva sofria perseguições e se enfraquecia. Clamam a Jesus: “aumenta a nossa fé”. O evangelho orienta a comunidade dizendo que não há fé fraca. Toda ela é potente, mesmo que fosse como uma sementinha. Fé não é uma questão de quantidade, mas de qualidade. A fé dos antepassados os garantiu. Hoje também temos muita gente de fé. Fé de boa qualidade é a que nos leva a aderir a Deus e amar os irmãos. Assim ela faz prodígios.
2. Paulo anima Timóteo a reavivar o dom que recebeu pela imposição das mãos. A palavra usada lembra a tradição dos antigos de cobrirem as brasas com a cinza e no dia seguinte soprar para reacender o fogo. O mesmo diz a nós agora: sopra as brasas de tua fé para que reacenda. Uma fé bem vivida é um grande testemunho do Evangelho. Mesmo frágeis podemos nos converter.
3. A violência esteve sempre presente na história da humanidade, como já nos narra Habacuc. A situação de morte permanece. Mas o justo vive da fé. A fé é a resistência pacífica contra todo tipo de violência e maldade. A violência não tem futuro e destrói o coração dos violentos. O coração de quem tem fé aninha a capacidade de amor, de reconciliação, capaz de reverter o quadro. Odiar o violento é aninhar um verme incontrolável. Criemos a civilização do amor.
Produto de qualidade
Qual é o tamanho da fé? A gente ouve pessoas dizerem: minha fé é fraca ou pequena. Então não é fé. Quando Jesus a coloca comparada a uma sementinha de mostarda, que é um pozinho, está dizendo que, por menor que seja, sempre tem tudo. É um produto integral. Tem em si tudo para que cresça a árvore da vida. Por ela se podem todas as coisas. A questão não é se é grande ou pequena, mas a qualidade da fé. A qualidade da fé não está em fazer muitas coisas “religiosas”, mas que a fé penetre tudo o que fazemos. Aí sim a religião vai ser verdadeira. Ter muitas atitudes religiosas é bom, mas é preciso ver se se baseiam na fé em Jesus ou em meus interesses.
Tudo o que fazemos pelo evangelho não é mais do que um agradecimento pelo direito e dever que temos de anunciar. Somos servos inúteis, quer dizer, trabalhamos por Jesus e não para receber recompensa.
Homilia do 27º Domingo do Tempo Comum
EM OUTUBRO DE 2007
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