Melânia Valéria nasceu em 383, filha de nobilíssima família senatorial romana. Desejava se consagrar a Deus, mas, aos 14 anos seus pais casaram-na com Valério Piniano. Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famílias do Império Romano (ela, filha de Valério Publicola, da família Valéria, e de Ceionia Albina, da família Ceionia; ele, seu primo, também da família Valéria), conservando-se também o patrimônio mais rico existente na aristocracia romana. Depois de terem filhos que morreram em tenra idade, os dois esposos decidiram viver em castidade. Melânia resolveu desfazer-se de seus bens para se dedicar inteiramente à oração e ao estudo dos Livros Sagrados. Mas, foram precisos anos para que ela conseguisse doar sua fortuna, definida por um autor como mundial. De fato, além de joias, prataria e preciosidades artísticas, Melânia possuía bens na Itália, Sicília, Gália, Espanha, África Proconsular, Numídia, Mauritânia, Mesopotâmia, Síria, Palestina e Egito. Sua fortuna era tão grande, que um palácio em Roma ficou sem comprador por não se achar quem tivesse dinheiro para o adquirir. Ela deu liberdade a oito mil escravos que tinha herdado.
O próprio Senado romano levantou objeções ao que ele considerava esbanjamento, mas a Santa persistiu em seu intento, tendo-o levado a cabo após anos e anos de luta.
À medida que ia vendendo seus bens, Melânia erguia mosteiros, protegia os pobres, fazia doações às igrejas e resgatava prisioneiros. Isto obrigava a Santa a viajar muito, e ela procurava fixar residência em lugares onde o Bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras, tendo assim mantido contato com grandes santos de sua época.
Em 406, ela se transferiu para Nola a fim estar em contato com São Paulino, seu parente distante; dois anos depois, devido à invasão dos bárbaros, mudou-se para sua propriedade da Sicília. Em 410, emigrou para a África, onde conheceu Santo Agostinho.
Cercada de uma centena de servos, e na companhia do esposo e da mãe, Albina, que a seguiam em suas peregrinações, formando uma espécie de comunidade monástica, decidiu-se fixar em Jerusalém, passando antes pelo Egito para prestar homenagem aos monges de quem era grande admiradora.
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Ermida da Santa em Jerusalém |
Em Jerusalém, desejou ter uma vida eremítica mais rígida (a avó, Santa Melânia, a Anciã, havia fundado um mosteiro na cidade), fazendo construir para si uma pequena cela no Monte das Oliveiras, sede de outros ascetas, aonde levou uma vida de austeras penitências, entregando-se à oração, ao jejum e ao estudo das Escrituras.
Depois de um certo tempo, fundou, numa região isolada, um mosteiro feminino. Alguns anos depois, um masculino. O regulamento da comunidade, disposto pela própria Santa, tomava como modelo o monasticismo egípcio e notava-se uma influência Ocidental na liturgia.
Ela escreveu muito, e realizou também notável trabalho de copista devido ao seu grande conhecimento de latim e grego. Incentivou a reza do Ofício Divino durante a noite e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos. Seu mosteiro resistiu até o ano 614, quando foi destruído pelos persas.
Santa Melânia, morreu em 31 de dezembro de 439, em Jerusalém, e teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adotivo e discípulo espiritual, o monge Geroncio. Considerada uma das grandes figuras de sua época, mereceu grande elogio de São Jerônimo, que a citava como exemplo para suas dirigidas. Santo Agostinho dedicou-lhe seu livro Sobre a Graça e Pecado (De Gratia et Peccato).
Ela distribuiu bens que todos procuram, isto é, as riquezas, e procurou bens que muitos menosprezam, como a pobreza e o convívio com os Santos. Ela poderia ter se santificado no estado de grande dama romana, já que grandes damas - rainhas e imperatrizes - se santificaram nesse estado, mas Santa Melânia tinha uma vocação especial: atrair outras damas de seu tempo para uma perfeição maior.
O culto de Santa Melânia, a Jovem, foi muito difundido no Oriente. Ela foi quase desconhecida na Igreja Católica por muitos anos. Ela recebeu maior atenção desde a publicação de sua vida pelo Cardeal Mariano Rampollo em Roma em 1905. Em 1908, o papa São Pio X (r. 1903–1914) conferiu-lhe ofício na congregação do clero em Somarcha. Isso pode ser considerado como o começo de um zeloso culto eclesiástico. A vida de Melânia foi envolta em obscuridade até quase os dias atuais; muitas pessoas confundiram-na inteiramente ou parcialmente com sua avó homônima. O conhecimento preciso de sua vida provém da descoberta de dois manuscritos: o primeiro, em latim, foi encontrado por Rampollo no Escorial em 1884; o segundo, uma biografia em grego, está na Biblioteca Barberini. Rampollo publicou ambas as descobertas no Vaticano.
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Túmulo de Santa Melânia em Jerusalém |
“As medidas tomadas por Melânia e seu esposo Piniano liquidaram uma das maiores fortunas de seu tempo, e com o produto das vendas socorreram os pobres e a Igreja”. 1
“O caso de Melânia e Piniano serve para ilustrar o quanto o Cristianismo havia conquistado a alta sociedade do Baixo Império, revelando ‘o desprendimento que muitas famílias aristocráticas fazem de suas riquezas em razão de um valor cristão em ascensão: a prática da caridade através da esmola”. 2
1. Blázquez Martinez, Aspectos del ascetismo de Melânia a Jovem, Disponível em
2. Id. Ib., p. 15, in Gustavo Antônio Solimeo – Plinio Maria Solimeo, Santo Agostinho – Sua época, sua vida, sua obra, Petrus, São Paulo, 2009, p. 154.
Etimologia: Melânia = Nome de origem grega "Melanios", de "Melas", que significa negro, escuro, de tez escura, moreno, preto". Espécie de tecido ondeado, de lã ou seda. Nome comum a um grupo de moluscos gastrópodes, da família dos Melaniídeos, cuja concha tem coloração escura.
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