O México, um dos países com maior numero de católicos, sofreu uma grande perseguição religiosa no inicio do século XX. Milhares de cristãos foram martirizados, de modo especial podemos contar a história de São David Galván Bermúdez, sacerdote, perseguido pela defesa de uma jovem e pelo zelo pelos moribundos por quem deu a vida dizendo: "Não haverá maior glória do que morrer salvando uma alma que eu consiga absolver!"
David nasceu em Guadalajara, no México em 1881, quando tinha apenas 3 anos de idade, sua mãe faleceu e David ficou aos cuidados de seu pai e seus irmãos. Mais tarde tendo seu pai casado novamente, passou a ser cuidado também por sua madrasta Victoriana Medina.
Logo manifestou a seu pai o desejo de ingressar no Seminário, tendo ele aceitado levá-lo para matricular-se em outubro de 1895. Ali cursou como aluno aplicado e sempre obtendo boas notas os cinco anos de latim e humanidades. Terminados os estudos, saiu do Seminário.
Os três anos em que esteve fora do Seminário, trabalhou numa sapataria, além de dar aulas como professor de escola primária. Teve uma conduta um tanto desregrada nesse tempo, ao ponto de ter sido detido numa briga com sua namorada.
Passada essa experiência, o jovem David, contando vinte e um anos de idade, sentiu novamente o intenso desejo de voltar ao Seminário, porque ouvia em seu interior o chamado de Deus; tornou-se muito devoto, piedoso e assíduo à oração e aos atos de culto; visitava o Santíssimo Sacramento e a Virgem de Zapopan e a invocava dizendo-lhe:
"Minha Mãe, dai-me um norte para que eu conheça minha vocação"
Antes de admiti-lo, o Reitor do Seminário, Miguel de la Mora (São Miguel de la Mora, também mártir), o submeteu durante um ano a provas rigorosas que ele superou de maneira admirável, demonstrando vivo desejo em ser admitido. Já novamente seminarista, apresentou excelente conduta como aluno exemplar, piedoso e aplicado, ocupando quase sempre o primeiro lugar nas aulas.
No ano de 1909 o jovem David Galván foi ordenado diácono e em 20 de maio, festa da Ascensão, recebeu a Ordenação Sacerdotal.
O Padre Ramiro Camacho assim descreve a São David Galván Bermúdez:
"Índio de musculatura forte e robusta, um de seus olhos enxerga com dificuldade, puro de alma e corpo, admirado por seus discípulos por sua coragem e bravura".
Era um tempo de grande anticlericalismo, conforme relato da época:
"Comemos e em seguida visitamos Veracruz... O Padre Galván e eu, temos andado "à paisana" como laicos, porque aqui há muito anticlericalismo; quase não há piedade... A tonsura tivemos de deixar crescer (refere-se ao cabelo da região superior-traseira da cabeça que é raspada nos clérigos quando são tonsurados); sendo notada somente se observada com atenção; é certo que nem por mal pensamento se deve supor que somos eclesiásticos"....
Os testemunhos declaram que o Padre Galván celebrava com grande devoção a Santa Missa, para a qual se preparava com uma hora de oração, e depois dava graças com grande fervor. Passava longos momentos em oração diante do Santíssimo, todos os dias, pela manhã e pela noite, na Igreja de Santa Mônica, anexa ao Seminário. Em sua vida sacerdotal deu exemplo de muitas virtudes porque foi sensível, humilde, obediente e serviçal; nutria grande devoção pela Santíssima Virgem Maria, honrando-a diariamente com a reza do Santo Rosário e transmitia essa devoção às crianças.
Esforçava-se por mortificar seus sentidos para evitar as ocasiões de pecado e ter pureza em todos seus atos.
Procurou sempre ajudar aos necessitados proporcionando instrução aos ignorantes, remédios aos enfermos e auxílios espirituais aos moribundos, sem que o impedisse a chuva, o frio, o sol, os barrancos ou quaisquer outras dificuldades.
No mês de julho de 1914 entrou em Guadalajara tropas do exército do general Venustiano Carranza, dissolvendo templos, conventos, seminaristas, religiosos e sacerdotes. Por esses dias os alunos e os professores do Seminário foram dispersados pelas forças do exército.
Por essa razão o Padre Galván foi designado nesse ano, como vigário, a Amatitlán - Jalisco. Neste lugar uma jovem lhe pediu um conselho, já que Enrique Vera, militar, queria seduzi-la, sendo que era casado. O Padre Galván lhe aconselhou que se escondesse e que seus pais fizessem o mesmo. A jovem cometeu a imprudência de dizê-lo a Vera, despertando neste militar um verdadeiro ódio ao sacerdote, fazendo-o desejar uma vingança contra o Padre.
No fim do ano de 1914 Ficou preso por quase um mês por ordem do Tenente Enrique Vera.
Em 18 de janeiro de 1915, doze dias antes de sua morte, passou mais de seis horas auxiliando os feridos na linha de fogo em um terrível combate entre tropas do governo e rebeldes.
Na madrugada do sábado - 30 de janeiro – os combates de intensificam na cidade de Guadalajara e muitos caíram mortalmente feridos. O Padre Galván estava hospedado em uma casa do bairro do Santuário, onde, ao ouvir os ruídos do confronto, levantou pronto para ir auxiliar os feridos. Enquanto lhe pediam que não saísse porque o matariam, Padre Galván lhes respondeu:
"Não haverá maior glória do que morrer salvando uma alma que eu consiga absolver!"
Pediu ao Padre Rafael Zepeda Monraz que o acompanhasse para confessar os feridos, porém este sacerdote não quis acompanhá-lo devido ao grande perigo e lhe disse que não estavam obrigados a ir porque não eram os párocos ou ministros daquela região, ao que o Padre Galván lhe respondeu:
"Não por obrigação, mas sim por caridade".
Chamando o Padre José María Araiza para auxiliar aos que seriam fuzilados, porque tinha permissão do general. Em seguida os dois caminharam em direção ao Jardim Botânico quando ao passar em frente ao quartel, os soldados lhes perguntaram se eles eram religiosos e eles responderam que sim, eram sacerdotes, pelo que os soldados os detiveram.
O tenente coronel ainda Enrique Vera odiava o Padre Galván, neste mesmo dia Vera ordenou que os sacerdotes fossem encarcerados em um quarto do quartel. Assim o fez por seu ódio à Fé e para se vingar do sacerdote.
Estando presos há duas horas, os dois sacerdotes fizeram sua confissão sacramental e se deram mutuamente a absolvição. Às palavras do Padre Araiza, que lamentava por não ter sequer tomado o café da manhã, o Padre Galván lhe respondeu:
"Não importa, nós vamos comer com Deus".
Enrique Vera ordenou ao pelotão de soldados que levassem os dois sacerdotes para a Rua Coronel Calderón junto à parede oriente do Hospital Civil e que ali os fuzilassem.
Quando os retiraram, Petra e seu irmão menor se puseram a observar pelas "frestas" das portas de sua casa: o Padre David - recorda Petra - trazia as mãos atadas às costas e mantinha sua cabeça baixa; de seu pescoço pendia um longo cachecol branco.
Eram doze horas do dia 30 de janeiro de 1915; o Padre Galván, percebendo que sua morte era iminente, entregou aos soldados as moedas e outros objetos pessoais e a ampola com os Santos Óleos.
Em seguida, retirou seu chapéu, e sem permitir que lhe cobrissem os olhos, apontando para o próprio peito, disse aos algozes:
"Atirem aqui".
O subtenente Martín Ocampo ordenou a execução, os soldados dispararam as armas e o Padre caiu fuzilado, vítima do ódio à religião de Jesus Cristo.
Os familiares e amigos pediram às autoridades civis e militares a liberdade para os dois sacerdotes, mas quando chegaram com a ordem de indulto os soldados já haviam fuzilado o Padre Galván, servindo o indulto somente ao Padre José María Araiza, a quem mesmo assim mantiveram preso por mais cinco dias soltando-o somente quando lhes pagaram grande quantia em dinheiro.
Os restos mortais de Padre Galván, foram recolhidos pelas professoras María Dolores Alcaraz e María Soledad Dueñas que os colocaram num caixão e os conduziram em meio de uma silenciosa marcha e de uma grande multidão, até o colégio do Menino Jesus, localizado na Rua de Pedro Loza, onde foram velados por toda a noite por gente piedosa e por seus discípulos, amigos e companheiros.
O impressionante sepultamento ocorreu na tarde do domingo, 31 de janeiro de 1915. O cortejo fúnebre foi apoteótico, formado pela multidão de pessoas de todas as classes sociais, não obstante o temor que reinava nesse momento de perseguição.
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