domingo, 18 de fevereiro de 2018

Santa Bernadette Soubirous – 18 de fevereiro- Segundo texto

Manuscritos de Sta. Bernadette - A Vidente de Na. Sra. de Lourdes 

     
Bernadette por ocasião das Aparições
     Mari
a Bernarda, ou Bernadette, nasceu em Lourdes, nos contrafortes dos Pirineus franceses, no dia 7 de janeiro de 1844. Seus pais eram patrões de moinho e tinham tido certa abastança, mas por sua facilidade em perdoar as dívidas acabaram caindo na miséria.
     A vida de Bernadette resume-se em praticar o que lhe recomendou a Santíssima Virgem: rezar, especialmente o Rosário, e fazer penitência pelos pecadores.
     Por isso, tendo entrado posteriormente no convento das Irmãs da Caridade de Nevers, sua oração frequente era: 
          “Ó Jesus! Ó Maria! Fazei que todo meu consolo neste mundo consista em amar-vos e sofrer pelos pecadores. Que eu mesma seja um crucifixo vivente, transformada em Jesus. [...] Tenho que ser vítima [...] Levarei com valentia e generosidade a cruz oculta em meu coração. Minha ocupação é sofrer”. (1)
     Analfabeta até os 14 anos, em sua humildade ela se considerava pouco inteligente e capaz. Por isso dizia: “Posto que não sei nada, posso pelo menos rezar o Rosário e amar a Deus com todo o coração. E, ademais, a Santíssima Virgem recomendou tanto que rogasse pelos pecadores!”.
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“Tenho necessidade do socorro das almas boas”
     Nada melhor para se conhecer a vida de um santo do que através de suas próprias palavras. Possuímos mais de 100 cartas da santa de Lourdes que dão testemunho de uma inteligência viva, alegre e perspicaz.
     Assim, na primeira delas, dirigida a um fervoroso devoto de Lourdes, a santa lhe pede que reze por ela a Nossa Senhora, para alcançar-lhe “a graça de corresponder fielmente a todos os desígnios de Deus sobre mim. Eu sou, senhor, muito fraca. Tenho grande necessidade do socorro das preces das almas boas, para não abusar do favor que recebi do Céu, apesar de indigna” (Carta de 3/12/1862 a D. Antônio Morales, p. 23). (2)
Alta compreensão da vocação religiosa
     Santa Bernadette compreendia bem a vida religiosa. Pelo que escreve a seu irmão João Maria, que queria tornar-se religioso, pode-se compreender como ela vivia sua consagração a Deus: “Lembremo-nos frequentemente desta palavra do divino Mestre que nos diz: ‘Eu não vim para ser servido, mas para servir’. Isso parece duro e difícil à natureza, mas quando se ama bem a Nosso Senhor, tudo se torna fácil”.
     “Quando alguma coisa nos custa, digamos em seguida: ‘tudo para vos agradar, ó meu Deus, e nada para me satisfazer’. Este outro pensamento me fez também muito bem: ‘fazer sempre o que mais nos custa’; isso me ajudou a me sobrepor a muitas pequenas repugnâncias” (Carta a João Maria, de 21/4/1870, p. 63).
Grande devoção à Sagrada Eucaristia
     Sobre sua devoção à Sagrada Eucaristia, encontramos um exemplo na carta que escreve às suas primas, que se preparavam para fazer a 1ª. Comunhão:
     “Ó minhas queridas crianças! É necessário se ter um coração de anjo para receber Nosso Senhor como Ele merece! Fazei-o pelo menos com a maior fé, humildade e amor que vos seja possível.
     “E, assim que Nosso Senhor estiver em vosso coração, abandonai-vos a Ele, e gozai em paz as delícias de sua presença. Amai-O, adorai-O, ouvi-O, louvai-O, eu diria mesmo, desfrutai-O.
     “Ó feliz momento! Só a eternidade nos reserva alegrias maiores” (Carta às suas primas, por volta de 1875, p.102).
     A seu irmão mais novo, Pedro, que também iria fazer a 1ª. Comunhão, ela escreve: 
     “Não é preciso dizer, meu querido irmãozinho que daqui para frente teu coração, teu espírito, tua alma, não devem ocupar-se senão de um pensamento: o de fazer de teu  coração a morada de um Deus.
     “Oh! sim, é necessário que esse bom Salvador esteja continuamente presente em teu pensamento, e pedir-Lhe que Ele mesmo prepare sua morada, a fim de que não falte nada à sua chegada” (Carta a seu irmão Pedro Bernardo, de 23/5/1872, p. 80).
     Sobre a alegria de poder comungar, ela confidencia também à sua irmã Maria: “Nosso Senhor é tão bom! Eu tive a felicidade de O receber durante toda minha doença três vezes por semana em meu pobre e indigno coração. A cruz se tornava mais leve e os sofrimentos doces, quando eu pensava que teria a visita de Jesus e o insigne favor de O possuir em meu coração” (Carta de 28/4/1873, pp. 85-86).
Percebendo a mão de Deus que castiga
     Bernadette via com olhos sobrenaturais os acontecimentos de sua época.
     Assim, por exemplo, em 1870, durante a guerra franco-prussiana, quando os alemães já estavam próximos de Nevers — e, portanto, ameaçavam a própria segurança das irmãs —, estando já a comunidade inteira a serviço dos feridos, Santa Bernadette escreve à sua irmã Maria:
     “Não temos senão uma coisa a fazer: é pedir muito à Ssma. Virgem, a fim de que Ela queira interceder por nós junto de seu querido Filho, e nos obter perdão e misericórdia; tenho a doce confiança de que a Justiça de Deus que nos castiga neste momento será então aplacada por essa terna Mãe” (Carta à sua irmã Maria, de 25/12/1870, p.70).
     Em 1871, durante os grandes tumultos da Comuna de Paris, ela escreve à Madre Alexandrina: 
     “Permiti, minha querida Mãe, que vos deseje um bom Aleluia, bem como a todas as queridas Irmãs. Nós deveríamos mais chorar do que nos regozijar vendo nossa pobre França tão endurecida e tão cega.
     “Quanto Nosso Senhor é ofendido! Roguemos muito por esses pobres pecadores, a fim de que eles se convertam: apesar de tudo, são nossos irmãos! Peçamos a Nosso Senhor e à Santíssima Virgem que transformem esses lobos em cordeiros” (Carta à Madre Alexandrina Roques, de 3/4/1872, p. 78). 
     Já em 1875, numa outra carta, fazendo alusão aos massacres cometidos em Paris durante o advento da Terceira República e das grandes enchentes na região de Lourdes, ela diz à sua irmã Maria, em carta de 4 de julho:
     “O bom Deus nos castiga, mas é sempre pai. As ruas de Paris foram regadas pelo sangue de um grande número de vítimas, e isso não foi suficiente para tocar os corações endurecidos no mal; foi necessário que as ruas do Sul fossem também lavadas e que elas tivessem também suas vítimas. Meu Deus! Como o homem é cego se não abre seu coração à luz da fé! Depois de infelicidades tão terríveis, não teremos a tentação de nos perguntar o que teria podido provocar esses terríveis castigos?
     “Escutemos bem, e ouviremos uma voz, no fundo de nosso coração, a nos dizer: é o pecado, sim, o pecado, pois que é a maior infelicidade que nos atrai todos os castigos. O mal que cometemos com malícia cai sobre nós. Eis a felicidade e as vantagens que nos procuram a obra do pecado. Ó meu Deus, perdoai-nos e fazei-nos misericórdia” (pp. 97-98).
     Ela pensa nos militares que tinham de manter a ordem e a disciplina durante esses tempos calamitosos. Assim, diz a seu irmão, que havia se engajado no exército: 
     “Eu sei que os militares têm muito que sofrer em silêncio. Se eles tivessem o cuidado de dizer todas as manhãs ao levantar-se estas curtas palavras a Nosso Senhor: ‘Meu Deus, hoje eu quero fazer tudo e sofrer tudo por vosso amor’, quantos méritos adquiririam para a eternidade.
     “Um soldado que fizesse isso e fosse fiel aos seus deveres de cristão tanto quanto lhe seja possível, teria tanto mérito quanto um religioso.
     “Com efeito, o religioso não pode esperar recompensa de seus trabalhos e de seus sofrimentos senão pelo que tiver sofrido e trabalhado para comprazer a Nosso Senhor” (Carta a João Maria, de 1/7/1876, p.109).
“Nossa família é mais numerosa no Céu”
Santa Bernadette religiosa em Nevers
     Sua irmã Maria, que já tinha perdido três filhos, perde a última filha que lhe restava. A carta que lhe escreve Santa Bernadette é cheia de espírito sobrenatural:
     “Adoremos sempre e bendigamos a mão poderosa de Nosso Senhor, que não nos atinge senão para nos curar e nos fazer ver o nada das coisas desta miserável Terra, onde não estamos senão de passagem.
     “Eu compreendo que para o coração de uma mãe é bem triste, eu diria mesmo cruel, perder seu quarto filho.
     “É certo que a prova é bem rude. Mas quando olho as coisas com os olhos da fé, não posso me impedir de exclamar: feliz mãe que envia anjos ao Céu, que rezarão por ti e por toda a tua família. Eles serão nossos protetores junto de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem. [...]
     “Coragem: nossa família é mais numerosa no Céu do que na Terra. Rezemos, trabalhemos e soframos tanto quanto agradar a Nosso Senhor. Talvez daqui a pouco partilharemos sua felicidade” (Carta de 26/8/1876, p.115).
Em carta ao Papa: “Há muito que sou um zuavo”
     O Beato Pio IX também faleceu não muito depois: em 7 de fevereiro de 1878. Ele deixou a Terra em meio a grandes sofrimentos provocados pelos inimigos da Igreja que invadiram e usurparam os Estados Pontifícios, dos quais o Papa é rei.
     Naquela data brilharam pelo seu heroísmo os zuavos pontifícios, muitos dos quais morreram em combate defendendo o reino do Papa.
     A eles se refere Santa Bernadette quando diz “há já alguns anos que eu me constituí pequeno zuavo” (3). Seu coração estava junto com aqueles bravos soldados que davam sua vida pela Igreja no campo de batalha.
     Para os inimigos da Igreja Santa Bernadette tem essa frase de conteúdo profético que faz pensar em La Salette e Fátima: Nossa Senhora “se dignará colocar ainda mais uma vez Seu pé sobre a cabeça da serpente maldita, e dar assim um termo às cruéis provações da Santa Igreja e às dores de seu augusto e Bem-Amado Pontífice”.
     Eis a carta:
     Santa Bernadete com as freiras do hospital de Lourdes
     Santíssimo Padre, eu jamais teria ousado tomar a caneta para escrever a Vossa Santidade, eu, pobre Irmãzinha, se nosso digno bispo, Mons. de Ladoue, não me tivesse encorajado. (...)
     Eu temi, de início, ser demasiado indiscreta; depois me veio ao pensamento que Nosso Senhor ama de ser importunado, tanto pelos pequenos quanto pelos grandes, pelo pobre e pelo rico, e que Ele se dá a cada um de nós sem distinção.
     Esse pensamento me deu coragem e, portanto, não tenho mais medo. Aproximo-me de Vós, Santíssimo Padre, como uma criancinha pobre até ao mais tenro dos Pais, cheia de abandono e de confiança.
     O que poderia eu fazer, Santíssimo Padre, para Vos testemunhar o meu amor filial? Eu não posso senão continuar o que fiz até o presente, isto é, sofrer e rezar.
     Há já alguns anos que eu me constituí, apesar de indigna, pequeno zuavo de Vossa Santidade; minhas armas são a oração e o sacrifício, que conservarei até o meu último suspiro.
     Somente então cairá a arma do sacrifício, mas a da oração me acompanhará até o Céu, onde será bem mais poderosa do que nesta terra de exílio.
     Eu rezo todos os dias ao Sagrado Coração de Jesus e ao Coração Imaculado de Maria para que Vos conservem ainda por muito tempo entre nós, porquanto Vós Os fazeis conhecer e amar tão bem.
     Eu tenho a doce confiança de que esses Corações Sagrados se dignarão de atender este desejo, que é o mais querido do meu coração.
     Parece-me, quando rezo nas intenções de Vossa Santidade, que do Céu a Santíssima Virgem deve com frequência pousar seu olhar materno sobre Vós, Santíssimo Padre, porque Vós A proclamastes Imaculada. “Eu sou a Imaculada Conceição” (no dialeto que falava Santa Bernadete).
     Gosto de pensar que Vós sois particularmente amado por esta boa Mãe porque, quatro anos depois, Ela própria veio a esta terra para dizer: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
     Eu não sabia o que isso significava, eu nunca havia ouvido esta palavra. Depois, refletindo, eu me disse com frequência: como é boa a Santíssima Virgem. Dir-se-ia que Ela veio confirmar a palavra do nosso Santo Padre.
     É isso que me faz acreditar que Ela deve Vos proteger muito especialmente.
     Espero que esta boa Mãe tenha piedade de seus filhos, e que Ela se dignará colocar ainda mais uma vez Seu pé sobre a cabeça da serpente maldita, e dar assim um termo às cruéis provações da Santa Igreja e às dores de seu augusto e Bem-Amado Pontífice.
     Osculo humildemente os vossos pés e sou, com o mais profundo respeito, Santíssimo Padre, de Vossa Santidade a humílima e muito submissa filha.
Irmã Marie-Bernard Soubirous 
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Notas:
1. Dom Prospero GuérangerEl Año Litúrgico, Editorial Aldecoa, Burgos, 1956, tomo II, p. 779.
2. As cartas são traduzidas da obra Soeurs de la Charité de NeversSainte Bernadette d’après ses lettres, P. Lethielleux, Paris, 1993.
3. “Zuavo Pontifício”. Nome do corpo de infantaria francesa, originalmente recrutado na Argélia, composto por voluntários católicos que se dispuseram a proteger o Papa Bem-aventurado Pio IX contra os revolucionários que invadiram os Estados Pontifícios. Foram acrescidos de voluntários alemães, franceses, belgas, romanos, canadenses, espanhóis, irlandeses e ingleses.
Fonte: Plinio Maria Solimeo, Catolicismo http://catolicismo.com.br/

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