A Quaresma é
tempo para aprofundar a oração. O
homem e a mulher quando estão de joelhos, atingem sua maior estatura, à altura de
Deus com quem entram em relacionamento. Não querer rezar, não saber falar com
Deus e não procurar a oração é um grande prejuízo. A grandeza da oração não
está nos sentimentos que ela pode provocar em nós nem nos resultados que
podemos obter; Não está no fato de se agradável nem na capacidade de fazê-la
bem. Tudo isso pode ocorrer, mas não é o necessário. A grandeza da oração vem
do encontro com Deus. Para falar da oração é preciso vivê-la. O encontro com
Deus não é misterioso ou acessível só a privilegiados. Quem O procura encontra,
pois Ele Se deixa encontrar. A própria busca da oração já é resultado de Sua
presença. Ninguém vai a Deus sem ser atraído por Ele. Por que temos
dificuldades de rezar? Porque a oração não faz parte de nossa vida. Ela só será
vital se costurarmos os fatos de nossa vida com Deus. Não se trata de colocar o
carimbo de Deus em tudo, mas colocar tudo sob seu olhar, pois nos contempla.
Colocar sob Seu olhar é fazer sua vontade. Aqui entra o diálogo com Deus. A
dificuldade é que não sabemos ver a realidade como base do diálogo. Um texto da
Bíblia mostra Ezequias que vai ao templo e leva uma carta ofensiva que o rei da
Babilônia lhe escrevera e lê para Deus como a dizer: Olha aqui o que ele
escreveu! (2R 1914-19). Deus não sabe
tudo o que acontece conosco? Sabe, mas não Lhe falamos ainda. É como a mãe que
pergunta o filhinho qual a música que a professora ensinou. Se não houver a
costura de nossa realidade com Deus, a oração perde o vigor. Vigiai e orai
continua um mandamento não para gerar neurose, mas uma presença constante que
nos leva a Deus.
Simão, orei por
ti
Jesus é o modelo
também da vida de oração. Rezava muito. Lemos nos evangelhos que passava a
noite em oração, que se levantava cedo para rezar, que O encontraram rezando.
No Jardim das Oliveiras ele unia sua angústia à oração ao Pai. Rezava também
oração de seu povo. É muito bela a oração que João relata no capítulo 17 na
oração sacerdotal. Reza pelos discípulos e depois por nós: “Não rogo somente
por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim” (Jo
17,20).
Reza por Pedro: “Simão, Simão, Eis que Satanás pediu para vos peneirar como
trigo; eu, porem orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça” (Lc
22,31-32).
A costura de sua vida continua no alto da cruz quando une Seu abandono na
súplica: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes!” (Mt
27,46). Ali é capaz de rezar o perdão: “Pai,
perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Rezar com o coração
A
oração pode ser lida, repetida, mas deve ser transformada pelo coração. S. Bento
ensina a necessidade de a oração não ser só falação: “Em vão a boca trabalha se
o coração não ora”. E, “a mente esteja em sintonia com a voz”. Diz também que a
oração seja breve. Pai não está aí para ouvir discursos. Mesmo as repetições
que podem parecer monótonas não podem perder a dimensão interior. Nesta costura
do coração com o coração do Pai, a oração estará sempre correspondendo. Não
podemos nos angustiar quando não damos conta nem compreendemos o que ocorre.
Paulo ensina: “Espírito socorre nossa fraqueza, pois não sabemos o que pedir
como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm
8,26).
É o Espírito que une nossa oração ao coração do Pai. Não deixemos de rezar,
pois, sem ela a vida perde a metade de sua grandeza.
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