Rezamos o salmo no qual o fiel
derrama seu coração mostrando sua sede de Deus. Integrado com a natureza, usa a
imagem do animal sedento que se enlouquece pela busca d’água: “Como a corsa
suspira pelas águas correntes, suspira igualmente minh’alma por vós, ó meu
Deus. Minha alma tem sede de Deus e deseja o Deus vivo” (Sl
41,2-3).
Este salmo reflete o sofrimento de um sacerdote do templo que fora afastado para
um lugar distante. Arde-lhe o desejo de estar diante de Deus no templo. A sede
de Deus é a saciedade da alma sedenta. Quanto mais recebe essa água, mais sede
terá para ter mais desejo ainda. É impossível crescer em Deus se não se vive
deste desejo. O desejo é a força da espiritualidade. Esta sede é de Deus e não
de coisas. É tão triste não ter esta sede. É por isso que as coisas criadas não
saciam e não satisfazem. Esta sede de Deus e desejo de tê-Lo, cria em nós
sempre maior vazio para ser mais preenchido e saciado. O povo no deserto,
conforme lemos no livro do Êxodo 17,3-7, estava sem água e murmurava contra
Deus. Moisés bate no rochedo com o mesmo bastão com que abrira o mar. Dali
jorra água.. S. Paulo comenta que a rocha é Cristo de onde sai a água viva (1Cor
10,4).
A sede de Deus que temos é a mesma que Cristo tem de nos dar a água viva, como
lemos no diálogo com a samaritana. Ali está Ele, sentado à beira do poço. Vem a
samaritana buscar água. É Jesus que lhe pede água: “Dá-me de beber!” A mulher
diz: “Se conhecesses o dom de Deus e quem te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que
Lhe pedirias e Ele te daria água viva...” Ela diz: “Senhor dá-me dessa água,
para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir mais aqui para tirá-la” (Jo
4,1-42).
A sede que temos de Deus origina-se na incomensurável sede de amor que Ele tem
por nós
1403. Saciai-nos
de manhã
Jesus,
depois de dar a fé à samaritana, sente-se saciado e repousado, tanto que
dispensa a comida que os discípulos lhe trazem. Quando estamos saciados por Deus
as demais buscas perdem seu domínio sobre nós. É justamente o que diz Jesus ao
Satanás na tentação que sofreu no deserto: “Não só de pão vive o homem, mas de
toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).. É o que vemos
nos santos e nas pessoas desapegadas de tudo e até de si mesmas. Precisam de
tão pouca coisa. Mesmo na espiritualidade podemos estar saciados com bens
espirituais que não sustentam. Vemos nos antigos monges que lhes bastava
repetir o nome de Jesus, ou Senhor, tende piedade! O esvaziamento dá veemência
à sede de Deus. O esvaziamento leva a abrir-se para dar mais espaço: S.
Agostinho diz: Se queres, por exemplo, encher um recipiente e sabes ser muito o que
tens a derramar, alargas a abertura.
Se o alargares ficará com maior capacidade para receber. Deste mesmo modo Deus, com o adiar, amplia o desejo. Por desejar,
alarga-se o espírito.
1404. Direito de
filho.
Nesse tempo de Quaresma temos a
oportunidade maior de nos dedicarmos a buscar a Deus dando espaço a sempre
maior desejo. É preciso dar-se tempo de ficar com o Pai. Não tenhamos medo de
esvaziar nosso interior do desnecessário para que tenhamos o único e que
permanece. É o direito de filho, gastar tempo com o Pai que tem tempo para os
filhos. S. Agostinho continua: “É esta a nossa vida: exercitemo-nos
pelo desejo. O santo desejo nos exercita, na medida em que cortamos nosso
desejo do amor do mundo. Dilatemo-nos para Ele, e Ele, quando vier,
encher-nos-á. Seremos semelhantes a Ele; porque O veremos como é”.
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