quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Santa Melânia, a jovem – 31 de dezembro

      Melânia Valéria nasceu em 383, filha de nobilíssima família senatorial romana. Desejava se consagrar a Deus, mas, aos 14 anos seus pais casaram-na com Valério Piniano. Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famílias do Império Romano (ela, filha de Valério Publicola, da família Valéria, e de Ceionia Albina, da família Ceionia; ele, seu primo, também da família Valéria), conservando-se também o patrimônio mais rico existente na aristocracia romana.    Depois de terem filhos que morreram em tenra idade, os dois esposos decidiram viver em castidade. Melânia resolveu desfazer-se de seus bens para se dedicar inteiramente à oração e ao estudo dos Livros Sagrados. Mas, foram precisos anos para que ela conseguisse doar sua fortuna, definida por um autor como mundial. De fato, além de joias, prataria e preciosidades artísticas, Melânia possuía bens na Itália, Sicília, Gália, Espanha, África Proconsular, Numídia, Mauritânia, Mesopotâmia, Síria, Palestina e Egito. Sua fortuna era tão grande, que um palácio em Roma ficou sem comprador por não se achar quem tivesse dinheiro para o adquirir. Ela deu liberdade a oito mil escravos que tinha herdado.

       O próprio Senado romano levantou objeções ao que ele considerava esbanjamento, mas a Santa persistiu em seu intento, tendo-o levado a cabo após anos e anos de luta.
     À medida que ia vendendo seus bens, Melânia erguia mosteiros, protegia os pobres, fazia doações às igrejas e resgatava prisioneiros. Isto obrigava a Santa a viajar muito, e ela procurava fixar residência em lugares onde o Bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras, tendo assim mantido contato com grandes santos de sua época.
     Em 406, ela se transferiu para Nola a fim estar em contato com São Paulino, seu parente distante; dois anos depois, devido à invasão dos bárbaros, mudou-se para sua propriedade da Sicília. Em 410, emigrou para a África, onde conheceu Santo Agostinho.
     Cercada de uma centena de servos, e na companhia do esposo e da mãe, Albina, que a seguiam em suas peregrinações, formando uma espécie de comunidade monástica, decidiu-se fixar em Jerusalém, passando antes pelo Egito para prestar homenagem aos monges de quem era grande admiradora.
Ermida da Santa
em Jerusalém
     Em Jerusalém, desejou ter uma vida eremítica mais rígida (a avó, Santa Melânia, a Anciã, havia fundado um mosteiro na cidade), fazendo construir para si uma pequena cela no Monte das Oliveiras, sede de outros ascetas, aonde levou uma vida de austeras penitências, entregando-se à oração, ao jejum e ao estudo das Escrituras.
     Depois de um certo tempo, fundou, numa região isolada, um mosteiro feminino. Alguns anos depois, um masculino. O regulamento da comunidade, disposto pela própria Santa, tomava como modelo o monasticismo egípcio e notava-se uma influência Ocidental na liturgia.
     Ela escreveu muito, e realizou também notável trabalho de copista devido ao seu grande conhecimento de latim e grego. Incentivou a reza do Ofício Divino durante a noite e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos. Seu mosteiro resistiu até o ano 614, quando foi destruído pelos persas.
     Santa Melânia, morreu em 31 de dezembro de 439, em Jerusalém, e teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adotivo e discípulo espiritual, o monge Geroncio. Considerada uma das grandes figuras de sua época, mereceu grande elogio de São Jerônimo, que a citava como exemplo para suas dirigidas. Santo Agostinho dedicou-lhe seu livro Sobre a Graça e Pecado (De Gratia et Peccato).
     Ela distribuiu bens que todos procuram, isto é, as riquezas, e procurou bens que muitos menosprezam, como a pobreza e o convívio com os Santos. Ela poderia ter se santificado no estado de grande dama romana, já que grandes damas - rainhas e imperatrizes - se santificaram nesse estado, mas Santa Melânia tinha uma vocação especial: atrair outras damas de seu tempo para uma perfeição maior.
     O culto de Santa Melânia, a Jovem, foi muito difundido no Oriente. Ela foi quase desconhecida na Igreja Católica por muitos anos. Ela recebeu maior atenção desde a publicação de sua vida pelo Cardeal Mariano Rampollo em Roma em 1905. Em 1908, o papa São Pio X (r. 1903–1914) conferiu-lhe ofício na congregação do clero em Somarcha. Isso pode ser considerado como o começo de um zeloso culto eclesiástico. A vida de Melânia foi envolta em obscuridade até quase os dias atuais; muitas pessoas confundiram-na inteiramente ou parcialmente com sua avó homônima. O conhecimento preciso de sua vida provém da descoberta de dois manuscritos: o primeiro, em latim, foi encontrado por Rampollo no Escorial em 1884; o segundo, uma biografia em grego, está na Biblioteca Barberini. Rampollo publicou ambas as descobertas no Vaticano.
 
Túmulo de Santa Melânia em Jerusalém
“As medidas tomadas por Melânia e seu esposo Piniano liquidaram uma das maiores fortunas de seu tempo, e com o produto das vendas socorreram os pobres e a Igreja”. 1
“O caso de Melânia e Piniano serve para ilustrar o quanto o Cristianismo havia conquistado a alta sociedade do Baixo Império, revelando ‘o desprendimento que muitas famílias aristocráticas fazem de suas riquezas em razão de um valor cristão em ascensão: a prática da caridade através da esmola”. 2
1. Blázquez Martinez, Aspectos del ascetismo de Melânia a Jovem, Disponível em 
2. Id. Ib., p. 15, in Gustavo Antônio Solimeo – Plinio Maria Solimeo, Santo Agostinho – Sua época, sua vida, sua obra, Petrus, São Paulo, 2009, p. 154. 
Etimologia: Melânia = Nome de origem grega "Melanios", de "Melas", que significa negro, escuro, de tez escura, moreno, preto".  Espécie de tecido ondeado, de lã ou seda. Nome comum a um grupo de moluscos gastrópodes, da família dos Melaniídeos, cuja concha tem coloração escura. 
Fontes:

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