Jesus, interrogado pelos fariseus a
respeito do descaso dos discípulos quanto à tradição, resolve uma questão muito
delicada: “O que torna o homem impuro?”. Alguns discípulos comem com mãos impuras.
A limpeza das mãos não é uma questão de higiene, mas purificação. A refeição é
sagrada como um culto. Por isso é preciso a pureza ritual de acordo com a tradição.
Havia outras tantas tradições que não provinham da Palavra, mas das explicações
dos entendidos. O que interessava aos fariseus eram as tradições. Jesus leva-os
a refletir sobre a Palavra de Deus. Os profetas denunciam que o povo honra Deus
com palavras que não correspondem ao coração. Chegam a abandonar o mandamento
para dar lugar às tradições (Aqui não se trata da Tradição que desenvolve a fé).
Nesse quadro de uma religião exterior e ritualista, Jesus ensina que as más
intenções do coração fazem o homem impuro. E enumera: ‘Imoralidades, roubos,
assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão,
inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo’ (Mc 7,21-22). Essas mancham o homem. O
cuidado em guardar a tradição acaba por deixar de lado o mandamento de Deus, a
Palavra dos profetas. A Igreja tem passado por esses males durante sua
história. Quantas coisas fazemos e fizemos passam por cima do mandamento
central do amor, do respeito às pessoas e ao mundo! Mesmo em ambientes mais
seletos, o importante são as tradições criadas e não a Palavra de Deus. É fácil
praticar uma devoção, manter uma superstição do que assumir a prática do
mandamento da caridade. A pastoral social - a caridade não tem sido uma
preocupação para a Igreja no momento atual.
Palavra
que purifica
A leitura de Deuteronômio 4,1-8, dando resposta ao vazio do legalismo
ritualista, lembra que cumprir os preceitos da aliança darão vida e direito à
posse da terra. Guardar os mandamentos será a expressão de sua sabedoria e
inteligência. Esses mandamentos são suficientes para colocar no interior do
homem condições que produzam as boas intenções e boas coisas que não tornam
impuro o homem. Por que produzem coisas boas? Porque resumem a vida em relação com
Deus e com as pessoas. Vejamos que os pecados que “sujam”, citados por Jesus,
fazem parte da segunda tábua da lei (Honrar os pais, não matar, não roubar
etc...). Esses pecados sujam o homem porque ferem o outro seu irmão. A sabedoria
é cumprir os mandamentos que vão ao interior e não ficam em tradições inúteis
que matam inocentes (Mt 12,7). Viver o mandamento é ter Deus próximo, é
purificar o coração e produzir boas ações.
Praticantes
da Palavra
Jesus lembra a profecia que
recrimina o culto dos lábios distante do coração. A Palavra de Deus, explica São
Tiago, deve ser recebida com humildade, pois é capaz de salvar nossas almas. Para
chegarmos a essa purificação, devemos “ser praticantes da Palavra e não meros
ouvintes, enganando-nos a nós mesmos. A religião pura diante de Deus é esta:
assistir os órfãos e as viúvas e suas tribulações e não se deixar contaminar
pelo mundo” (Tg 1,22.27). A crítica dos fariseus aos discípulos de Jesus
encontra a resposta clara na Palavra de Deus: a caridade cobre a multidão dos
pecados (1Pd 4,8). Ela purifica. É preciso conservar as tradições, mas não
acima do mandamento. É preciso observar os ritos, mas não sacrificar as
pessoas. A religião está primeiro no coração.
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