No mês vocacional lembramos
também a vida religiosa, isto é, os consagrados a Deus por um vínculo
particular. É uma vocação na Igreja que tem uma razão e uma missão. Jesus
convida todos a serem seus discípulos, mas não impõe que se viva como viveu:
casto, obediente e pobre, numa missão itinerante em dedicação total. Jesus ao
falar seja da riqueza, seja do poder ou da castidade, causou espanto aos discípulos.
Jesus respondeu: Aos homens não é possível, mas a Deus, tudo é possível (Mc 11,27). Em outro
lugar: Nem todos compreendem (Mt 19,11). Não há um momento em que Jesus tenha instituído a
vida religiosa. Não são Palavras. É o próprio Jesus que é o inspirador deste
modo de vida. É Nele que compreendemos este modo particular de ser discípulo.
Como Jesus é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6), o discípulo que O segue neste
caminho torna-se como que uma visualização desta palavra. Sua própria pessoa e modo
de viver tornam-se testemunho. Quando se diz que a vida religiosa é testemunha
dos bens futuros, está proclamando que os valores terrenos são bons, mas não
completos. Os eternos são melhores. Não se trata de uma instituição, mas de uma
vida. Nem sempre se compreende esta vida. Mas o maior risco está dentro dela
mesma. Se não entendemos o que seja,
perde o caráter de testemunho e passa a ser contratestemunho e inútil. A
instituição deve ser um sinal fulgurante daquilo que cada um vive em sua
consagração. Vivemos o risco de se proclamar uma verdade e viver outra. A
renovação da vida religiosa sempre passa por uma renovação das estruturas. Não
há modo de ser pobre se a instituição é rica. Se cultivarmos o individualismo
não podemos ser obedientes nem ser castos se não vivemos o amor doação com
totalidade. O que faz a diferença é a opção por ser pobre pelos pobres.
Iluminando
com luz própria
Em
Mateus encontramos as palavras: “Se o Sal se tornar insosso, com que o
salgaremos?... Brilhe vossa luz diante dos homens, para que, vendo vossas boas
obras, glorifiquem fosso Pai que está nos Céus” (Mt 5,13.16). O discípulo consagrado
manifesta-se não pelo hábito nem pelas estruturas da cultura religiosa mas pelo seu interior. O hábito não faz o
monge, diz o provérbio. É o interior que com hábito ou sem, ele pode dar um
testemunho de sua vida de relacionamento com Deus e de dedicação aos pobres. S.
Paulo fala de revestir-se de Cristo, mas como opção de vida. O hábito e a
estrutura religiosa são bons, mas não podem dar um testemunho falso.
Contínua
busca
O
seguimento de Jesus para serem suas testemunhas coloca-nos em disposição de
contínua busca do melhor modo de sê-lo. A vida religiosa está em contínua
evolução. Do contrário se torna um museu ou uma ideologia. A busca de uma maior
união a Deus vai exigir caminhar sempre para algo novo, pois Jesus é a novidade
que o Espírito realiza em nós. Contemplamos atualmente a tendência ao
esvaziamento ou a uma volta ao passado naquilo que é secundário: vestes e
tradições. Há muita gente boa, madura, cheios de Deus. Podemos estar vazios. Há
algo que não pode faltar: a força de comunhão fraterna e a busca de um encontro
com o povo de Deus. Não podemos estar voltados para nós mesmos. A vida
religiosa não é um fim em si. É difícil fazer uma contínua revisão das formas e
direções. Mas direção da contemplação amorosa pelo povo de Deus não pode
faltar. Luz é para ser colocada no alto e sal para salgar. Por isso Maria é o
modelo acabado do religioso: sempre em Jesus e por todos.
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