terça-feira, 19 de junho de 2018

REFLETINDO A PALAVRA - “E depois da Ressurreição?”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA-REDENTORISTA
50 ANOS CONSAGRADO
1423. O Espírito e o homem
            Para apresentar os grandes acontecimentos da História da Salvação, os evangelistas usaram poucas palavras como, por exemplo, no nascimento de Jesus: “E ela deu à luz o seu Filho primogênito, envolveu-O com faixas e O reclinou numa manjedoura” (Lc 2,7). Um versículo para narrar o maior momento de todos os tempos: o nascimento de Deus como Homem. Falando de sua morte, diz: “Jesus tornando a dar um grande grito, entregou o espírito” (Mt 27,50). Depois de sua ressurreição “apareceu-lhes por espaço de quarenta dias, falando-lhes sobre o Reino de Deus”;E também: “Jesus mostrou-se vivo após a paixão com numerosas e indiscutíveis provas” (At 1,3). Os textos foram escritos depois de vivenciados e estão em aberto para maior compreensão. Temos a certeza: Ele está vivo; manifestou-Se aos discípulos por diversas vezes. Lucas insiste que as provas de sua presença vivo foram numerosas e indiscutíveis. Perguntamos: Como era a vida dos cristãos sem terem ainda por escrito o Novo Testamento, sem nenhuma estrutura e tão poucas indicações de como deveria ser sua vida? Foi pela criatividade da fé iluminada pelo Espírito. Mesmo hoje o povo de Deus vive muito de sua viva criatividade. É também sustentado pelo Espírito que não é dado só aos ministros ordenados. É dado também a todo povo. Os discípulos foram capazes de se orientar a partir da convivência com Jesus. Entendiam o Antigo Testamento lendo-o a partir de Jesus. Após a experiência do Ressuscitado, foram capazes de compreender as profecias que Lhe diziam respeito. Na verdade, todo o Antigo Testamento tinha uma única direção: o Filho Deus encarnado. Foi um longo caminho de compreensão que se resume em poucos termos. Estes homens, apesar simples, tinham a força do Espírito.
1424. A pesca e o peixe.
            É interessante ver como a pesca e o peixe estão presentes nestes momentos após a Ressurreição. Jesus, para dizer que era um vivo e não um fantasma pediu que lhe dessem algo para comer, pois fantasma não come: “Tendes alguma coisa para comer? Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o e então o comeu diante dêles” (Lc 24,41-42). Se a pesca abundante é símbolo da pregação em nome de Jesus, a palavra peixe é símbolo do conteúdo da pregação. Peixe em grego é ι҆χϑύς. É um monograma. Tomando cada letra vamos ter as iniciais (em grego) da frase: Jesus Cristo de Deus Filho Salvador. É o mesmo tema que vemos na pesca milagrosa quando os discípulos foram pescar e lançaram as redes em nome de Jesus (Jo 21,14). Ali Jesus lhes serve pão e peixe. Foi esta a pregação dos apóstolos: “Deus constituiu Senhor a Cristo, a esse Jesus que vós crucificastes” (At 2,36). Este símbolo está presente nas lápides das catacumbas para identificar o túmulo cristão. Até hoje permanece na arte da igreja.
1425. O tempo e a Verdade
            O período depois da Ressurreição não foi um tempo sem rumo, uma vez que não havia o texto dos evangelhos e das epístolas. Era um tempo de viver da Verdade que era Jesus e da memória de sua vida e palavras, guiados pelo Espírito Santo: “Ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26)…Ele vos conduzirá à verdade plena (Jo 16,13)… Ele dará testemunho de mim e vós também dareis testemunho porque estais comigo desde o começo” (Jo 15,26). A fé transmitida é o que chamamos de Tradição: A Verdade é assistida pelo Espírito Santo. A comunidade fez a experiência da fé e depois a colocou por escrito. Por isso a Tradição é também regra de fé, não só a Escritura.
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