sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - O próximo é próximo de Deus

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
46 ANOS SACERDOTE
Não faça mal a si mesmo!
 
Somos um universo de sentimentos, tendências, atitudes que fervem dentro de nós como um vulcão. Tudo é muito bom e muito saudável. Diz Maria Celeste Crostarosa, fundadora das Monjas Redentoristas (1696-1755), que as “paixões são boas, basta domesticá-las”. A raiva, o rancor, a falta de perdão, a dureza de coração atingem o próximo de modo violento. Esse furacão causa danos piores a nós mesmos. Um dia um ‘evangélico’ comentou comigo que ‘o mau pensamento surra a alma’, quer dizer: o mal que pensamos e que faz aos outros faz mal a nós mesmos. Encontrei essa citação em Provérbios: “O homem bondoso faz bem a sua própria alma; mas o cruel faz mal a si mesmo” (Prov 11,17). Quando estamos com raiva de alguém, e mesmo que não demonstremos, nós sofremos. Esses sentimentos levam a prejudicar nosso relacionamento com Deus (Eclo 27,38-28,9): ‘Nossa oração não será ouvida, os pecados não serão perdoados’. Temos muita facilidade em viver uma situação de ódio e em fazer nossa vida espiritual, como se fossemos outra pessoa. O relacionamento com o próximo tem uma relação direta com o relacionamento com Deus. Por isso é o mau relacionamento é chamado de pecado. Para amansar nosso coração, a Palavra de Deus nos anima a pensar em nosso fim, nossa morte, para sabermos que nossas atitudes e exigências para com os outros são inúteis e ignorantes. Não é a toa que, ao rezarmos o Pai Nosso, nós condicionamos o perdão de Deus ao modo como perdoamos os outros. Jesus é esperto demais. 
É para o Senhor que vivemos 
Deus nos trata tão bem e não fica lembrando nossos pecados (Sl 102). A vida não tem sentido a não ser a partir de Deus: “Ele é o Deus dos vivos e dos mortos” (Rm 14,9). A razão de nossa vida se funda em Deus. Não se trata de ficar só pensando nEle, mas que nossa vida O tenha como referência primeira. Nós o fazemos quando vivemos o amor, o perdão (tão difícil), o sentimento de bondade. Viver para Deus é viver para a felicidade dos outros. O próximo é o próximo de Deus. O que fazemos aos outros estamos fazendo a Deus, pois todos estão unidos a Deus. NEle vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28). O bem que fazemos aos outros é o maior bem que fazemos a nós mesmos, pois estamos fazendo para nós. Como damos a medida do perdão de Deus ao perdão que damos, assim também Deus condiciona o bem que nos dá ao bem que fazemos aos outros. 
Perdão é caminho de vida 
A perspectiva da liturgia da Palavra de hoje é a necessidade de perdoar. Deus perdoa nossos imensos pecados. Nós aceitamos alegremente o perdão, mas nos esquecemos que devemos perdoar como Deus nos perdoa. É o que nos diz a parábola que termina com a afirmação: “Assim o Pai fará convosco se cada um não perdoar de coração seu irmão” (Mt 14,35). Vivamos sem rancor e raiva, pois no perdão seremos premiados por Deus. Mais que nos preocuparmos em perdoar ou não perdoar, é necessário criar um ambiente de reconciliação onde não haja necessidade de ofensas. É esse o modelo que Jesus criou para a comunidade de seus discípulos quando ensina o serviço humilde, a procura dos últimos lugares e a dedicação à vida, como Ele próprio o fez. Amou-nos até o extremo do amor. 
Leituras:
 Eclesiástico 27,30-28,9; Salmo 102; 
Romanos 14,7-9; Mateus 18,21-35. 
Ficha: 1. Vivemos, de quando em quando, um vulcão interior de sentimentos fortes de raiva, rancor e ódio. Mesmo que não o demonstremos sofremos, pois quem “pensa mal do outro, surra a própria alma”. A aceitação desses sentimentos prejudica nosso relacionamento com Deus como está escrito na primeira leitura. A Palavra nos estimula a pensar em nosso fim para não pecar. 2. O remédio que temos para esses males é levar em conta onde está o centro de nossa vida: em Deus. Viver para Deus é viver para os outros. O próximo é próximo de Deus. Nosso bem está relacionado com o bem que fazemos aos outros, como o perdão que pedimos para nós está condicionado ao perdão que damos aos outros. Assim rezamos no Pai-Nosso. 3. A liturgia deste domingo nos estimula ao perdão. Mais que nos preocuparmos em ser perdoados ou perdoar, temos de criar um clima tal de reconciliação e amor que não haja necessidade de pedir perdão. Criar um ambiente de amor e serviço fraterno será o caminho da reconciliação preventiva.
Homilia do 24º Domingo Comum
EM SETEMBRO DE 2005

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