Evangelho segundo S. Marcos 6,34-44.
Naquele
tempo, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como
ovelhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. A hora já
ia muito adiantada, quando os discípulos se aproximaram e disseram: «O lugar é
deserto e a hora vai adiantada. Manda-os embora, para irem aos campos e
aldeias comprar de comer.» Jesus respondeu: «Dai-lhes vós mesmos de comer.»
Eles disseram-lhe: «Vamos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de
comer?» Mas Ele perguntou: «Quantos pães tendes? Ide ver.» Depois de se
informarem, responderam: «Cinco pães e dois peixes.» Ordenou-lhes que os
mandassem sentar por grupos na erva verde. E sentaram-se, por grupos de cem
e cinquenta. Jesus tomou, então, os cinco pães e os dois peixes e, erguendo
os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e dava-os aos seus
discípulos, para que eles os repartissem. Dividiu também os dois peixes por
todos. Comeram até ficarem saciados. E havia ainda doze cestos com os
bocados de pão e os restos de peixe. Ora os que tinham comido daqueles pães
eram cinco mil homens.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos
Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
São João da Cruz (1542-1591), carmelita descalço, doutor da Igreja
Cântico espiritual, 2ª recensão (trad. OC, Cerf 1990, p. 1299)
«A hora já ia muito adiantada [...]. Comeram até ficarem
saciados»
O meu Bem-Amado é como a noite tranquila
Semelhante ao nascer da aurora,
A silenciosa melodia,
E
a solidão sonora,
A ceia retemperadora, que inflama o amor.
Na Sagrada Escritura, o repouso da noite designa a visão de Deus.
Tal como a ceia marca a conclusão dos trabalhos do dia e o princípio do repouso
da noite, também a alma saboreia, nesta notícia pacífica de que falamos, uma
antecipação do fim dos seus males e a garantia dos bens que espera. Também por
isto o seu amor a Deus é em muito aumentado. Para a alma, o amor de Deus é
realmente «a ceia retemperadora» que lhe anuncia o fim dos seus males, e que
«inflama o amor», assegurando-lhe a posse de todos os bens.
Para
melhor podermos compreender quão deliciosa é de facto esta ceia para a alma –
pois, como o temos dito, a ceia é afinal o próprio Bem-Amado –, recordemos as
palavras do Esposo, no Apocalipse: «Eis que estou à porta e bato: se alguém
ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e
ele comigo» (Ap 3, 20). Já aqui Ele nos dá a entender que traz a ceia consigo,
isto é, o sabor e as delícias com que Ele próprio Se alimenta e que comunica à
alma ao unir-Se-lhe, para que também esta se alimente do mesmo. É este o sentido
das suas palavras: «Cearei com ele, e ele comigo», e é este o efeito produzido
pela união da alma com Deus: os mesmos bens de Deus tornam-se comuns a Ele e à
alma Esposa, porque Ele comunica-lhos gratuitamente e com soberana liberalidade.
Deus é em Si mesmo esta «ceia retemperadora, que inflama o amor». Ele retempera
a Esposa com a sua liberalidade, e inflama-a de amor com a sua benevolência.
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