segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Seduziste-me, Senhor!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
46 ANOS SACERDOTE
O desejo de Deus.
 
O salmo 62, cantado nessa celebração, expressa uma dimensão muito profunda da realidade humana: o desejo de Deus. Esta profunda atração que Deus exerce sobre nós é refletida no salmo com a expressão: “Minha alma tem sede de vós, minha alma também vos deseja, como terra sedenta e sem água”. A condição humana, por mais destruída ou pecaminosa que seja, tem sempre como a maior força de atração o desejo de Deus, por vezes odiado ou desconhecido. Por que essa atração, esse desejo e essa busca ansiosa de Deus? Tenhamos certeza de que Deus sempre toma a iniciativa. Se há em nós algo que busca Deus é porque Ele nos seduziu. Mais ainda: “E eu me deixei seduzir”. As palavras no original são muito mais fortes e vão além de posse e de entrega pessoal. Essa sedução fantástica é permanente em nossa vida. Mesmo que eu não saiba nem queira responder, Deus sempre me incomoda. Como diz o profeta: “Por mais que eu queira abafar, Ele é como um fogo que está dentro de meus ossos”. Não temos força para resistir. Deus nos atrai, arrasta e toma. Não há como resistir. Não conseguimos viver sem Deus. Ele sacia nosso desejo de sermos participantes de sua vida. Parece-nos que falta em nós aquele sopro do hálito de Deus ao criar o homem. Temos necessidade permanente deste “ar de vida”. Ela dá vida ao nosso ser frágil e de barro a ser sempre moldado, para chegar a ser imagem d'Aquele que nos criou.
Culto espiritual 
Paulo nos fala de culto espiritual: “Exorto-vos a oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Esse é vosso culto espiritual” (Rm 12,1). Esse desejo espiritual não é um vago sentimento. É um modo de vida. A vida do cristão e de cada homem e mulher de boa vontade é um culto a Deus enquanto transforma o desejo em ação concreta. Por estar unido a Deus, é também obra de Deus e por isso lhe é agradável. Nada de nossa vida, feito pelo bem, perde seu valor, pois está em união com Deus. Isso é nosso louvor primeiro. É nosso culto espiritual feito sobre o altar de nosso corpo, no grande templo da terra, no mundo das pessoas. “Transformai-vos renovando vossa maneira de pensar e julgar” (2). O desejo de Deus vem da união do Filho que está em permanente contemplação do Pai e lhe presta o culto de amor e acolhimento. Assim podemos fazer em nossa vida: amar e acolher amor. Temos assim a base para nosso culto pessoal, isto é, uma vida voltada para Deus no amor aos irmãos e ao mundo amado por Deus. 
Ganhar a vida 
“Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder sua vida?” (Mt 16,26). O grande fruto do desejo, provocado pela sedução de Deus, é dar o verdadeiro valor à vida: ela está unida ao modo de Jesus pensar, agir e viver. Pedro quis obstacular o caminho de entrega de Jesus. “Você não pensa nas coisas de Deus, mas sim nas coisas dos homens” (23). Ganhar a vida é deixar-se ganhar por Deus. Quando Ele for de fato o fogo que nos queima por dentro dos ossos, ganhamos nossa vida. A vida conquistada é o que constitui a felicidade de cada um. Não há necessidade de nada para ser feliz. Basta saciar-se no desejo de estar em Deus e nEle realizar a vida.
Leituras: Jeremias 20,7-9; Salmo 62; 
Romanos 12,1-2; Mateus 16, 21-27. 
Ficha: 1. Há em nós um permanente desejo de Deus. O salmo 62 reza: “Minha alma tem sede de Vós como a terra árida sem água”. Esse desejo vem do fato de sermos frágeis e necessitamos desse sopro divino que nos dê vida. Somos o barro sempre em fase de moldado para chegar a ser imagem dAquele que nos criou. 2. O desejo é a base do culto espiritual que se realiza em nossa ações de cada dia. Esse desejo espiritual não é um vago sentimento. É um modo de vida. A vida do cristão e de cada homem e mulher de boa vontade é um culto a Deus enquanto transforma o desejo em ação concreta. 3. Ganhar a vida, como nos propõe o Evangelho, trata-se não de perder, mas de encontrar a saciedade no desejo de Deus. Não há necessidade de nada para ser feliz. Basta saciar-se no desejo de estar com Ele e nEle realizar a vida.
Homilia do 22º Domingo Comum
EM AGOSTO DE 2005

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