quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

REFLETINDO A PALAVRA - “Abrindo o Livro santo?”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
50 ANOS CONSAGRADO
1315.Um gesto que dá vida
O início do ministério de Jesus se dá com este belo gesto de abrir o Livro Santo na sinagoga de Nazaré: “Levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaias: abrindo-o encontrou o lugar onde está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim’”. É um gesto normal em uma sinagoga, mas nesse momento é especial. O Messias prometido inicia sua missão anunciando o desígnio de Deus para seu povo. Revelou o que iria fazer para acontecer a grande redenção que Deus prometera. O livro aberto é uma missão conferida e proclamada. Por isso a Igreja preza muito a leitura solene na comunidade. E Jesus completa: “Hoje se realizou essa Escritura que acabaste de ouvir” (Lc 4,16-22). Abrir o Livro é proclamar a presença do Deus que age no hoje. Age através de seu Filho para a evangelização dos pobres e a transformação do mundo. Há uns tempos havia o conceito que a Bíblia precisava ser lida na realidade. Aí veio uma condenação deste tipo de leitura e que se chamava atenção para a leitura tradicional: um lugar sossegado, um ambiente favorável com técnicas ótimas. Muito bom, mas não sei se preenche a finalidade da Palavra que foi anunciada para salvação de todos os males. Vamos entender esta missão da Palavra quando entendemos que a “Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Habitou em nossa fragilidade e em nossos sofrimentos. Podemos e devemos ler na tradição, mas não podemos deixar de ler como nos foi transmitido pela revelação da Palavra de Deus. Vamos entender mais a Palavra quando o Livro for aberto para dar vida às situações de morte física ou espiritual. Assim ela foi escrita e conservada. O movimento encarnado da Igreja começou com a leitura do livro do Êxodo. Só compreenderemos a Palavra se a lermos e ouvirmos na história. A tendência em buscar só o espiritualizante é muito frágil, como o é, se nos fixamos só no material ou social. O gesto de abrir o Livro é um símbolo de deixar a Palavra encarnar-se na realidade em que vivemos, pois ali é que ela será caminho: “Vossa Palavra é luz no meu caminho” (Sl 119,105). Assim teremos a Vida.
1316. Em vez de ler, ouvir.
A Palavra foi feita para ser ouvida. No momento atual da sociedade priorizamos a visão. Mas, conhecemos a Palavra: “Quero ouvir o que o Senhor vai falar” (Sl 84,8). Ver enriquece a inteligência. Ouvir leva ao coração onde decidimos. Temos pouca memória da Palavra porque pouco ouvimos ou ouvimos mal. Ela não penetra a vida. Temos dificuldade de conservar o silêncio interior. Por isso a Palavra não penetra nossas vidas nem nos move à conversão. Não adianta gritar a Palavra, falar sobre ela. É preciso que ela fale. Quantos se converteram ao ouvir a Palavra. Um grande desafio das comunidades é provocar que se ouça. Deste modo podemos estabelecer o diálogo com Deus e entrar na contemplação de seu mistério de Cristo. Ele quem fala quando se leem as Sagradas Escrituras (SC 7). Quando a Palavra chega de fato ao coração, o Espírito nos conduz à conversão e à consequente mudança do mundo. Se a Palavra não nos joga na realidade é porque não foi ouvida.
1317. Lendo a própria vida
Nossa vida é como nós mesmos. Somente nos vemos nos espelho dos outros. A Palavra, comunicação de Deus, nos coloca diante Dele. Nele podemos nos conhecer. Deste modo na Palavra podemos ler nossa própria vida e compreender nossa realidade. Ela é o espelho no qual vemos nossa face desfigurada pelo mal e renovada pelo Espírito. Ela revela o homem ao homem (João Paulo II em R.H). Por ela sabemos quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Maravilhosa Palavra que nos estimula a sermos mais humanos.

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