Depois da morte de João Batista, que deve ter sido chocante para Jesus e os discípulos, Ele procura um lugar deserto. O povo o busca. “Ao descer do barco, encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes” (Mt 14,14). O povo ficava tão feliz com sua presença, que curava suas doenças e enchia o coração de felicidade, que não se preocupava com o alimento. Os discípulos alertam Jesus para que os envie para encontrar alimento nos povoados. Jesus diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”. “Só temos 5 pães e 2 peixes”! respondem os discípulos. Jesus faz o gesto sacerdotal: Ergue os olhos para o céu e pronuncia a bênção, parte o pão e dá aos discípulos para distribuírem. Estamos entre dois banquetes: O banquete de morte de Herodes onde é partido o profeta João e o banquete que Deus prepara a todos os povos. O Senhor é muito bom. Misericórdia e piedade é o Senhor, Ele é amor, é compaixão! “O Senhor é bom para com todos. Sua ternura abraça toda a criatura” (Sl 144,88-9). Jesus aprende do Pai e usa sua bondade e compaixão. Temos que ler esse Evangelho à luz da Eucaristia. Ela é o grande banquete que vai alimentar a fome dos povos. Ele é generoso e abundante. O salmo reza: “Todos os olhos, ó Senhor, em Vós esperam e Vós lhes dais no tempo certo o alimento. Vós abris a mão prodigamente e saciais todo o ser vivo com fartura” (Sl 144,15). Com todo esse amor que recebemos, entendemos a Eucaristia, pão partido e partilhado: Que tenhamos a mesma bondade e compaixão. Nada é pouco, quando partilhado. A Eucaristia é o banquete oferecido a todos como expressão da gratuidade de Deus.
Dois peixinhos
Fala-se muito do pão, mas os dois peixes permanecem esquecidos. Há um comentário de Tomás Frederici que pode nos iluminar. O peixe era importante para a comunidade primitiva. Lembramos que Jesus come um pedaço de peixe para provar que estava vivo (Lc 24,42). Aparece como símbolo cristão nas catacumbas. Peixe em grego é ichtys. É como que uma profissão de fé, pois as letras da palavra peixe, em grego, formam um acróstico Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador (Iesous Christós tou Theou Yiós Soter). O peixe é um belo símbolo: O peixe vive em seu ambiente. Ele morre ao sair da água, é cozido ou assado, e se torna um alimento precioso. Cristo Deus, desce do Pai, para entrar em nossa história, morre na cruz, sacrifício queimado no fogo do Espírito do amor e se torna alimento divino. Torna-se o banquete. O peixe pode nos animar a fazer como Cristo: fazer de nossa vida um banquete que sacia, mesmo, tendo somente 5 pães e dois peixes. Com o mandamento do amor realizamos a multiplicação. Já está na hora de redescobrirmos a força de transformação do mundo que está na Eucaristia. É mais fácil ficar preocupados com ritos, formas, panos e poses, em lugar de nos deixar consumir na compaixão de Cristo que quer “que todos tenham vida em abundância” (Jo 10,10).
Amor de Cristo
Nada “será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Rm 8,39). É um amor recebido gratuitamente, mas é também um amor aprendido na compaixão de Cristo. Ele repartia o pão da palavra e o pão da vida. Isso ele quis nos deixar como testamento: “Fazei isso em memória de mim”. É isso que fazemos fundados nesse amor. Ele é o pão que é partido na cruz. Nesse amor de entrega celebramos a Eucaristia que é vida para o mundo. O milagre não é multiplicar, é partilhar.
Leituras: Isaias 55,1-3; Salmo 144;
Romanos 8,35.37-39;Mateus 14,13-21.
1. Depois da morte de João, Jesus vai a um lugar deserto e lá, já está o povo esperando. Ele sente compaixão e cura os doentes. Alertado pelos discípulos quanto à hora avançada e a necessidade do alimento, diz: Dêem vocês de comer! Na bondade do Pai ele multiplica o pão. Este gesto é eucarístico: partir e repartir para partilhar.
2. Os peixes são um símbolo de Cristo, usado por Jesus e nas catacumbas. A palavra, em grego (ichtys), é um acróstico: Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. O peixe é tirado de seu ambiente, morre, é assado ou cozido pelo fogo e torna-se um alimento. Jesus veio do Pai, se faz homem, é morto na cruz e assado pelo fogo do Espírito para se tornar alimento na Eucaristia. Pela força do amor, o pouco que temos se multiplica.
3. Nada nos poderá separar do amor de Cristo. Esse amor é aprendido na compaixão de Cristo. Ele nos deixa a Eucaristia como testamento para multiplicar o amor, repartindo-o. O milagre não é multiplicar, mas partilhar.
Não perco essa festa!
O profeta faz um convite para uma festa de arromba. Convida e não se precisa pagar nada! Esse profeta é dos bons. A propaganda parece enganosa, mas não o é. O salmo reza: “Abris a vossa mão e saciais vossos filhos” (Sl. 144).
Como Deus “não nega fogo” em nada que promete, mandou Jesus que realmente não só abriu a mão, mas multiplicou a bondade de Deus. Tem a narrativa da multiplicação dos pães. Um povo faminto da Palavra esqueceu-se de levar o alimento. Jesus tinha uma reserva incomensurável: Estava tudo guardadinho em seu coração compassivo. Multiplicou cinco pães e dois peixinhos. E sobrou demais: 12 cestos. A abundância nasce do Coração de Deus.
Quando a gente tiver esse coração, ninguém vai roncar a barriga de fome.
Homilia do 18º Domingo Comum(03.08.2008)
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