PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
277. Sacramento
do auto-conhecimento
Continuamos nossas reflexões sobre a
confissão, não tanto para conhecer a teologia do sacramento, mas para perceber
sua necessidade em nossa vida espiritual. Quando deixamos de confessar,
deixamos de lado um dom: conhecer-se diante de Deus. Não se trata de uma
técnica de autoconhecimento, mas da capacidade de saber quem sou eu diante do
Deus que me ama e da comunidade que me acolhe como irmão, filho do mesmo Pai. É
um conhecimento libertador, pois não só diz o que somos, mas nos dá a
capacidade de, pela conversão, fazer uma caminhada de crescimento em direção a
Deus na comunhão fraterna. Não nos deixa num beco-sem-saída diante de nossa
realidade, nem numa conformidade estagnada. Ajuda-nos a buscar caminhos. É o
iniciar de um processo de renovação. Além do mais, tem o auxílio da graça do
sacramento que, além de perdoar, isto é, fazer desaparecer o que é pecado, tem
as “vitaminas espirituais” para desenvolver a vida onde havia morte ou doença
espiritual. As marcas do pecado, as culpas psicológicas podem permanecer, mas o
pecado não existe mais. Temos a fragilidade humana, mas a força divina fortalece
nossa fraqueza. O sacramento da confissão exige e propicia esse exame de consciência.
Não é um questionário de pecados, mas a busca das raízes do mal que fazemos
para que, na liberdade, possamos servir melhor a Deus e aos irmãos. Assim
estamos preparados para a confissão.
278.
Reconhecer, arrepender-se , partilhar
O sacramento da confissão é a tomada
do pulso de nossa vida. Tem a sabedoria de unir em um só ato aspectos
humano-psicológicos e divino-espirituais. É uma ação de Deus e do homem.
Juntos, fazemos a passagem da morte para a vida, celebrando assim o Mistério
Pascal de Cristo em nossa fragilidade e na força de Cristo. Ele se fez frágil
conosco, assumiu nossos males, para libertar-nos. Depois de conhecer-nos a nós
mesmos, nós reconhecemos onde erramos. O maior erro é afirmar que o que faço de
errado é a verdade. Reconhecendo, temos acesso ao mistério da graça que fazemos
pelo nosso arrependimento. Não há confissão sem arrependimento e definição pela
mudança. Aqui está um dos mal-entendidos da confissão. Achamos que confessar é
dizer os pecados. Mas, é preciso primeiro arrepender-se. A seguir, nós
partilhamos com um sacerdote, nossa situação e confessamos os pecados. Somos o
necessitado que busca na pessoa que recebeu esse dom, o encontro com Cristo que
perdoa. Por que partilhar - dizer os pecados a um frágil como eu? Porque Deus
sempre usa a fragilidade para manifestar Sua força. Em todos os sacramentos
temos o lado humano. O humano constitui-se em Cristo que perdoa.
O sacramento dá o perdão, a remissão
de todos os pecados. Temos de estar atentos ao fato de o perdão ser à pessoa:
“eu te absolvo de todos os teus pecados”. É toda a pessoa que é perdoada. É um
ato que envolve o afeto de Deus que ama trazer de volta seus filhos para casa.
Ele ama restaurar os corações feridos. À medida que entramos em comunhão com
Cristo pelo perdão, nos são abertos os tesouros da vida divina. São dados a
nós, conforme nossa situação, todos os bens perdidos pelo pecado. Deus nos ama
muito e nos quer vivos. A vida espiritual caminha com o perdão. É a mola
propulsora. Depois da confissão temos de restaurar o que foi destruído. Essa é
a penitência fundamental. Não basta só rezar as ave-marias, mas é preciso
restituir a vida que destruímos, reatar os laços rompidos, reiniciar os
caminhos da vida.
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