Os evangelhos narram os ensinamentos
de Jesus, mas também nos fazem conhecer o que se passava com Ele. O texto de
Marcos 8,27-35 relata um momento difícil para Jesus que veio ao mundo para
anunciar a chegada do Reino. Tem consciência de sua missão. A pergunta que fez
aos discípulos demonstra como vê sua missão. Humanamente falando está falido.
Após ter ensinado tanto e comprovado com Seus milagres, o povo ainda pensa que
Ele é ou um profeta ou Elias ou Jeremias. Voltando-se para seus discípulos
pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Que fé possuem Seus discípulos?
Pedro responde: “Tu és o Cristo (o mesmo que Messias)!” Pedro está manifestando
a fé dos discípulos. É o Messias, pois todos os dons estão presentes nEle.
Jesus precisava ouvir essas palavras. Está em uma fase difícil de seu
ministério. Assim encontra em seus discípulos o apoio a sua missão e não está
só. Contudo rejeita toda interpretação política e social que destoe de sua
missão. Jesus dá então os ensinamentos fundamentais da missão com a qual os
discípulos se comprometem professando sua fé: “O Filho do Homem deve sofrer
muito, ser rejeitado, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Mc 8,31).
Pedro não entendendo a lição, chama Jesus à parte e faz-lhe uma repreensão. A
resposta não se faz esperar: “Vai para longe, Satanás, tu não pensas como Deus
e sim como homem” (32-33). Satanás é o Inimigo, aquele mesmo que estivera com
Ele na tentação do deserto. Quantos de nós temos uma fé que não corresponde ao
Reino, mas aos homens. Assim somos inimigos de Jesus.
Com a
cruz às costas
Jesus, tendo superado a tentação que
lhe sugere Pedro, de abandonar Seu objetivo de ir a Jerusalém e ali sofrer,
chama os discípulos e mostra-lhes como seguí-lo nesse caminho nada glorioso que
assume. Em Jesus há uma decisão de cumprir a vontade do Pai até o extremo da
obediência, pois tem a certeza de que o Pai lhe dá garantia. Chama, então, os
discípulos e ensina-lhes como pensa Deus, pois Pedro pensa como os homens.
Eles, que professaram sua fé, aprendem que “Se alguém me quer seguir, renuncie
a si mesmo, tome sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar sua vida, vai
perdê-la; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho vai salvá-la”
(Mc 8,34-35). Jesus propõe-se a perder a vida para retomá-la na Ressurreição.
Esse é o caminho do discípulo que O confessa como o Messias, Cristo, vindo de
Deus.
Crer
com as mãos e os pés
Tiago
é muito prático, ensina-nos o que significa crer. Crer em Jesus é tomar sua
cruz. O caminho do Calvário se faz pelo amor aos irmãos. A fé é verdadeira
quando se transforma em amor, em atos aos irmãos. Fé sem obras é morta,
confirma o apóstolo. Vemos em contraposição uma frase de Paulo que escreve: “Concluímos
pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm 3,28). As obras
de que diz Paulo são a obediência à letra da lei. Mas também afirma que “em
Cristo nada vale ... a não ser a fé que é operosa através da caridade” (Gl
5,6). Crer é mais que simplesmente ter fé: é caminhar seguindo Jesus no amor; é
agir com as mãos, isto é, concretamente. Caminhar é ir atrás dos meios de
realizar a caridade. Do contrário, nossa fé será morta e teremos o pensamento
dos homens e não de Deus. Quando passamos por momentos difíceis na vida, temos
que ver se não são conseqüências de nossa fé que é união com Jesus que sofre
por ser fiel ao Pai.
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