Ao dizermos que a oração é diálogo, é
conversa de amigos e, mais ainda, é olhar nos olhos e amar, estamos querendo
unir nosso relacionamento com Deus com aquilo que é central em nossa vida, o
afeto. Nós achamos que a oração na vida espiritual depende somente de nós. Na
realidade, toda a iniciativa é de Deus. Deus nos criou e nos conserva. A
redenção da humanidade foi uma iniciativa de Deus como nos diz Paulo: “ Deus
demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando
éramos ainda pecadores” (Rm 5,8). Na vida de oração, podemos ter certeza de que
é Deus quem puxa a conversa. Ele mesmo nos leva a procurá-lo. Ele nos deu o
Espírito que nos introduz nesta relação amorosa com o Pai, pelo Filho. O afeto
da oração vem em primeiro lugar de Deus. Podemos ler no profeta Oséias: “Eis
que vou, eu mesmo, seduzi-la e conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração.
Ali me responderá como nos dias de sua s juventude, como no dia em que subiu do
país do Egito” (Os 2,16-17). Ao iniciarmos uma oração, temos já o impulso do
afeto de Deus que nos convida a um diálogo, a uma conversa com Ele. Nossa
oração é resposta a uma questão: “Simão, tu me amas?” (Jo,21,15). Quando se
estabelece o relacionamento de Deus com seu povo, usa-se o termo aliança, e
Deus toma a iniciativa de oferecer-se como parceiro desta aliança. Notamos a
freqüência com que se diz: “Agora, pois, ouve, ó Jacó, servo meu, ó Israel, a
quem escolhi” (Is 44,1). Deus se compromete, mesmo antes de o homem dar
garantias de sua fidelidade. A linguagem da aliança diz sempre do amor que ela
oferece. O amor presente na aliança de Deus com a humanidade é como um
casamento. O mútuo amor que fala ao coração realiza este matrimônio.
59.
Cultivar o amor
A
oração vai além de palavras, gestos e atitudes. Ela se centraliza no desejo de
um encontro que preencha o coração. Se fizermos muitos pedidos nas dificuldades
que passamos, não perdemos o conteúdo de nossa atitude oracional: é o amor que
nos leva a buscar a Deus e a confiar nÊle na situação em que nos encontramos.
Quando rezamos, estamos amando. O amor é consistência da oração. Mesmo que não
consigamos nos exprimir por palavras, há dentro de nós um estímulo grande para
acreditar que Deus está ao nosso lado e nos ouve. É a certeza de que estamos
sendo vistos e ouvidos com amor. Uma oração que não nasce do amor, não preenche
nosso coração da alegria e da serenidade. Deus não cobra nosso amor. Ele nos
ama. Rezando demonstramos que O amamos.
60.
Amor universal
O amor de que falamos é
o amor que se difunde. Quando estamos em oração, estamos unidos a todos os que
Deus ama, isso é, todos. Rezando, estaremos criando a grande corrente de amor
onde levamos a Deus todas as pessoas e expressamos seu o amor a todos. Oração
não se reduz a palavras ditas, mas a uma transformação do mundo em amor. Não
precisamos dizer que amamos, pois, ao rezar estamos amando. Mais ama a
humanidade aquele que reza. Mais reza aquele que ama a humanidade e transforma
sua vida em um gesto permanente do amor de Deus a todos. Não há oração sem
amor, como não há amor sem oração. O amor universal, onde somos tudo para
todos, é o resultado da oração. A oração transforma-se em uma corrente que une a
humanidade a Deus.
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