O
homem que reza tem um corpo no qual se desenrola a oração. Os gestos, as
posições, os movimentos expressam o interior daquele que reza. Nas Sagradas
Escrituras encontramos a oração que penetra todo o corpo: levantar os braços
como na oração “suba minha oração como o elevar das minhas mãos” (Sl 141,2);
levantar os olhos: “levanto os olhos para os montes de onde me virá o socorro”
(Sl 121,1); prostrar-se: “o rei foi ao templo e prostrou-se diante de Deus”
(2Rs 19,14 ); caminhar: salmos para a subida a Jerusalém: “os meus passos a ti
se estacam diante de tuas porta” (Sl 122,2). Ana ajoelha-se e reza baixinho
(1Sm 1,13); Esdras ficou de pé no estrado e rezou (Ne 8,4); Daniel prostra-se
voltado para Jerusalém (Dn 6,10); Davi dança diante da arca e responde a sua
mulher Micol que o censurava: “Eu dançava para meu Deus” (2 Sm 6,14); Miram
dança cantando a passagem do Mar Vermelho e a libertação dos egípcios: Ezequias
vai diante de Deus, quando recebe a carta do rei inimigo e mostra-a Deus. O
próprio povo vinha em peregrinação a Jerusalém entre cantos e louvores. A maior
oração acompanhada de gesto era a própria Ceia Pascal que conjugava em si
tantos elementos e modos de oração. Os próprios sacrifícios do templo envolviam
grande cerimonial. Nossa comunidade celebrativa é intelectualizada. Esquece-se
a totalidade da pessoa que entenderia melhor o ensinamento. Mesmo na oração
individual ou de pequenos grupos pode e deve envolver o corpo. Somos mais que
corpo e alma coroado das quase infinitas potencialidades.
79. Graduação
da oração
O orante
elabora sua oração em três níveis: palavra, canto e dança. Podemos dizer: ‘você
sabe rezar? Então fale sua oração’. ‘Você sabe falar sua oração? Então cante
sua oração’. ‘Você sabe cantar sua oração? Então dance sua oração’. Santo
Agostinho explicava que quem canta reza duas vezes. Por dança podemos entender
todo o movimento do corpo em oração. Certos cultos e ritos atraem porque respondem
melhor à maneira de ser das pessoas. A oração tornou-se torna elitista. Temos
textos a serem lidos ou decorados. Se prestarmos atenção ao que as pessoas
dizem quando rezam, ou pelos erros, vemos que não entendem o que estão dizendo.
O texto deve ser correto, mas à altura da compreensão, como fazia Jesus que
falava em parábolas. É preciso dar palavras que ao mesmo tempo sejam profundas
e simples. Mais que textos, a oração é uma atitude de abertura interior que é
acompanhada pelo canto e pelo corpo. Os elitismos da oração são causa de
afastamento da Igreja e dificuldades da vida de oração tanto litúrgica como
individual.
80. Rezando
de corpo e alma
É preciso
ter criatividade de buscar novas formas tiradas da cultura levando as pessoas a
se expressarem. A própria liturgia (sem ofender a leis e os ritos) pode ter
muitas formas de participação. Além da catequese litúrgica, que o povo, naquilo
que lhe compete, tome parte pelo rito. Basta conhecer a história da liturgia
romana para ver como é rica em movimento. Nossos exigentes bispos e donos da
liturgia estão contribuindo muito para levá-la de volta ao museu. A liturgia é
como a Igreja: está sempre em reforma para corresponder à ação divina e humana
que ela é. Sem oração que a envolva por inteiro, a vida cristã perde sua
capacidade de transformação do mundo.
http://padreluizcarlos.wordpress.com/
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