sábado, 23 de maio de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Purificados pela Palavra”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Vós abandonais o mandamento
            Jesus, interrogado pelos fariseus a respeito do descaso dos discípulos quanto à tradição, resolve uma questão muito delicada: “O que torna o homem impuro?”. Alguns discípulos comem com mãos impuras. A limpeza das mãos não é uma questão de higiene, mas purificação. A refeição é sagrada como um culto. Por isso é preciso a pureza ritual de acordo com a tradição. Havia outras tantas tradições que não provinham da Palavra, mas das explicações dos entendidos. O que interessava aos fariseus eram as tradições. Jesus leva-os a refletir sobre a Palavra de Deus. Os profetas denunciam que o povo honra Deus com palavras que não correspondem ao coração. Chegam a abandonar o mandamento para dar lugar às tradições (Aqui não se trata da Tradição que desenvolve a fé). Nesse quadro de uma religião exterior e ritualista, Jesus ensina que as más intenções do coração fazem o homem impuro. E enumera: ‘Imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo’ (Mc 7,21-22). Essas mancham o homem. O cuidado em guardar a tradição acaba por deixar de lado o mandamento de Deus, a Palavra dos profetas. A Igreja tem passado por esses males durante sua história. Quantas coisas fazemos e fizemos passam por cima do mandamento central do amor, do respeito às pessoas e ao mundo! Mesmo em ambientes mais seletos, o importante são as tradições criadas e não a Palavra de Deus. É fácil praticar uma devoção, manter uma superstição do que assumir a prática do mandamento da caridade. A pastoral social - a caridade não tem sido uma preocupação para a Igreja no momento atual.
Palavra que purifica
A leitura de Deuteronômio 4,1-8, dando resposta ao vazio do legalismo ritualista, lembra que cumprir os preceitos da aliança darão vida e direito à posse da terra. Guardar os mandamentos será a expressão de sua sabedoria e inteligência. Esses mandamentos são suficientes para colocar no interior do homem condições que produzam as boas intenções e boas coisas que não tornam impuro o homem. Por que produzem coisas boas? Porque resumem a vida em relação com Deus e com as pessoas. Vejamos que os pecados que “sujam”, citados por Jesus, fazem parte da segunda tábua da lei (Honrar os pais, não matar, não roubar etc...). Esses pecados sujam o homem porque ferem o outro seu irmão. A sabedoria é cumprir os mandamentos que vão ao interior e não ficam em tradições inúteis que matam inocentes (Mt 12,7). Viver o mandamento é ter Deus próximo, é purificar o coração e produzir boas ações.
Praticantes da Palavra
            Jesus lembra a profecia que recrimina o culto dos lábios distante do coração. A Palavra de Deus, explica São Tiago, deve ser recebida com humildade, pois é capaz de salvar nossas almas. Para chegarmos a essa purificação, devemos “ser praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-nos a nós mesmos. A religião pura diante de Deus é esta: assistir os órfãos e as viúvas e suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,22.27). A crítica dos fariseus aos discípulos de Jesus encontra a resposta clara na Palavra de Deus: a caridade cobre a multidão dos pecados (1Pd 4,8). Ela purifica. É preciso conservar as tradições, mas não acima do mandamento. É preciso observar os ritos, mas não sacrificar as pessoas. A religião está primeiro no coração.

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