PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA-50 ANOS CONSAGRADO |
Mas da Palavra de Deus
As tentações de
Jesus no deserto mostraram nossa realidade frágil, e deram a certeza da força
de que estamos revestidos de Jesus Cristo. Santo Agostinho explica esse
momento: “Cristo foi tentado pelo demônio. Em Cristo também tu eras tentado...
Se Nele fomos tentado, Nele também vencemos o demônio... Se não fosse tentado,
não te daria o exemplo de como vencer na tentação” (Comentário
dos Salmos – CLL39,766).
Onde está a vitória de Jesus? Em sua obediência ao Pai. Ele, Palavra de Deus,
nutre-Se desta Palavra. Disse ao demônio: “Não só de pão vive o homem, mas de
toda Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4 – Dt
8,3).
Esta Palavra orientará na luta contra o orgulho e na sede do prazer. O tempo da
Quaresma é propício para ouvir a Palavra em abundância. Ela é o alimento do
tempo de deserto. Quem tem fé na Palavra, em suas dificuldades abre as Sagradas
Escrituras e busca o remédio. Na fome e na tentação Jesus se alimentava desta
Palavra. Depois que o demônio O deixou, “os anjos de Deus se aproximaram e
puseram-se a servi-Lo” (11). Mais do que um
drama acontecido entre Deus e Satã num deserto, está o coração do humano Jesus
tentado: “Se tu és o Filho de Deus”. Jesus passa por um deserto interior no
qual vai formando sua personalidade humana e espiritual. Esses Anjos estão a
lembrar de que nas dificuldades temos que ser anjos para os sofredores,
principalmente nas crises espirituais. A comunidade é o anjo que abre a Palavra
de Deus para orientar. No tempo da Quaresma somos chamados a ouvir a Palavra.
Temos também as tentações da ganância, do poder e do prazer desenfreado. O
discernimento só acontecerá quando nos abrirmos à Palavra. Sem isso somos
engolidos pela voracidade da tentação.
Palavra que
instrui
É interessante
perceber que a liturgia da Palavra da Quaresma reflete uma fé que se volta ao social, à situação das pessoas
necessitadas. Por outro lado a prática religiosa que se tem está voltada para o
aspecto devocional mais intimista. A Campanha da Fraternidade corresponde mais
à justiça social proclamada por Isaias e Jesus. Já logo no início da Quaresma
encontramos o texto do Profeta Isaias ensinando que o verdadeiro jejum é
quebrar as cadeias injustas, repartir o pão com o faminto, acolher o pobre... (Is 58,1-9). Jesus, no discurso sobre o juízo final,
lido na primeira semana da Quaresma, diz que seremos julgados não pelo aspecto
devocional, mas pelo cuidado que tivermos com o pobre, com o sedento, o nu, o
prisioneiro, o doente e o peregrino. É a Palavra que nos orientará a viver esta
dimensão. Por isso, somente a partir das palavras de Jesus, seus gestos e
sentimentos pode-se entender a Palavra de Deus. Os textos da liturgia fazem uma
retomada da História da Salvação. Por eles pode-se entender o Mistério Pascal
que celebramos. A profecia se realiza em Cristo e na comunidade que celebra. É
instrução e celebração.
Palavra memorial
Falamos de memorial. A fé cristã, tendo
como o pano de fundo da fé hebraica, tem a dimensão memorial necessária para
ajudar entender o que acontece em uma celebração. Jesus, na última Ceia, diz:
“Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). Os hebreus,
quando celebram a ceia pascal tem esse mesmo conceito. Memória não é uma boa lembrança,
mas a atualização do acontecimento a tal ponto que o acontecimento se faz
presente. Nós temos a presença pela ação do Espírito Santo. Estamos presentes
ao acontecimento. O ato salvador tem a mesma força de salvação do momento
realizado. A memória também lembra a Deus suas maravilhas de outrora e pede que
renove estas maravilhas.
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