O povo de Israel andou 40 anos pelo deserto para entrar na Terra Prometida. O número 40 simboliza o tempo de espera da ação de Deus no qual se manifesta a fragilidade humana e a força da tentação. Priva-nos das falsas seguranças humanas que são consumismo, o poder e os prazeres. É o momento em que o tentador chega. O número 40 está presente em diversos lugares na Escritura, sendo o mais significativo, o jejum de Jesus. Por que Jesus faz este tempo de deserto? Ele resume em si todo o anseio de libertação vivido pelo povo no Egito e também sua caminhada pelo deserto. O povo foi tentado pela fome, pela idolatria do bezerro de ouro e pela provocação a Deus. Jesus é tentado pelo pão, pelo prazer da riqueza e pelo desejo de resolver tudo nos milagres. “As tentações de Jesus se reduzem a três pontos básicos: a fácil popularidade reduzindo a salvação a simples questão econômica dando pão; o espetáculo da fé por interesses e o poder a todo custo através do milagre” (Virgílio Pasqueto). Estas tentações resumem todas as outras. Podemos traduzir nos termos: o consumismo, o prazer e o desejo do espetáculo. Estas tentações estão penetradas na sociedade atual. Por que se quer acabar com Jesus e sufocar a Igreja na sociedade de primeiro mundo? Porque Jesus ensina que esses males se curam com o pão da Palavra, com a humildade da oração e com a adoração a Deus. Por isso a primeira leitura traz o texto da profissão de fé do hebreu ao levar os primeiros ao templo para reconhecer Deus como fonte de tudo: “Por isso, agora trago os primeiros frutos da terra que Tu me deste, Senhor” (Dt 26,10). A tentação é o empenho do mal de desviar Jesus do caminho de sua fidelidade a Deus que passa pela vida escondida, fraqueza e a humilhação da cruz. As tentações mostram que o homem tende a construir a própria grandeza esquecendo-se de Deus e de seus semelhantes. Enquanto atravessamos o deserto da vida somos convidados a nos deixar guiar pelo Espírito Santo, pois Jesus era guiado por Ele. Colocando-nos a serviço do Senhor, alimentando-nos de sua palavra e abandonando todo desejo de domínio e poder sobre os outros. O jejum quaresmal não é passar a fome, mas tirar o consumismo, a vaidade e o poder que nos invadem.
Páscoa da liberdade
Rezamos no salmo 90 o sentimento de Jesus em sua tentação: “Sois meu refúgio e proteção, sois o meu Deus, no qual confio inteiramente” (Sl 90,2). Por isso Deus o exaltou (Fl 2,9). A Quaresma não tem outro sentido a não ser conduzir-nos a celebrar a Páscoa que é a libertação e a vitória total sobre o mal e a morte. Rezamos o Pai Nosso que Deus não nos deixe cair em tentação, mas nos livre do Mal. A vitória de Jesus é nossa vitória. S. Agostinho diz que sofremos as tentações com Cristo e com Ele vencemos. Jesus já nos redimiu uma vez por todas (Hb 7,27). Vivendo a Quaresma podemos celebrar a Páscoa.
Viver de sua palavra
A Páscoa é para todo o universo, pois “todo aquele que invocar o nome de Jesus será salvo” (Rm 10,11). Podemos viver a Palavra. Este tempo santo é rico da Palavra de Deus. Rezamos “Dai-nos desejar o Cristo, pão vivo e verdadeiro, e viver de toda palavra que sai de vossa boca” (Pós-comunhão). A Quaresma é tempo da caridade. A conversão nos conduz também ao irmão necessitado. Sem isso, jamais podemos entender o gesto de Jesus de dar a Vida para que tivéssemos vida. Vamos ter vida se a dermos ao irmão.
Leituras: Deuteronômio 26,4-10;
Salmo 90;
Romanos 10,8-13;Lucas 4,1-13
1. Os 40 anos de deserto lembram o povo que passou por tentações no deserto. Jesus passou pelas mesmas tentações e pode vencer com a Palavra, com a humildade e com a adoração. Na sociedade atual o consumismo, a vaidade e o poder são os nomes das tentações. O judeu, ao oferecer as primícias reconhecia o Criador. O jejum elimina nossos males.
2. A Quaresma tem sentido de preparação para a Páscoa da libertação e a vitória sobre o mal. A vitória de Jesus é a nossa vitória
3. A Páscoa é para todo o universo. A Quaresma é tempo propício para ouvir a Palavra. É tempo de caridade. Sem ela não entendemos a atitude de Jesus ao dar sua vida. Vamos ter vida se a dermos ao irmão.
O diabo é feio e brabo
Achamos que o diabo não seja tão feio, mas é bem esperto. A tentação, artimanha do mal, está muito perto de nós. Até Jesus foi vítima dela. Não foi de mentirinha. Ele foi tentado durante toda Sua vida. Venceu pela Palavra de Deus que vivia e anunciava.
As tentações de Jesus são as mesmas que passamos e se resumem no pão, no poder e no prazer. É a ganância pelo ter, o orgulho e o prazer pelo prazer. O remédio é a partilha, a humildade em servir os irmãos e a Deus e a adoração, quando Deus é realmente nosso único bem, o único que justifica todos os nossos puros prazeres.
Vivendo a Quaresma podemos vencer com Jesus. S. Agostinho diz: Nele fomos tentados, nele vencemos. Sabemos onde está o bem e o mal, vivendo a Palavra.
Homilia do 1º Domingo da Quaresma (17.02.2013)
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