O início do ministério de Jesus se dá com este belo
gesto de abrir o Livro Santo na sinagoga de Nazaré: “Levantou-se para ler.
Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaias: abrindo-o encontrou o lugar onde
está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim’”. É um gesto normal em uma
sinagoga, mas nesse momento é especial. O Messias prometido inicia sua missão
anunciando o desígnio de Deus para seu povo. Revelou o que iria fazer para
acontecer a grande redenção que Deus prometera. O livro aberto é uma missão
conferida e proclamada. Por isso a Igreja preza muito a leitura solene na
comunidade. E Jesus completa: “Hoje se realizou essa Escritura que acabaste de
ouvir” (Lc 4,16-22). Abrir
o Livro é proclamar a presença do Deus que age no hoje. Age através de seu
Filho para a evangelização dos pobres e a transformação do mundo. Há uns tempos
havia o conceito que a Bíblia precisava ser lida na realidade. Aí veio uma condenação
deste tipo de leitura e que se chamava atenção para a leitura tradicional: um
lugar sossegado, um ambiente favorável com técnicas ótimas. Muito bom, mas não
sei se preenche a finalidade da Palavra que foi anunciada para salvação de
todos os males. Vamos entender esta missão da Palavra quando entendemos que a
“Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Habitou em nossa fragilidade e em nossos
sofrimentos. Podemos e devemos ler na tradição, mas não podemos deixar de ler
como nos foi transmitido pela revelação da Palavra de Deus. Vamos entender mais
a Palavra quando o Livro for aberto para dar vida às situações de morte física
ou espiritual. Assim ela foi escrita e conservada. O movimento encarnado da
Igreja começou com a leitura do livro do Êxodo. Só compreenderemos a Palavra se
a lermos e ouvirmos na história. A tendência em buscar só o espiritualizante é
muito frágil, como o é, se nos fixamos só no material ou social. O gesto de
abrir o Livro é um símbolo de deixar a Palavra encarnar-se na realidade em que
vivemos, pois ali é que ela será caminho: “Vossa
Palavra é luz no meu caminho” (Sl 119,105).
Assim teremos a Vida.
1316. Em vez de ler, ouvir.
A Palavra foi feita para ser ouvida. No momento
atual da sociedade priorizamos a visão. Mas, conhecemos a Palavra: “Quero ouvir
o que o Senhor vai falar” (Sl 84,8).
Ver enriquece a inteligência. Ouvir leva ao coração onde decidimos. Temos pouca
memória da Palavra porque pouco ouvimos ou ouvimos mal. Ela não penetra a vida.
Temos dificuldade de conservar o silêncio interior. Por isso a Palavra não
penetra nossas vidas nem nos move à conversão. Não adianta gritar a Palavra,
falar sobre ela. É preciso que ela fale. Quantos se converteram ao ouvir a
Palavra. Um grande desafio das comunidades é provocar que se ouça. Deste modo
podemos estabelecer o diálogo com Deus e entrar na contemplação de seu mistério
de Cristo. Ele quem fala quando se leem as Sagradas Escrituras (SC 7). Quando a Palavra chega de fato ao coração, o
Espírito nos conduz à conversão e à consequente mudança do mundo. Se a Palavra
não nos joga na realidade é porque não foi ouvida.
1317. Lendo a própria vida
Nossa vida é como nós mesmos. Somente nos vemos nos
espelho dos outros. A Palavra, comunicação de Deus, nos coloca diante Dele. Nele
podemos nos conhecer. Deste modo na Palavra podemos ler nossa própria vida e
compreender nossa realidade. Ela é o espelho no qual vemos nossa face
desfigurada pelo mal e renovada pelo Espírito. Ela revela o homem ao homem (João
Paulo II em R.H). Por ela sabemos quem
somos, de onde viemos e para onde vamos. Maravilhosa Palavra que nos estimula a
sermos mais humanos.
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