Não
é insistir muito se nos lembrarmos que o sacramento tem um lado humano e outro
divino que devem estar juntos. Sem isso pode não ser compreendido e perder
muito de sua eficácia. Por ser caminho espiritual precisa ser vivido em todas
as dimensões. A Sagrada Escritura insiste desde o início da reflexão bíblica em
que “serão os dois uma só carne” (Gn 2,24). Jesus repete essas palavras ao
falar do matrimônio. É uma definição muito clara da finalidade e conseqüência
do sacramento do matrimônio. Aqui se encontra também o ponto no qual o
casamento tem falhado ou dado excelente frutos. Carne não é só o aspecto
carnal, visível, palpável. É a realidade total da pessoa, em todos seus
aspectos. Dizer que os dois serão uma só carne está a afirmar que constituem um
novo ser espiritual. É uma realidade e um projeto. Realidade nova diante de
Deus que não cria outro indivíduo, mas um modo de existir em comunhão de corpo
e alma. Esse modo de existir é também o programa de viver em comunhão de vida.
Muda o vínculo de comunhão: “deixará o homem a casa de seu pai e sua mãe e se
unirá a sua mulher”. Casa é tudo aquilo que constitui o ser família, bens,
tradições, vínculos afetivos e sociais. Aquilo que significava o clã. É uma
mudança de sentido no modo de viver. Vejamos o quanto isso exige de mudança da
pessoa. O caminho espiritual vai indicar o quanto de perda e ganho existe e
quanto de esforço de ser um para o outro.
Nesse sentido carne vai significar também a união de corpos na
complementaridade física, sexual, afetiva na entrega e no acolhimento. “O que
Deus uniu o homem não separe”. Ser uma só carne é ser conduzido por Deus e não
por voluntariedade humana.
293.Serão um só coração
Como
a realidade carnal, a espiritual mais ainda, será realizada pela unidade do
coração. A comunhão espiritual realizada pelo Espírito Santo faz do casal um
ser novo. O ser novo funda-se na união de Cristo e a Igreja. A Páscoa de Cristo
entregando-se por sua Igreja acontece no casal a partir do “SIM” dado no altar
e continuado no dia-a-dia. A santidade matrimonial e o caminho de santificação
não se apóiam na vida espiritual de orações e boas intenções, mas no gesto
próprio de doar-se no qual se misturam carne e espírito. A espiritualidade
matrimonial exigirá também caminharem juntos no esforço de passar à vida a
graça que se doaram no altar. É uma santidade feita de carne e espírito. Quanto
mais a realidade carnal foi acompanhada pela espiritual, tanto mais se
concretiza a espiritualidade. Quando houver dificuldades e cruzes na carne, o
espiritual será forte para levar adiante o matrimonio. Igualmente o espiritual
será estimulado pelo carnal e lhe dará ossos, pois pode se enfraquecer, quando
falta a carne.
294.Indivíduos, mas unidos
Ao
termino da criação Deus, contemplando a obra que fizera, viu que tudo era muito
bom (Gn 1,31) Mesmo depois do pecado, sua criação possui a bondade que lhe deu o Criador. Com Jesus, o homem e o mundo foram redimidos. Se ainda há mal é
porque optamos por ele, pois Jesus o venceu na cruz e tem sua vitória na
Ressurreição. O matrimônio, síntese do espiritual e do carnal, está no centro
dessa criação de Deus. Por mais que tenha sido visto sob o prisma do pecado,
reina nele a beleza da natureza criada por Deus. É só no prisma da graça que
devemos conhecê-lo e vivê-lo. Viver tudo o que há de bom, pelo mútuo
conhecimento, se chegará a grande santificação.
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