A festa da Ascensão do Senhor é
um mistério de Jesus que fica à margem da reflexão e da vivência cristã. Faz
parte de nossa fé. Rezamos no Creio da missa: “E subiu aos Céus onde está
sentado à direita do Pai”. Contudo, se Cristo não tivesse subido ao Céu, qual seria
o sentido da Ressurreição? Ele estaria vagando? Os mistérios de Cristo são um
todo no qual um está unido ao outro. Sua subida ao Céu mostra que desceu, não
na linguagem humana de lugar, mas em sua condição. Encarnou-Se e Se fez homem.
Agora, Jesus, Homem-Deus, entra na manifestação de sua Glória. Na pessoa do
Filho eterno do Pai, há uma novidade: É também Homem Glorificado. Antes da
Encarnação o Filho de Deus não tinha nossa condição humana. Agora tem consigo toda
Humanidade que Lhe está unida. Por isso, rezamos na oração da missa: “Ó Deus
todo poderoso, a Ascensão de vosso Filho já é nossa vitória”. O prefácio da
missa reza o resultado da Ascensão para Jesus: “Vencendo o pecado e a morte,
Vosso Filho Jesus, Rei da Glória, subiu ante os anjos maravilhados ao mais alto
dos céus. E tornou-se o mediador entre vós Deus, Nosso Pai, e a humanidade
redimida, juiz do mundo e Senhor do Universo. Ele, nossa cabeça, subiu aos
Céus, não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que
nos conduzirá à glória da imortalidade” (Prefácio). Vemos o que significou sua
glorificação e ao mesmo tempo sua referência a nós como o Mediador. Não se
afastou, mas se tornou a garantia de nossa imortalidade. Nele somos colocados
no seio da Trindade. Paulo nos convida a conhecer o que somos no mistério de
Cristo glorificado e o destino de todas as coisas que convergem para Ele.
Liturgia dos vivos.
A Ascensão inaugura para a Igreja
o dom de celebrar a Liturgia que acontece no Céu, como nos ensina Paulo VI.
Sabemos que a liturgia “é o exercício da função sacerdotal de Cristo que simboliza
através de sinais sensíveis e realiza de modo próprio a cada sacramento, a
santificação dos homens; nela o corpo místico de Cristo, cabeça e membros,
presta a Deus o culto público e integral” (SC 7). Uma das missões da Igreja é o culto
que presta a Deus unida ao Cristo. Há uma única celebração, a do Cristo ao Pai,
à qual Ele nos concede participar. Toda a celebração é a irrupção na comunidade
do mistério do relacionamento do Filho com Pai como louvor e amor. Rezamos:
“Celebrando a memória de sua Paixão que nos salva, da sua gloriosa Ressurreição
e da sua Ascensão ao Céu, e enquanto esperamos sua nova vinda, nós Vos
oferecemos este sacrifício de vida e santidade”. A liturgia está unida à
Ascensão, pois foi em sua entrada na Glória que a humanidade, unida à
humanidade glorificada do Filho, iniciou o culto em Espírito e Verdade, como
Jesus disse à samaritana (Jo
4,23).
Com os pés na terra.
A festa da Ascensão nos convida a
“conviver na terra com as realidades do céu”. Rezamos: “Fazei que nossos
corações se voltem para o alto onde está junto de vós a nossa humanidade” (Pós-comunhão). Esta
grande espiritualidade não pode se tornar um distanciamento das realidades
terrenas e nosso compromisso com o Corpo de Cristo que sofre tantos males em
nossos irmãos. É o que afirmaram os Anjos ao dizerem: “Por que estar olhando
para o alto”. A celebração tem sempre uma destinação para a caridade concreta
na vida social. A vida terrena de Cristo continua em todos os que creram. É o
mandato da missão: “Recebereis o Espírito Santo que descerá sobre vós, para
serdes minhas testemunhas... até os confins da terra” (At 1,8). Não percamos a meta, mas
sejamos operosos na caridade.
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